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Uma grande vitória poder divulgar o nosso projeto!
A OFICINA DE LEITURA E CRIAÇÃO LITERÁRIA
3A. IDADE CLARETIANAS FOI UM DOS PROJETOS SELECIONADOS PARA APRESENTAÇÃO NO III FÓRUM DO PLANO NACIONAL DO LIVRO E DA LEITURA E NO III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS, EM AGOSTO DE 2010.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Exercícios de escrita sensorial


A oficina desvendou os vínculos entre sensações, sentimentos e escritura. Em seguida, a proposta do exercício: fechar os olhos e se imaginar degustando um de seus pratos preferidos. Comece imaginando o cheiro que impregna a cozinha enquanto a comida está sendo feita, o aroma de cada ingrediente, o sabor específico de cada um. Imagine-se levando cada garfada à boca, a temperatura da comida, as lembranças que evoca. Imagine a pessoa que está servindo a mesa, quem está presente, o motivo pelo qual esse prato foi feito, especialmente. Está comemorando alguma data? É uma ocasião especial?
Escreva sobre o que foi proposto, sem preocupar-se com o gênero: se é poesia, se é um conto ou crônica. Apenas descreva as suas sensações, transforme as lembranças numa invenção, reencontre as suas palavras.

Não existe obrigatoriedade na realização das tarefas, mas os alunos têm demonstrado przaer em participar, partilhar o seus textos, transformando a oficina numa experiência bastante enriquecedora. Esse exercício foi realizado por onze alunos.


Almoço aos domingos - Aurora Ferreira Rodrigues

Almoço aos domingos. Mas hoje é especial, pois é aniversário de meu pai.
Chegada dos irmãos com a família, e o aroma é convidativo. É o bolinho de bacalhau feito pela mamãe, e logicamente queremos prová-lo.
As crianças no quintal, brincando até serem chamadas para o almoço. Mamãe serve os bolinhos de bacalhau e o Bacalhau a Gomes de Sá, que é uma delícia.
Papai nos traz o vinho português (feito pelas minhas tias, em Portugal), engarrafados por nós, ao som de músicas portuguesas e cantadas por meu pai... Que saudade!
Após o almoço, frutas portuguesas e, à tarde, o parabéns a ele, acompanhado de um belo bolo.
Abraços. Desejos de feliz semana a todos e até o próximo domingo.
Que Deus os acompanhe!


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Sopa preta e sopa branca - Maria Inês Mascarin Filier

Ouço o burburinho de pessoas falando, uns estão entrando; outros, saindo. O barulho vem da loja, vem do quintal e, por falar no quintal, ouço as galinhas cocoricando, o galo0 cantando, passarinhos gorjeando, cachorro latindo, crianças brincando, correndo.
Saio da loja e entro na cozinha. Lá está ela, a nona, no fogão de lenha, preparando o almoço para todos nós.
O caldeirão maior é o do feijão e, justo nessa hora, ela está fritando o tempero para colocar no caldeirão, o cheiro é delicioso! Alho e cebola, que, quando ficam moreninhos, ela joga no caldeirão, acrescenta o sal e aquilo recende pela casa toda, pelo quintal, e até os fregueses da loja sabem que a nona está temperando a comida.
- Nona! Dá um pedaço de pão molhado no feijão?
E ela coloca aquele naco de pão num garfo, afunda no caldeirão e me dá. Saio feliz dali, acrescento mais um pouco de sal e vou comendo aquilo como se fosse um manjar dos deuses.
A nona faz bastante comida, mas também, pudera! Somos mais ou menos umas vinte e tantas pessoas que almoçam, e jantam juntas, todos os dias. Somos irmãos, primos, tios, tias, pais, e sempre chega uma pessoa ou outra para fazer parte deste nosso ritual.
Sabe o feijão que sobra do almoço? É transformado, à tarde, numa deliciosa sopa, que nós carinhosamente chamamos de ‘sopa preta’; porque a outra, de legumes, chamamos de ‘sopa branca’.

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O cheiro da torta de maça - Rosemarie B. Grassmanm Bóbbo

Escrevia-se o ano de 1938. Vejo uma enorme cozinha. E, nela, reinando, Emma – prata de nossa casa em Liebenfelde – considerada membro da família, pois ela já vira meu pai nascer, em 1898.
Era um belo sábado de maio, tudo estava florido e a natureza se recuperava, célere, de um inverno muito frio e com muita neve.
Mamãe, como esposa de pastor luterano, reuniria, naquela tarde, as esposas dos presbíteros para um estudo bíblico, oração e cantos de louvor a Deus. Meu tio, também pastor, acompanhava mamãe ao violino, enquanto ela tocava piano.
Na cozinha, Emma preparava deliciosas tortas e, entre elas, minha querida torta de maça. Pois, antes que as senhoras se retirassem, havia sempre uma meia hora de kaffee und kuchen (café com bolo).
Mas... Criança não tomaria parte nisso. Era o modo de educar os filhos, naquela época, e, agora, concordo plenamente. Portanto, eu comeria o que sobrasse.
A certa altura, ouvindo as senhoras conversarem animadamente na sala de jantar, animei-me a dar uma espiadinha através da porta levemente entreaberta. A ver a quantas ia a vida de minha querida torta de maça.
E, qual não foi meu pavor, ao verificar que uma das senhoras apanhava a espátula recostada ao prato que continha, ou, melhor dizendo, havia contido a torta de maça, querendo servir-se do último pedaço (essa espátula, nós a usamos até hoje).
Não consegui conter-me e gritei, apavorada:
- Mutti, mutti! Sie nimmt sich auch das letzte stuckhen!
- Mamãe, mamãe! Ela está se servindo do último pedaço!
Primeiro, um susto das senhoras! Depois, mamãe dando explicações. E, depois, todos rindo, e a senhora me levando até à porta, aonde eu ainda continuava em pé, o prato com o último pedaço de torta de maça.
É minha recordação mais remota referente à comida. Mais degustação do que cheiro.

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Doces lembranças - Silvia Ap. Cristofoletti Galvani

Só agora, tantos anos passados, tento passar para o papel as lembranças de momentos marcantes que vivi quando adolescente.
Não havia muro ou cerca separando as casas de meus pais, de meus avós e tios. Um espaçoso rancho unia as duas residências. Era nele que, todas as tardes, as mulheres estavam sempre ocupadas com a costura, com ‘passar as roupas’, ou fazendo pequenos consertos. Exigiam, ainda, que as ‘meninas’ ficassem por perto, para que aprendessem as tarefas do dia-a-dia.
Em dias chuvosos, gostávamos de ver as fotos da família, que vovó tão bem guardava numa caixa de madeira pintada com motivo barroco. Era divertido olharmos os retratos dos antepassados, enquanto sentíamos o aroma do café passado pelo coador de pano e dos deliciosos bolinhos salpicados com açúcar, canela e muito amor.
Saboreávamos essas iguarias, vendo a chuva cair mansamente nas folhagens, bem à nossa frente, encostadinhas no muro do vizinho.
Hoje, ao comermos alguma guloseima feita em casa, minha filha Andréia diz ter o ‘gosto do armário da avó Vitória’. Comparação, esta, que até agora não soube explicar. Mas, os bolinhos de minha avó tinham gosto de saudade!

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Aconchego - Célia Maria Cestaro Christofoletti

As tardes de outono são deliciosas. O clima ameno, o céu de um azul límpido, quase sempre sem nuvens, e um pôr do sol resplandecente.
Curto as tardes de outono, mas me reporto aos meus tempos de menina, quando era mais tranquilo andar pelas ruas e usufruir toda beleza, toda paz do cair da tarde.
E, no meu passeio, nessas tardes, era possível sentir os odores da preparação do jantar que vinham do interior das casas. Minha imaginação chegava ao recôndito dessas moradias e sentia a vida, ali, acontecendo.
Algumas vezes, passei pelo pequeno portão, sem travas, da casa de minha avó. Atravessava o corredor e chegava até à cozinha. À mesa, fumegante e cheirosa, uma terrina de sopa, lingüiça frita e muito pão, como manda a tradição da família italiana.
Era bom juntar-me aos meus tios e primos ao redor daquela mesa! Sentia-me orgulhosa e feliz por estar entre os meus. E o que ficou na minha memória não foi o sabor dessa refeição, mas delícia do momento, o amor traduzido num prato de sopa quentinha, suculenta, generosa.
Lembro-me da felicidade de minha nona. Da mesma forma, na casa de meus pais, a felicidade de minha mãe ao ter os seus reunidos para o jantar, depois do trabalho, da escola, enfim, dos afazeres que, findos, nos levam de volta para casa ao término de mais um dia.
Hoje, ao passarmos pelas ruas, não é mais possível sentir os odores da preparação do jantar no interior das residências e, talvez, a reunião em volta de uma mesa fique restrita aos finais de semana. Os rituais são outros, mas a força do amor permanece.
Estamos sempre voltando, ou esperando a volta daqueles que amamos. E o aconchego tem cheiro, cor, sabor, calor...

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Galinha ao molho pardo regado ao amor de Emília e Faustino -

Antonio Moreira

Inicialmente, esclareço: não tenho qualquer habilidade gastronômica. Entretanto, sempre apreciei um prato bem temperado, feito por amador, profissional, ou em nossa casa.
Notadamente, se a iniciativa da comidinha partia, anos atrás, da minha avó Emília, alma gêmea de Faustino, casal dos mais lindos que habitaram a Terra dos Homens.
Quando criança, eu, meus pais e irmãos, íamos, geralmente às quartas-feiras, a Bonsucesso e a Santa Maria, saborear a gostosa e inesquecível ‘Galinha o molho pardo’, cujo tempero tinha um toque espanhol,pois Emília era descendente da bela e querida nação de Carmem de Bizet e Cervantes.
Para complementar o prato delicioso, de que todos gostávamos, minha avó mandava fazer um feijão superincrementado, eu diria requintado, apesar da simplicidade que sempre nos caracterizou, além do cuscuz de milho (puro), branco ou amarelo. Isto, sem deixar de providenciar, paralelamente, um franguinho igualmente gostoso, tudo ao som do barulhinho das crianças.
Bonsucesso e Santa Maria, fazendinhas vicinais de nossa propriedade, tinham como pano de fundo o Morro do Bonsucesso, que ornava de rara beleza a região que encanta a todos, inclusive a Glauber Rocha, que lá rodou um deus seus filmes – “Terra de Sangue”.
Aliados àqueles encontros festivos e santos, havia os elementos maiores: Deus e o amor de Faustino por Emília, objeto de comentários em toda a região.
A ‘Galinha ao molho pardo’, comida preferida de toda a família - Moreira, Sérgio, Ferreira – era uma festa ao nosso paladar e ao nosso espírito. Eis que também tinha, como condimentos maiores: amor, harmonia, afeto e carinho indescritíveis. E Deus, sempre generoso com Emília e Faustino, concedeu-lhes, além da magia de um amor transbordante, uma existência quase centenária!

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Encontro e despedida - Geni Deolinda Bizzo

Finalmente, chegou o tão esperado momento. Luiz está radiante. Adeus escola, livros, discussões, leis, caminhos que se tornaram maiores e mais cheios de obstáculos durante esses trinta anos. Cada palmo de seu chão passa na tela mental como em um flashback. Árvores frondosas e floridas deram lugar aos prédios. Casas antigas foram tombadas – literalmente – para dar lugar a gigantes e imponentes viadutos. A tão sonhada aposentadoria chegou. E, com ela, sentimentos confusos do dever cumprido, cansaço e um vazio enorme com a expectativa de novos dias.
Bem, mas não é momento para saudosismos ou tristezas, mas para comemorações. Meu querido e inseparável amigo Luiz me abraça efusivamente e me pede para escolher um local aconchegante para brindarmos esse momento especial. Não tenho dúvidas. Escolho o Yokohama, restaurante japonês onde tantas vezes estivemos para trocar idéias e fazer confidências.
Mas hoje será diferente. O sentimento de alívio, aliado à saudade que sentiremos, promete uma noite inesquecível. Quero sentir cada segundo. Fechando os olhos, vejo-me estacionando o carro sob a luz das lanternas coloridas que iluminam o jardim entre as pedras que servem de esconderijo para as carpas – parecem-me – gigantes para espaço tão pequeno.
Na chegada, o ar fresco de aroma agradável impregna nossa alma. Ao atravessarmos a pequena ponte em arcos e cercada de bonsais, percebo que o perfume da vegetação verdinha toma conta de mim e me deixo levar pela emoção.
Elegantemente vestidos para a ocasião, fomos recebidos por uma jovenzinha – eu diria uma gueixa – que nos acomodou num ambiente aconchegante: meia luz, meia voz, música suave, gestos delicados, sintonia perfeita que o momento pedia.
Atmosfera perfumada. Toalhinha quente em um saquinho para a higiene das mãos. Viajo. Vejo-me levada por fortes samurais para uma aldeia cercada de colinas verdejantes onde, no tatame improvisado, tenho aula de artes marciais. A leveza dos gestos, o respeito ao adversário, as regras, a disciplina rígida dispensam o conhecimento do idioma.
Respiro fundo. Olho para meu amigo, que tem os olhos marejados. Emoção... A separação é inevitável e, por alguns segundos que parecem eternidade, ficamos sem palavras, só observando cada detalhe da mesa cuidadosamente preparada. Vaso enfeitado com flores e frutas combinando com as louças. Guirlandas envolvendo os copos, pétalas de rosas sobre a toalha vermelha e branca...
Meu devaneio é interrompido pela gentil garota que nos traz o cardápio. Aceito a sugestão do meu amigo. Não era o mais importante naquele momento. Para entrada, sushi e sashimi não são novidades para nós, acostumados no trato com hashis, wasabis e shoyu.
No antegozo da espera, vislumbro as mãos ágeis e delicadas no trato com os alimentos do sushiman, de rapi muito limpo e com a faixa envolvendo a cabeça. Tudo especial: os apetrechos de cozinha, o ritual na confecção de cada prato. A concentração no trabalho esconde, com certeza, a saudade da terra distante, os familiares nunca mais vistos, coração dividido numa mescla de sentimentos que o amor à nova pátria e a miscigenação favorecem. A aproximação da garota com jeito de gueixa me tira da cozinha. Vestida a caráter, quimono colorido em tons de vermelho e branco, cor preferida dos orientais, o gracioso coque preso com grandes grampos, uma bela aparição...
Como é um dia muito especial e com sabor de despedida, curto cada segundo. Percebo cada detalhe e não me escapa o olhar triste da garota que, com um sorriso contido, parece esconder um sentimento que teima em se mostrar. É um olhar distante... Será um amor não correspondido? Alguém cuja espera se faz longa demais? Talvez seja paranóia minha numa transferência de um sentimento que é só meu... Lentamente nos servimos, medindo cada gesto. Sentindo o aroma gostoso dos pratos cuidadosamente decorados.
Pouco nos falamos, não há necessidade. Degustamos os alimentos em silêncio, envolvidos pela atmosfera reinante. Como prato principal, peixe guarnecido com legumes coloridos. O sabor característico, a leveza dos alimentos, a morosidade no trato com os hashis favorecem a concentração e a harmonia que o ambiente e a ocasião propiciam. Sensações confusas. O tempo passa vagarosamente... Ou corre demais? Há um misto de alegria e saudade antecipadas.
O chá verde digestivo de frutas e flores completa a noite. Tudo perfeito, não fosse a lágrima que teima em se fazer presente, mesmo sem ser convidada.

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Aromas na lembrança - Adelaide Dalva Tivelli Garbuio

Posso, com carinho, relembrar as coisas que minha mãe fazia aos sábados. A coisa de que mais gostávamos, as roscas que, depois de assadas, eram pinceladas com um pouco de açúcar mascavo.
No almoço, gostávamos de pastéis. Aos domingos, mamãe fazia o macarrão com tomates picados. Era muito importante que todos estivessem à mesa. Meu pai sempre agradecia a comida e meus irmãos respeitosos, jamais sentavam-se para as refeições portando chapéus ou sem as camisas, pois a mesa era abençoada e todos tinham amor aos alimentos.
Não tínhamos refrigerantes, as refeições eram acompanhadas da boa água do poço, que ficava no quintal.
Lembro-me de minha mãe cantando: “... a água a cantar: chuá, chuá, o rio a correr, chue, chue...”. O meu irmão, Waldemar, tocava violão. Fomos uma família feliz. Meu pai se chamava Alfredo Tivelli e, minha mãe, Filomena Somaio.

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Canarícules - Marinalda Codo

Fechar os olhos... Como se precisasse, para lembrar algo tão agradável. A recordação corre solta pela minha mente e começo a me lembrar da história dos famosos canarícules que mamãe fazia.
Ainda criança, minha única preocupação era a de comê-los, apenas isso, sem me importar com o seu significado ou com o trabalho que dava para fazê-los.
E como era gostoso simplesmente comer, comer e comer, pois eram feitos em grande quantidade.
Com o passar do tempo, mamãe começou a convidar a sua irmã mais velha para vir em casa e ajudá-la no preparo dos canarícules. A titia vinha e as duas passavam a tarde toda a prepará-los e eu, é claro, só chegava na hora de comer, comer e comer.
O tempo passou mais um pouco, e mamãe foi para o céu, com suas mãozinhas de fada e com todos os seus conhecimentos. E agora? Comer, comer e comer o quê?
Veio, então, uma grande idéia; convidei a titia, já bem velhinha, algumas amigas e uma prima também, para que juntas pudéssemos fazer o tal canarícules.
Titia apenas nos orientava, sentadinha na ponta da mesa. Nós colocávamos a mão na massa. Desta vez, eu fui anotando passo a passo a minuciosa confecção dos famosos canarícules.
Tão grande foi a minha surpresa que, modéstia a parte, me sai muito bem e, assim, aprendi a herança da família com titia, que, com suas mãos hábeis, nos dizia qual era o ponto da massa, como fritar e colocar no mel, tudo num ambiente da mais pura alegria e descontração.
Foi quando passei a entender o verdadeiro significado que tinha fazer os canarícules. A união, o entrosamento, a alegria e a satisfação quando, ao dar um pouco para alguns poucos vizinhos, poder dizer: “fui eu quem fiz”... E não apenas comer, comer e comer.
O tempo foi passando e, por mais alguns anos – dois ou três – eu reunia essas pessoas em minha casa para fazermos os canarícules, sempre no mesmo ambiente alegre e divertido, no qual eu podia ver os olhinhos da titia brilharem de felicidade e, dessa forma, ela me passou a herança da família.
Hoje, já sem titia, ao fechar os olhos e me lembrar de todos aqueles momentos e colocar este relato no papel, eu me lembro sim, claramente, de tudo. Mas, o que ficou, o sabor que tem, eu só posso dizer que tem o sabor de uma grande saudade, com temperos de muita paz, alegria e agradecimento por ter tido a oportunidade de aprender com titia o que não aprendi com mamãe.
Agora, fazer novamente, reunir os amigos, a minha prima, mas sem a titia, confesso que ainda não tive coragem.

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Lembranças saborosas - Iandara Palmero

O que me faz lembrar de algum fato envolvendo comida e sabores, até hoje, é uma grande lembrança dos domingos de minha mocidade. É gosto, cheiro e sabor de macarronada! O molho feito com tomate e pedaços de carne, o frango assado e a maionese.
Lembro-me, também, dos dias de chuva, nos quais minha mãe fazia questão que tomássemos café da tarde com bolinho de chuva e muitas outras coisas que só minha mãe – que foi uma mãe amiga, companheira e confidente – é que me faz lembrar, com muito amor, carinho e saudade.
Mas é uma saudade gostosa, feliz, por ter tido esta oportunidade em minha vida.




































domingo, 16 de novembro de 2008

Primeiro Exercício



Esse primeiro registro é fruto de uma dinâmica na qual os alunos foram divididos em dois grupos. O grupo A deveria fornecer ‘Palavras-Problema’ e o Grupo B ‘Palavras-solução’, sobre o tema Meio Ambiente. As palavras (ou conceitos) foram anotadas e os alunos produziram os textos com base nessas palavras. No dia da leitura dos textos, é sempre muito agradável observar como os alunos interagem, apreciam os trabalhos uns dos outros, complementam idéias, criando um ambiente construtivo de aprendizagem.
Imagem: Cataratas do Iguaçu
(foto feira por mim, em março de 2007)




A parcela de cada um - Regina Claret Kapp dos Santos

Se olharmos ao redor, para o mundo em que vivemos, iremos nos deparar com uma situação preocupante: poluição do ar, agressão à camada de ozônio, devastação e queimadas de florestas, lixo cumulativo, desperdício de água e energia elétrica, caça e pesca predatória, isto em relação ao meio ambiente e ao que ele nos oferece.
Poderíamos, ainda, lembrar em nível dos seres humanos: desigualdades sociais, miséria, descaso com a saúde pública, falta de educação e segurança, a desintegração das famílias, desemprego, abandono de crianças, etc.
Tudo isso nos leva a questionar:
- Temos alguma parcela de culpa em toda esta situação?
- Mudando de atitudes, poderemos, ainda, pensar em reverter a situação?
A meu ver, sim!
A parcela da colaboração de cada um, a partir da consciência de compromisso mútuo, social e atuante, num processo educacional permanente, com a participação dos agentes políticos, tudo poderá transformar-se, não de imediato, mas aos poucos.
Através do tratamento e bom uso da água, do reflorestamento constante, da reciclagem do lixo, do cuidado com os animais, da sensibilidade para criar oportunidades de crescimento para as classes menos favorecidas, oportunidades de trabalho, de formação educacional, do cuidado preventivo e permanente com a saúde de todos, desde a concepção, gestação, nascimento e crescimento de cada ser, proporcionando dignidade e bem estar por toda a sua vida, até chegar a uma velhice estável e respeitada.
O tempo não pára. O momento presente nos preocupa, sim, mas quer nos desinstalar para fazermos a nossa parte; o nosso futuro, e de nossos descendentes, está aqui e agora: em nossas mãos!


Poluição Visual - Silvia Galvani

Quando o assunto é poluição, dificilmente as pessoas se lembram da poluição visual. Mas, o que é poluição visual? Em áreas urbanas, é a proliferação indiscriminada de outdoors, cartazes, formas diversas de propagandas e outros fatores que causam prejuízos estéticos à paisagem urbana local.
Diariamente, deixam em nossas casas os mais variados tipos de propagandas, que, se não recolhidas de imediato, o vento se encarrega de espalhá-las pelas ruas e avenidas, e enfeiam a nossa cidade.
O que não dizer do lixo que pessoas mal educadas jogam quando passam de carro ou passeiam, despreocupadas, olhando as vitrines, ou ainda, nos pontos de ônibus?
Dias atrás, esperava pelo ônibus, num ponto central e de grande movimento, quando deparei com toda espécie de sujeira deixada debaixo do banco - ali colocado para que os usuários dos coletivos não se cansem, ao esperar por eles. Não vi nenhum recipiente onde pudessem colocar toda aquela imundície. A moça encarregada da limpeza, pedindo licença, varria os restos ali esquecidos.
Poderia, ainda, citar outros fatores causadores de poluição visual, como bem mostra a foto que ilustra essa crônica, tirada para trabalho escolar, e que retrata o lixo colocado pela vizinhança muito antes do horário previsto para recolhimento.
É preciso que uma mobilização de todos os cidadãos e governantes, cada um fazendo a sua parte, conscientizando as pessoas sobre seus direitos e deveres. Só assim, nossa cidade será um belo cartão de visitas para os que aqui chegam.


Meio Ambiente - Natália Genari Krügner

Além dos problemas pessoais, familiares e outros, ainda temos problemas ambientais, com os quais convivemos diariamente.
Quem causa tais problemas? Já parou para pensar quantas vezes poluímos o meio ambiente, do qual dependemos para viver?
Vejamos: você devasta a mata, tira madeira da sua “Floresta”, coloca fogo onde não deve?
Claro que não!
Mas, certamente polui o ar com aerossóis, com fumaça de cigarro, pisa na grama, joga lixo nas calçadas e outros lugares públicos, pela janela do carro; gasta mais água do que deveria, não utilizando esse recurso de modo adequado, entre outras coisas.
Já parou para pensar? Então, pare agora. Comece a agir com consciência, se reeducando e, melhor ainda, sendo um bom exemplo para todos os que utilizam o mesmo ambiente que você!
Concluindo, nós nos vangloriamos em estabelecer regras, mas as esquecemos muito rapidamente e violamos as mesmas.




“Eu só peço a Deus que o futuro não me seja indiferente” - Célia Maria Cestaro Christofoletti

Quando leio notícias sobre agressão violenta ao meio ambiente, como a devastação de grandes áreas de florestas, a mortandade de peixes, porque os rios estão tomados pela poluição. Quando vejo noticiários que falam de enchentes e pessoas sofrendo as conseqüências desse descompasso entre progresso, prevenção e cuidado temo pelo futuro.
Pelo amor que tenho à vida, à natureza, à humanidade, não posso ficar indiferente ao futuro que nos espera. E, penso que a tristeza e a indignação não bastam. É preciso ATITUDE.
Se, na minha rotina diária, evito desperdício de água, fico atenta ao uso e abuso de embalagens, se reciclo o lixo doméstico, se converso com as pessoas, trocando idéias sobre como contribuir para melhorar o meio ambiente, estou tendo ATITUDE.
Mas, sinto que é preciso mais, e estou pronta a dar esse passo. Procuro estar sempre informada e atenta ao tema, procurando envolver outras pessoas nessa caminhada.


O Ontem e o Hoje - Licia Mônaco Perin

O trem sacolejava e batia como um martelo em minha cabeça. Que dureza! Só a lembrança da beleza das belas praias de Santos amenizava o mal-estar que me embrulhava o estômago, provocando náuseas. Que dureza!
Olho para a paisagem que passa devagar. Linda! Verdinha, verdinha! Levava-me a sonhar acordada. É fácil, aos doze anos, ser personagem dos livros de Tarzan: já no quintal de casa eu ‘exercitava’, pulando de galho em galho, na velha goiabeira.
O cheiro da mata vem até mim – é do sonhar, ou é real? Olho novamente pela janela do trem: sem clareiras de destruição a mata impera, magnífica! Uma ou outra casa de caboclo, rodeadas de palmeiras, sem lixo, sem poluição do ar, Fogo? Nem vestígio.
Hoje, sessenta e seis anos depois, cadê a mata? A singeleza da convivência primitiva do ‘caipira’ se foi. Indústrias ocuparam o lugar do verde, a fumaça esconde as nuvens que, antigamente, brincavam ao sabor do vento. Sumiram as pequenas cachoeiras.
Que alto o preço a pagar pelo progresso! Desmatamento, lixo, água e ar poluídos. Meu estômago se embrulha, outra vez. E não foi pelo balanço do trem! Que triste, pertencer à espécie humana!


Lembranças da vida na fazenda - Adelaide Dalva Tivelli Garbuio

Nasci em Analândia, que, na época, fazia parte do município de Rio Claro. Sou filha de italianos; meu pai se chamava Alfredo Tivelli e minha mãe, Filomena Somaio. Nasci na Fazenda Santa Glória, onde meu pai trabalhava como administrador.
Após o nascimento de meus irmãos e irmãs, meus pais compraram uma chácara em Analândia que, naquela época, era chamada de ‘Anápolis’. Éramos quatro irmãos e quatro irmãs.
Quando vivíamos na chácara, começamos a ir à escola, todos aprendemos a ler e escrever.
Na frente da chácara, passavam os tropeiros, que sempre eram acolhidos, de forma hospitaleira, pelo meu pai, Alfredo. Depois eles seguiam para a Fazenda Santa Maria da Glória.
Relembro que, o comerciante de Analândia, naquela época, era o Sr. Emílio Beltrati, cuja família vive até hoje em Rio Claro.
Recordo, também, o nome da escola que freqüentávamos, eu e meus irmãos: Escola José Neto. Lembro-me que levávamos os lindos caquis que frutificavam em nossa chácara para a escola, e os trocávamos por pão, com os colegas. A professora, chamada Alice Beluzzo, gostava muito dos caquis.
Guardo a lembrança dos meus irmãos tocando violão, no moinho de fubá, assim ouvíamos as músicas do nosso tempo. Meus avós, Adriano e Marietta, estiveram juntos a nós até que Deus os levou.
Essas recordações ainda estão no meu pensamento. E me dão certeza de que fomos muito felizes.


Bacia Hidrográfica do Corumbataí - Rosemarie Brunhild Grassmann Bobbo

Você, homem, mulher ou criança, é obra-prima do Criador. Que o fez guardião da Terra.
Este planeta é a sua herança, bem como seu legado. Envolvendo-o com paz, inundando-o com amor, preserve sua natureza, que Deus criou para você valorizá-la com seu serviço.
Proteger e defender o meio ambiente consiste em diminuir o sofrimento, cuidar da saúde e salvaguardar as espécies de plantas, aves, animais em geral, e de toda a raça humana.
Um pequeno exemplo: a bacia hidrográfica do Rio Corumbataí. Ela se localiza na porção centro-leste do estado de São Paulo, abrangendo os municípios de Analândia, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Charqueada, Rio Claro, Santa Gertrudes e Piracicaba.
Possui uma área de 170.775,6 hectares; são 63,72km de extensão, no sentido norte-sul, e 26,80km de extensão no sentido oeste-leste. Seus principais rios são: Corumbataí (130 km de extensão); Passa-Cinco (60 km); Ribeirão Claro (43 km) e Cabeça (28 km).
Suas águas servem para o abastecimento de cerca de 600.000 (seiscentas mil) pessoas, sendo 100% do abastecimento de Rio Claro e Piracicaba. Estes rios se encontram assoreados, com excesso de areia em seus leitos, ocasionado pela falta de mata ciliar em suas margens. Assim, partículas de solo são carregadas pelas águas das chuvas até os leitos dos rios.
Os rios Ribeirão Claro e Corumbataí, além de assoreados, encontram-se com lançamento de esgoto in natura. Isto é, são resíduos sólidos e líquidos, oriundos de indústrias e de residências, além de parte do lodo produzido nas estações de tratamento de água (ETA), os quais são lançados nos rios criminosamente.
Calcula-se que a bacia hidrográfica do rio Corumbataí possua, hoje, um déficit de sessenta e três milhões de árvores nativas, o que corresponde a uma área aproximada de trinta e sete mil hectares.
A precipitação média, anual, entre 1973 e 1999, foi de 1.055 mm, e a vazão média mensal do rio Corumbataí, após receber todos os seus afluentes, foi de 15,9m3/segundo. A máxima vazão mensal foi de 168m3/segundo, conforme informações que datam de 1995.
Dados do ano 2000, sobre o uso e cobertura do solo na bacia hidrográfica do rio Corumbataí mostram que, do total de 170.777,6 hectares, 25,5% estão ocupados por cana-de-açúcar; 43,6% estão ocupados por pastagens; a área urbana ocupa 2,74%; a floresta plantada ocupa 7,3%; a floresta nativa ocupa 11,1% e o cerrado 1,2%.
Frase Indígena:
“Depois que a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for envenenado, vocês perceberão que o dinheiro não se come.”


“A natureza não perdoa nunca” - Geni Deolinda Bizzo

Na minha infância, era comum formarmos uma roda em frente à casa de madeira onde um gramado amaciava nossos pés descalços para ouvirmos nosso pai que, apesar do pouco estudo, nos transmitia muita sabedoria.
Sob a luz da lua, ou quando a dama da noite teimava em se esconder, sonhávamos com um futuro risonho que naquele momento nos parecia longe demais. Observávamos isso porque meu pai, nessas prosas, às vezes desanimado com os rumos do nosso país, gostava de citar o baiano Rui Barbosa em sua poesia (mais atual do que nunca) Sinto Vergonha de mim que, em seus versos finais, diz: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra a ter vergonha de ser honesto”
Vai longe esse tempo, mas parece que foi ontem.
Dia desses, zapeando na TV, chamou-me a atenção um vídeo do conhecido – mas não reconhecido – poeta e compositor Rolando Boldrin que, com sua bela interpretação e muitas lágrimas, apresentou esse poema famoso.
A apresentadora do programa, aproveitando a brecha, desfiou um rosário de queixas para seu auditório fiel, e fez-se porta-voz de muitos brasileiros que não conseguem verbalizar sua revoltas, mas que sentem na pele os desmandos dos nossos governantes.
Fiquei meditando e, a princípio, achei mais uma ação oportunista comum nesses programas. Depois, pensando bem, concluí que essa é uma maneira do povo de se manifestar (são os fins justificando os meios). Felizmente estamos numa democracia e podemos soltar nossa voz, fazer valer nossos direitos. Não é uma tarefa fácil, mas estamos nos engajando mesmo que timidamente.
Várias questões são levantadas nos debates promovidos pelos meios de comunicação ou em reuniões de representantes das várias camadas sociais. Um assunto recorrente é o meio ambiente, pelo qual tem-se feito muito pouco. O que se vê, na verdade, é uma distância entre intenção e gesto.
Poluição é um problema. Todos concordam, porque sofrem seus efeitos. Entretanto, medidas simples, como reciclagem de lixo, uso adequado da água, plantio de árvores, pesca não predatória, combate às queimadas, proteção da camada de ozônio deveriam fazer parte de ações individuais e coletivas, mas em direção das quais poucos se predispõem a dar o primeiro passo. Ações como essas, que nos permitiriam uma convivência harmoniosa e respeitosa com a mãe natureza, ficam só no discurso (cortam-se árvores simplesmente porque fazem sujeira).
Nós interferimos no curso da natureza e ela nos cobra. Agir para uma educação eficiente, erradicar a miséria material e moral, exigir dos nossos representantes postura mais efetiva são coisas que devemos fazer com urgência.
Estamos enfrentando desafios de viver no século XXI. Vamos lutar, mas não com as armas que conhecemos nas mãos dos fora da lei. Combater o bom combate, como diz o Apóstolo dos gentios Paulo de Tarso. Vamos usar nossa voz, nossa indignação, soltar o grito oprimido na garganta, através do voto que a democracia nos confere.
Vamos contrariar Rui Barbosa e queira Deus que ele possa, onde estiver, descansar tranqüilo e não mais sentir vergonha de ser honesto.

Reflexão: Deus perdoa sempre, o homem perdoa às vezes. A natureza não perdoa nunca.