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Uma grande vitória poder divulgar o nosso projeto!
A OFICINA DE LEITURA E CRIAÇÃO LITERÁRIA
3A. IDADE CLARETIANAS FOI UM DOS PROJETOS SELECIONADOS PARA APRESENTAÇÃO NO III FÓRUM DO PLANO NACIONAL DO LIVRO E DA LEITURA E NO III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS, EM AGOSTO DE 2010.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Oficina: Sermão aos Peixes

Estudamos a obra de Antonio Vieira - Sermão aos Peixes. Foi uma experiência deliciosa, pois alguns alunos já conheciam, mas a maioria não tivera contato anterior com essas belas páginas literárias.

Propostas de exercício:




1) Escrever um texto alegórico, destacando a qualidade de um animal em comparação com o homem. Pode ser o cão, pássaros, ou qualquer outro animal.

2) Escrever sobre os olhos como sentinelas – observar as coisas e extrair lições delas, fazemos isso?

3) Escrever sobre um exemplo de “falsas iscas que nos enganam” e prejudicam nossa qualidade de vida, nossa visão de mundo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Conversa no Jardim



Debaixo do caramanchão florido, olhos semicerrados, negras madeixas beijadas pelo vento, a menina parecia dormir. As cores pálidas da madressilva exalavam perfume suave, combinando com a simplicidade dos pequenos buquês mesclados de vermelho e branco.
O silêncio da tarde só era quebrado pelo nhec-nhec do balanço que lhe serve de moldura. Como que a compor esse quadro campestre, seus companheiros vão chegando: uma lagartixa que corre, um beija-flor que se farta de néctar, uma salamandra que se agarra a um tronco, um gatinho ronronando que se espicha no seu colo. Uma libélula traça filigranas no ar, depois assenta-se rapidamente nas águas tranquilas do lago sereno logo à frente.
Em meio a isso tudo, as flores que compõem esse lugar mágico põem-se alerta: algumas abelhas aproximam-se perigosamente, atraídas pelo doce da calda do picolé que a menina distraidamente deixara derretendo, vencida pelo sono. Diligentemente, cuidaram de desviar a atenção das pequenas voadoras, antes que um movimento involuntário da menina provocasse um acidente.
Passado o perigo, as flores voltam a fazer o que mais gostam, neste éden encantado: filosofar. Sim. Qualquer acontecimento era motivo de grandes e acaloradas discussões entre elas, num debate que, às vezes, se estendia até quase o crepúsculo.
O assunto desta manhã fora justamente provocado pela menina. Por que, indagavam elas, a garota insistia em manter os olhos fechados, mesmo frente ao perigo iminente? O girassol, achando-se o máximo, colocou-se como mediador. Afinal, que outra flor teria sua capacidade de acompanhar com o olhar o caminho trilhado pelo deus-sol? E propôs que a discussão abordasse as diversas formas de se comportar dos humanos, com seus diversos “olhares”.
Maria-sem-vergonha, aparecida como sempre, foi a primeira a falar:

— Tenho umas parentes que vicejam em um campinho de futebol. Elas me contam tudo o que acontece com os humanos que frequentam aquele lugar. Digo de cadeira: As pessoas não vão lá só para se divertir e praticar esporte. Muitos deles estão à espera de que alguém os veja. Mas não é um alguém qualquer. Chamam a ele “olheiro”, uma pessoa que vive de caçar talentos. Os jogadores esperam uma oportunidade de ser convidado para treinar em grande time e, para isso, não perdem a oportunidade de se exibir, mostrado seus conhecimentos de futebol. Os olheiros funcionam como uma espécie de instituição, que capta talentos esportivos em todo o mundo.
A ninféia quase não deixa a colega terminar. Emendou:
— Você falou em olheiro e me fez lembrar. Vivo na água, vocês sabem. Em um lago, é bem verdade. Mas sei tudo sobre o mar. Certa vez, estava um grupo de pescadores conversando e um deles contou sobre a pesca artesanal de tainhas, iniciada pelos colonizadores açorianos lá pelos idos de 1692, quando chegaram à ilha. E sobre o trabalho de “olheiros” também. Por isso me lembrei.
E continuou: — Por volta das quatro da manhã, esses homens sobem aos costões do mar para espreitar a chegada dos peixes e informar aos pescadores que aguardam na praia a exata localização dos cardumes e a hora certa para iniciar a pesca.
— Pois eu vejo o olhar por outro ângulo.
Todas as demais flores calaram-se. Era a espada de são jorge, com suas voz tonitruante, porte militar, postura ereta, fardas engomadas, a impor o respeito de todas. Aproveitou o silêncio que se fez para continuar:
— O assunto faz-me lembrar os filmes da idade média, assunto da conversa de dois jovens neste mesmo balanço em que descansa a garotinha. Diziam eles que os comandantes das armadas dos grandes castelos medievais colocavam sentinelas ao redor de toda a muralha.
— E é do olhar atento daqueles soldados que dependia toda a segurança do castelo, completou a espada de são jorge.
O girassol, do alto de sua magistratura, a tudo acompanhava, com ar de superioridade, fingindo a tudo entender, para disfarçar a sonolência que tanta informação produzia.
No pequeno vácuo que se fez, a camélia criou coragem. Mesmo sem querer se exibir, disse:
— Nós, camélias, somo o símbolo dos abolicionistas. Servíamos de senha para identificar os cavalheiros abolicionistas e, com isso, ajudar os negros fujões.
— Mas o que isso tem a ver?, apartou o mal-me-quer, com o humor ácido que lhe é peculiar.
— Você não sabe? O olhar atento dos escravos buscava jardins das casas onde houvesse um pé de camélia, sinal de compromisso com a causa.
A orquídea, com as pétalas ainda respingadas pelo orvalho que o sol não secara, ouvia em silêncio. Achava tudo aquilo interessante, mas entendia que era hora de mudar o rumo da prosa, como costumava dizer. Ela, que já havia sido palco de inúmeras experiências de cruza, dizia-se esperta em assuntos visuais. E, querendo imprimir um ar mais científico à conversa, iniciou seu discurso:
— O olho é o dispositivo mais engenhoso da natureza. Em princípio poderíamos compará-lo a uma câmara fotográfica. A objetiva da câmara equivale à córnea, as pálpebras encarregam-se de mantê-la limpa, clara e livre de tudo que possa turvá-la. Ambos os olhos se movimentam coordenadamente para que possam seguir o objeto observado. Apesar de sua importância, nem todos têm o cuidado devido com seus olhos e não valorizam o sentido da visão em toda sua magnitude.
O girassol, agora já meio cansado, dizia, com a voz a trair um certo enfado:
— O próximo, por favor.
A rosa, que esperava silenciosa e pacientemente sua vez, naquela manhã estava especialmente mais linda ainda, deslumbrante mesmo. Com toda sua ternura mística, propôs-se a falar do olhar sob um novo enfoque: o olho na simbologia. E começou:
— O olho, órgão da percepção visual, é reconhecido quase que universalmente como o símbolo da percepção intelectual. É assim que temos, sucessivamente, o olho físico na sua função de recepção da luz; o olho frontal, o terceiro olho, e, finalmente, o olho do coração. Todos os três recebem luz espiritual. Na filosofia, o olho também denota visão, maneira de ver.
Silenciosa, a doce violeta, exalando seu suave perfume, se desvencilha das folhas que a protegem e também a escondem e enfatiza, serena:
— Bem-aventurados os vossos olhos, porque veem,... *
— Refletir sobre nosso modo de ver, eis a questão. E continuou, com a humildade que lhe é peculiar:
— Olhos... patrimônio de todos. Encontramos, porém, olhos diferentes em todos os lugares. É preciso estar atento e forte para discernir, pois, segundo asseverou o apóstolo Paulo de Tarso, “Tudo me é lícito, nem tudo me convém”. É preciso critério, equilíbrio e, principalmente, atenção em nosso caminhar pela vida, para não sermos surpreendidos por situações perigosas, consequência de um olhar desatento.
Antes que o girassol desse por terminada a reunião – estava louco para isso –, a natureza veio a seu favor e o ajudou a encerrar o assunto, mesmo que outras flores estivessem doidas para falar.
Uma rajada de vento frio despertou a garota que, esfregando os olhos, espantou as abelhas. Ainda sonolenta, enquanto espreguiçava, veio-lhe a nítida impressão de que sonhara. Esforçou-se por lembrar e, passando a mão pela testa, achou engraçado quando lembrou-se de alguém que lhe falara sobre o “terceiro olho”, localizado no ponto entre as sobrancelhas, que, segundo a tradição hinduísta, está ligado à capacidade intuitiva e à percepção sutil.
Nisso, uma abelha retornou. Ela, agora atenta, intuitivamente a espantou e acabou por se lembrar do sonho (embora não dos personagens). Nele, lembrava-se agora, havia sido enfatizada a atenção ao modo de ver e perceber as coisas. Recordou-se de seu grupo de amigos escoteiros, cujo lema no mundo inteiro é: SEMPRE ALERTA.
E... já que havia despertado, aproveitou para percorrer com mais atenção o jardim, observando a beleza de cada flor. Instintivamente, começou dialogar com elas, como que agradecendo a oportunidade do aprendizado.

Texto de Geni D.Bizzo

* Matheus. 13,9... 17

Meu xodó

Meu xodó -  Mariângela J. Pezzotti Gomes
 
Tive e cuidei com muito carinho de tartarugas, aquário com lindos peixes coloridos, gaiolas com canários do reino e gloster, estas avezinhas recebiam nomes de tenores famosos como: Pavaroti, Caruso e outros, por seu trinar forte e alto. Muitas vezes até parava para ouvir com mais atenção, seus cantares melodiosos!

Um mínimo de corpo,

Num máximo de voz!

Essa tendência e apego por animais não parou por aí, apesar de ser mordido por dois cães bravos, mas, graças à Deus sem grandes conseqüências, permaneceu a vontade de possuir um cão.

Em dois mil e oito adquiri de uma família criadora de cães, uma cadelinha Poodle à qual foi dado o nome de Mel, por possuir pelagem aveludada da cor abricot. Suas orelhas eram um charme só; compridas iniciavam num abricot claro, terminando em degrade nas extremidades num castanho avermelhado. Foi amor a primeira vista!

Tão pequenina, cabia em uma caixa de sapatos quando a trouxe para casa! Trinta e sete dias, não havia sido vacinada, nem vermifugada, mas de imediato as providências foram tomadas.

Hoje a Mel já é uma linda e dócil mocinha, está mudando a cor de sua pelagem, mas ainda conserva a cor abricot. Ela é tratada com muito carinho e amor. Sua ração é própria para sua idade e raça, tem casinha e caminha, não dorme fora, tem um lugarzinho especial dentro de casa. Banha-se semanalmente chegando em casa toda cheirosa e enfeitada com lindos lacinhos coloridos nas orelhas e as vezes até no pescocinho. Hoje mesmo está toda rosa. Nas orelhas, flor feita de pedrinhas cor de rosa brilhante, fita de organdi com pingente de pedrinhas rosa no pescocinho. Pode isso?

As tias do banho e tosa são demais! Ela é só uma cadelinha!

Mas não é só isso, Mel é muito inteligente e observadora, se empolga com os passarinhos que aparecem no quintal, fica muito agitada correndo de cá pra lá em volta da piscina. Na verdade faz Cooper o dia inteirinho. Quando cansa, fica sentadinha na porta da varanda admirando-os.

Todos os dias parece até que tem hora marcada, vem um casal de pombinhos e se instalam em cima do muro que é bem alto. Da varanda a Mel observa-os seriamente, parece estar pensando:- ah se eu pudesse pegá-los, eles são tão bonitinhos!... Depois de um determinado tempo eles vão embora e a Mel que também já fez muito Cooper e está cansada, vem descansar na sua caminha.

Como ela é muito esperta e entende muitas palavras da nossa língua, não posso pronunciar, carro, coleira e passear.Quando as ouve, se posta na frente do armário onde fica guardada a coleira e até que a pegue, se põe a olhar para a mamãe ou o papai porque sabe que eles é que vão leva-la passear.Os caninos não falam, mas entendem tudo! Se naquele momento não posso levá-la comigo, digo que agora ela não pode ir, mas que depois nós vamos passear; ela fica me olhando com ar de coitada, abaixa a cabecinha e vai para a poltrona que fica de frente para a porta, enfunada. Quando chego, ela corre na porta a me recepcionar com muita alegria e como prometido lá vamos nós, nem que seja numa pequena voltinha para retribuir tanta devoção.

Sabe brincar com a bolinha, alguém joga ela vai buscar e trás de volta. Na hora de dormir, às vezes cisma de querer brincar, mas é só falar:- Agora não, todo mundo vai nanar; a mamãe, o papai, a vovó e a Mel. Não precisa falar mais nada, no mesmo momento ela vai para sua caminha. Ela é muito esperta e obediente!

Ela é mesmo meu xodó! Companheira entende quando estou triste ou alegre. Domina a casa com sua hiper-atividade, graça e peraltices.

É inestimável a troca de afeto existente em nosso relacionamento. Quantas lições um animalzinho tão delicado nos trás: persistência, lealdade, companheirismo, simplicidade.....

A Mel é uma benção! Ela resgatou a alegria na nossa família! A vovó fez até uma paródia:


“ Era uma casa muito tristinha,

porque não tinha uma cachorrinha.

Porém um dia a Mel chegou,

e a nossa casa alegre ficou.

Ela faz Cooper o dia inteirinho,

correndo atrás dos passarinhos.

Ela é bonita e inteligente,

e gosta muito de brincar com a gente..."

Sermão aos burros

Sermão aos burros - Letícia D. Brunelli


Hoje me dirijo a vós, seres vivos, a quem os homens pouco prezam e aos quais denominaram “burros”.


Vossas virtudes, ignoradas por eles, são reveladas em atitudes, que só homens de grande valor moral, revelam : lealdade, paciência e gentileza.

Vós não sois elegantes e belos como seus primos mais nobres, os “cavalos”. Não sois adeptos do trote aristocrata, nem possuís o brilho na crina, nem a ondulação da cauda.

Mas, vós sóis firmes e constantes na lida, que requer força e inabalável vigor físico.

Deveis continuar assim!

Vós não sois caprichosos e rabujentos como seus primos plebeus, os “jumentos”. Esses gostam de empacar frente a um desafio ou diante de uma situação indesejada.

Não deveis imitar tais atitudes!

Vós não recuais perante o íngreme caminho, nem frente à aridez da estrada.

Sois digno quando citados em trechos bíblicos, como no cenário de presépio junto à manjedoura que serviu de berço ao Menino Deus.Também apareceis transportando o Menino Jesus, no colo de sua mãe Maria, guiado por José, através de imensos desertos, até um refúgio seguro em terras do Egito.

Não sois a massa bruta, nem tendes a força de um trabalho servil, observada nos bovinos, que mansos e indolentes puxam o arado.

Vós levais os homens e todos os seus pertences sobre vosso lombo, qual amigo que oferece amparo e gentileza.

Não me é difícil imaginar-vos entrando em Jerusalém, trazendo Jesus para os aplausos e acenos das folhas de palmeira.

Montado por Sancho Pança, vós seguistes, sem dúvida os passos de Dom Quixote !

Vós tendes a lealdade de um parceiro e a resignação de um mártir.

Vós tendes a coragem de um guerreiro e a obstinação de um profeta.

Vós sóis, com vosso nobre perfil, um exemplo de luta, trabalho e dedicação para toda a humanidade.

Que Deus vos conserve e abençoe !

O príncipe e a andorinha




Conto de fadas recontado por Licia M. Perin

Há muito tempo num reino muito distante, houve um príncipe querido por todos os seus súditos. Justo e humano, governava democraticamente.
Para tristeza de seu povo, aconteceu dele morrer prematuramente. Desolados, os habitantes do lugar ergueram , no ponto mais alto do reino, uma estátua de metal riquíssima, toda cravejada de jóias, para que ele nunca fosse esquecido. Conseguiam enxergar o monumento de qualquer lugar que estivessem ... e sentiam orgulho por terem tido um governante tão justo, ético e voltado as necessidades de seu povo !
O tempo foi passando ... Mudando os governantes, alterando a forma de vida, empobrecendo a todos e trazendo a miséria para os moradores do reino.
Certo dia, uma andorinha migratória separou-se de seu bando, desviando-se da rota encetada pelo milagre que conduz os pássaros de um continente para outro, guiados por um “radar” que só pode provir de alguém muito maior ...
A andorinha entendeu que o alto da copa do chapéu da estátua do príncipe, seria aconchegante e segura. Fez ai seu ninho.
Todas as noites, ao retornar de sua busca por alimento, conversava com o príncipe:
____ Andorinha, vejo ao longe, uma casinha com crianças passando fome. Por favor, leve até eles uma esmeralda que enfeita minha túnica.
Noite após noite o pedido se repetia. A andorinha reclamava :
____ Príncipe, preciso ir-me embora. O inverno se aproxima. Logo não conseguirei alcançar meu bando !
Mas, o pássaro não resistia aos pedidos misericordiosos do ex-governante e repetia seu gesto, levando outras pedras preciosas aos lares miseráveis.Então, as pedras terminaram.
Passando pelo local, os nossos governantes acharam inútil manter o antes belo monumento e decidiram pô-lo abaixo.
____ Para que conservar uma estátua sem razão de ser , feia e velha ... Passem um trator nela !
Quando derrubaram o monumento, encontraram dentro dele um coraçãozinho partido e no chão ao lado, o corpinho inerte de uma andorinha morta!


Observação da contadora:

Li esta histórinha quando tinha 8 anos e chorei pela andorinha e pelo jovem governante, solidários com a pobreza, doando a própria vida por outrem. Hoje, aos 80anos, volto a me comover com esta história, chorando na profundeza do meu ser ao ver que nada mudou. Os exemplos de amor quase sempre são esmagados por máquinas de incompreensão e as criaturinhas indefesas, sucumbem na brutalidade do egoísmo.

Theo



Ondas gigantescas batem na parede transparente e, ao descerem, compõem uma forte correnteza em direção ao gargalo da enorme cratera, por onde se escoam as águas.
Observo entre assustado e curioso o lindo espetáculo. Folhas enormes da renda portuguesa se contorcem, varrendo o chão encharcado. Aves, acostumadas como eu a alçar pequenos vôos, cruzam os espaços macios da “enorrrrrrrme...” residência. Neste momento, me imagino planando por sobre as árvores, sentido o frescor agradável da atmosfera lavada pela chuva torrencial. Mas não posso ir além. Embora seja livre num espaço relativamente grande, minha liberdade é limitada. Não tenho condições de sobrevôo e não mais conseguiria viver sem a proteção dos humanos.
Lembro-me de que sou uma ave da família das calopsitas. Meu nome é THEO. Sinto-me um pequeno humano, dividindo espaço com uma companheira que, humana, sente-se uma enorme calopsita. Nossa história é bonita. Cheguei nesta casa num momento difícil e de muita tristeza. Fui trazido como presente por um parente dela, para ser seu companheiro divertido e leal. E cumpro meu papel. Entendemo-nos muito bem. Às vezes até pelo olhar. Nossas vidas são tão semelhantes que até nos confundimos.
Meus antepassados são da Austrália. Nossa migração só começou a acontecer em meados do século XIX. Foi quando os antepassados de minha companheira também partiram em busca de novas terras. Foi nessa mesma época – um pouco depois, talvez – que tomaram o navio na Itália rumo a este país maravilhoso em busca de dias melhores.
E as semelhanças não param por aí.
Somos divertidos, leais, inteligentes, nos adaptamos muito bem às situações adversas; sentimos fome, medo, frio, alegria, dor, tristeza, aceitação, rejeição.
Eu, como não conheço a vida lá fora, me sinto um “lorde de plumas”. Sou bonito, com penas coloridas e a cara vermelha, parecendo maquiadas com cuidado. Vivo numa gaiola aberta, colocada bem no alto de uma escadinha, que uso como academia, num sobe e desce constante. Tenho total liberdade para ir e vir na residência. Adoro ser tocado, acariciado, mas só quando me sinto confiante. Retribuo da mesma forma. Sou dócil e afetuoso, aprendo com facilidade as músicas que me ensinam.
Ela, ah... Ela também. É alegre, divertida, elegante, gosta de cantar, é sonhadora. E, como eu, embora se diga livre, não o é verdadeiramente. Vive prisioneira dos medos, tensões, aflições de como conduzir a vida. Tem medo do que possa lhe acontecer, embora se afirme com muita fé e a tem, às vezes fraqueja e se torna prisioneira de preconceitos, de ansiedades, de julgamentos.
Quando pode “voar” com seu anjo de pés de borrachas, o faz de maneira tacanha, com os vidros fechados e embaçados, sentindo a cada passo o pavor de alguma aproximação. Angustia-se, tem medo de não dar conta do recado quando a dor ou a necessidade se aproximarem. Como enxergar a vida diante da escravidão materializada na presença do medo, configurando a vida super-avaliada nas necessidades criadas pela ansiedade?
Se eu pudesse verbalizar, diria:* “Olhai as aves do céu, que nem semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai Celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?”
Qual a diferença entre as necessidades do Homem e das aves? Está em uma palavra: Consciência. É ela que dá ao homem a dimensão do tempo e do espaço, das suas necessidades, de sua finitude. Isso não acontece com nenhum outro ser, nem mesmo aves, como eu.
Claro, sei que as necessidades dos humanos são maiores que as nossas. Como sei que necessidades geram ansiedades, medos, que os aprisionam cada vez mais. Mas, mesmo assim, procuro transmitir com meu olhar o que penso: confie, seja firme e forte para que, depois da “chuva” de preocupações e de problemas, a “atmosfera da alma” esteja lavada e protegida com o conforto que Deus nos concede.
Continuo observando a chuva, enquanto ela dorme recostada no sofá. Talvez sonhe livre e, voando nas asas livres de um sonho, tenha a consciência do que nos diz o filósofo Sêneca “A vida é feliz”, E sem ansiedades e preocupações, sua vida irradiará alegria, tranquilidade e bem-estar perenes.
E que ela, finalmente, possa perceber que às vezes precisamos dar uma pausa nas nossas angústias para despreocupadamente vivermos o que é simples, como a vida das aves.

Texto e foto de Geni D. Bizzo

A compaixão nos olhos de Tigrão



Os olhos são a primeira coisa que chamam a minha atenção nas pessoas, porque eles transmitem muito o que a pessoa tem no coração, ou o que estão sentindo naquele momento.
Mas há uns dias atrás, os olhos de um animal me chamaram a atenção e me emocionaram.
Tigrão é um cão Fila negro tigrado (com listras amareladas), enorme, lindo, amigo e leal, com mais ou menos 8 anos de idade e pertence ao meu irmão, cunhada e duas sobrinhas.
É meigo, alegre, carinhoso e brincalhão com as pessoas que conhece e gostam dele; porém, com estranhos que passam na rua e ás vezes mexem com ele no portão, se torna uma fera para proteger a família.
Também é muito inteligente e sensível, porque, se eu ou outra pessoa chega na casa e não vai até o quintal cumprimentá-lo e dar um pouco de atenção a ele, depois de um tempo quando resolve ir, ele não levanta a cabeça, fica sentado como se a pessoa não estivesse ali, totalmente indiferente e digo com certeza, até magoado.
Quando a pessoa vai se despedir para ir embora, ele continua de cabeça baixa e não dá a pata para o “tchau”. E não é apenas isso. Depois de dias, quando a pessoa volta á casa para uma visita, ele ainda continua “emburrado” e não corresponde ao cumprimento.
Só depois de muito carinho, paciência e atenção, ele “fica de bem”, olha, dá a pata e brinca. Parece uma criança fazendo birra para conseguir atenção.
Mas, outro dia eu senti uma grande tristeza e dor no coração desse querido cachorro Tigrão. Cheguei e fui ao quintal cumprimentá-lo como sempre, e, quando ele olhou para mim, senti seu olhar profundamente triste e dolorido no corpo e no coração (sentimento).
Ele estava sofrendo como uma pessoa que tem compaixão pelo próximo(e não são todas) sofre. Tigrão falou com seu olhar que estava sofrendo, que queria colo, um abraço e paz para o seu coração e para o coração de todos daquela casa.
Fiquei impressionada e emocionada com a sensibilidade do Tigrão, que ama tanto as pessoas dessa família, que sente tristeza e preocupação, pelo momento difícil pelo qual estão passando.
É amor, compaixão, carinho, um modo de “dizer”, de demonstrar que ele está ali, presente, junto deles para ajudá-los, mesmo que seja apenas para dar a pata ou abanar o rabo, que corresponde a um enorme carinho e atenção.
Os animais nos dão muitos exemplos de amor, companheirismo, respeito ao próximo, muito mais verdadeiros, sem cobrança, sem falsidade, do que muitas pessoas, porque eles demonstram com seu coração e suas atitudes.
A compaixão pode ser partilhada apenas com um olhar, um abraço, um beijo, uma palavra que significam : eu estou aqui, pode contar comigo.
É isso que eu senti e sinto quando estou com Tigrão, o amigo para todas as horas.
Que bom seria se mais pessoas tivessem essa sensibilidade e esse amor gratuito para ajudar a tantas outras que sofrem, não necessariamente com dinheiro, bens materiais, mas com um olhar, um abraço, um sorriso, como o Tigrão ...


Texto de Terezinha Cattai

Lição da minhoquinha



Sou apenas uma pequena minhoca que nasceu e vive num monturo de esterco. Nem cresci ainda. Conheço muito pouco da vida. Sei que não posso enfrentar o forte calor do sol (afinal não tenho pele que resista a isso.
Vou vivendo, minhocando e “saboreando” o esterco, transformando-o em nutriente tão necessário à terra cultivável. É o que me cabe.
Não tenho cérebro, nem pretendo ter alma. Isso é lá para os seres mais desenvolvidos, para o meu “parceiro bicho-homem ! Como se ufana de seus predicados : enfeita-se como um pavão; canta de galo, diz-se forte com um touro; nada como um peixe; tem memória de elefante; curioso como um macaco ; bebe como um gambá; come como um porco.
Mas, acima de tudo, comparo-o a um grande asno, pois tenta destruir o mundo em que vive, a natureza que o sustenta e a água que é essencial á sua vida!
Eu, eu sou apenas uma pequena minhoca, uma minhoquinha integrada à grande cadeia da vida. Os meus dias vem e vão, o sol nasce e se põe. Eu aqui estou “plantada” no meu habitat, vivendo um dia após outro, sem tentar quebrar nenhum dente da grande roda da vida!

Texto de Licia Monaco Perin

Os olhos como sentinelas



Se falarmos aqui sobre nossos olhos , podemos falar de sentinelas treinadas para observar intencionalmente tudo ao nosso redor.
Mas, eu aqui quero lembrar olhos sentinelas dos chamados animaizinhos “irracionais” .
Gosto muito de todos os animais. Observando-os, vejo exemplos e posso aprender , incluindo os bichinhos dos matos e jardins, por exemplo; as formigas com suas tarefas e organização, as aranhas e suas lindas teias.
Em casa eu já tive: tartaruga, cágado, patinho, macaquinho, porquinho da Índia, viveiro de pássaros, além de gatos e cachorros. Lembro-me dos pastores Ringo, Rolf e Dolly,Mambo e Rekka; o boxer Max; dos pequineses Cherry, Charles e Puppi; incluindo muitos viralatas recolhidos das ruas : Nina, Tifi, Cara-Feia, Fofinha e outros. As últimas duas Dachshound ou vulgarmente chamadas “salsichinhas” Trudi e Kika. Além das gatas Chary, Muschi e Mitzi-Mau.
Quando há vários animaizinhos juntos, eles divertem-se entre si. Nos vigiam com seus olhares principalmente na hora das refeições ou quando recebem tratamento.
Mas ...
Há três anos Kika ficou sozinha. Observo como ela convive mais comigo e me observa em meus afazeres. Ela tem quase catorze anos, está bastante lenta pois é cardíaca. Não gosta mais de latir, mas fala com os olhinhos espertos. Quando toca a campanhia, ela vai até a porta e olha para mim aguardando, se eu demoro, ela vem me buscar.
Após minha refeição, se me dirigo para a pia para lavar a louça, ouço : “au au”. Kika está sentada no lugar de seu prato, com o corpo ereto e rígido, feito estátua a me encarar com o olhar fixo até atendê-la. Com certeza ela quer dizer: “e eu, não vou comer?”
Varrendo as folhas no quintal, ela me acompanha. Se cai uma outra folha onde eu já varri, ela vai até a folha, pára, e com olhar fixo me encara até que eu volte para recolher esta folha também. Contente ela se afasta, abanando o rabinho.
Se a noite, quando vou me recolher, não apago a luz do corredor antes de entrar no quarto, ela senta debaixo do interruptor e não entra comigo para dormir. Seus olhinhos me dizem : “Você esqueceu a luz acesa. “
Observando estas atitudes de um cãozinho tão pequenino, me atrevo a afirmar que os olhos de um bichinho “irracional” também atuam como sentinelas.

Texto de Hedi Duarte

O homem e seus relacionamentos



A vida é muito interessante. Nascemos e nos relacionamos com o mundo através da família. Necessitamos da presença de nossos pais para nos desenvolvermos e crescer, convivendo e precisando nos relacionar.
O homem não vive isolado. Ele se posiciona em comunhão com tudo e todos que os cercam. Os animais são grandes companheiros e nos afeiçoamos a eles com carinho e notamos que os cães fazem nossos sentimentos aflorarem. A retribuição de carinho é recíproca.
O animal sente falta de seu dono. Vemos muitas vezes o cão defendendo as crianças, que são muito apegadas á eles. Quando se perde um animal ou o mesmo foge, muitas crianças ficam doentes. Ouvimos sempre nos meios de comunicação a procura por cão perdido.
O relacionamento com o cão é tão profundo que falamos com o animal e ele nos entende. É considerado amigo do homem e muitas pessoas os tem como guarda, não só da casa, como também guarda pessoal.
Os cegos muitas vezes os usam como seu guia, conduzindo-os para o serviço, acompanhando-os no trânsito, trem, ônibus e outros meios de transporte.
A vida já nos mostrou que muitas vezes é preferível confiar num cão , do que em seres humanos.
Este relacionamento entre homem e cão é muito profundo, pois até mesmo os indigentes tem um companheiro para seu conforto. A solidão nos faz nos relacionarmos com o que está mais próximo e nos dá segurança.
Assim vemos que o cão, é muito importante para fazer a parte emocional aflorar.O cão é o amigo verdadeiro do homem.

Texto de Maria do Carmo Messetti

Além das aparências


Pássaros, em geral me atraem pelo canto mavioso ou pela bela plumagem.
Em determinadas horas do dia, posso observar bem-te-vis que vem, com frequência, ao meu quintal. Gosto de ouvi-los quando cantam quase próximo de onde estou, podendo assim melhor admirar a beleza de suas cores vibrantes. Muitas vezes, mal dirijo o olhar para os pássaros mais comuns, que descem até ao comedouro do “Popó”, nosso cachorro, que nem se importa em dividir sua ração com eles.
Isso acontecia até que encontrei um pequeno pardal, o mais comum dos pássaros que, por causa de uma de suas asas machucadas, não podia voar. Observando-o melhor, fiquei admirada com sua beleza. As costas eram lindas, de uma magnífica cor castanha com listras pretas; as asas marrons possuíam encantadora faixa branca, a cabeça era cinza , o peito e o abdômen eram macios e brancos.
Como pés tão delicados os sustentavam num galho, esse passarinho de aspecto tão frágil, durante as ventanias mais forte?
O débil pulsar do seu coração levou-me a traçar um paralelo entre as características de tal ave com as nossas, seres humanos, que muitas vezes julgamos as pessoas pela aparência.
Os ventos frios da indiferença, da insensibilidade, do egoísmo, da violência, do preconceito racial, da injustiça social, da manipulação dos poderosos, não param de soprar e transformam nosso coração em blocos de gelo. Para nos proteger, nos isolamos. Mais do que nunca é preciso aquecer a existência e descongelar o coração, liberar calor humano em forma de afeto, apoio, amor, atenção e outros sentimentos necessários à vida.
Temos o poder de dar significado aos nossos semelhantes. Podemos tirá-los do meio da multidão e ajudá-los fraternalmente. Pessoas caídas, fragilizadas, precisam de uma palavra amiga. Usamos as palavras com tantas imprecisões, com desperdício, que na hora certa, ficamos calados, economizando ternura e elogios sinceros.
A sociedade dos vitoriosos, impedem o acolhimento das pessoas “diferentes”. Define-se quem tem ou não tem importância pelo dinheiro, pela beleza, pelo poder, esquecendo-se de que as aparências enganam.

Texto de Silvia Galvani

Sermão... aos peixes




Aqui em casa, cômodamente instalada em uma poltroninha, faço um Sermão aos Peixes.
Todos me olham, com muita atenção, olhinhos muito arregalados. MUDOS e sem perderem uma única palavra daquilo que lhes digo. A platéia compõem-se de:
CORUMBÁS – TABARÃNAS – SARDINHAS DE ÁGUA DOCE – JOANAS – DOURADOS – TILÁPIAS DO NILO – CASCUDOS – TINHÁS – LAMBARÍS – TUVIRAS – PIAVAS – CASCUDO-VIOLAS – XAMBO – RÊS – TAMBOATÁS – PIARARAS – BAGRES – ACARÁS – PIAUS DE TRES CINTAS – PIRAMBÉBAS – TAMBIÚS – MANDIS-CHORÃO – MANDÍS – PIRANHAS !!!
Eu lhes digo :
“Se vocês não fossem tão distraídos e usassem mais o olhar atento, não teriam caído na rede de espera, de um Tecnólogo, chamado Willy Werner, que estava dentro do Rio Corumbataí, fazendo uma pesquisa ...
Queridos peixinhos : Durante quatro anos, de 15 em 15 dias, ele, com mais dois auxiliares, passavam os fins de semana nessa pesquisa ...
Queridos peixinhos; que agora em F O R M Ó L , olhais para mim com tanta atenção, eu, mãe desse Pesquisador, vos agradeço a gentileza, de terem se deixado apanhar, contribuindo, dessa maneira, para que ... Willy Werner Grassmann Bóbbo, se tornasse ESPECIALISTA em BIOGEOGRAFIA, pela UNESP.
Obrigada, queridos e belos peixinhos !!!
Pelo menos, vocês não foram simplesmente parar na barriga de alguém, mas sim, prestaram, sem o saber , um grande e importante serviço ...

NOTA IMPORTANTE:- As palavras PEIXE e PEIXINHO, são mencionadas na BÍBLIA SAGRADA, 20 vêzes !! Exemplo : GÊNESIS 1 :26 “Também disse DEUS: Façamos o HOMEM a nossa imagem; conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os PEIXES do mar, sobre as AVES do céu, sobre os ANIMAIS DOMÉSTICOS, sobre a TERRA e sobre todos os RÉPTEIS que rastejam sobre a TERRA ... “

Meu amigo Calopsita - Kalu




Ele é um pássaro muito observador. Seu nome é Kalu.
Seu comportamento:
Quando êle está descansando ou relaxando, fica empoleirado com uma perna no poleiro. Nesta posição, aproveita para tirar uma soneca. Quando ele abaixa a cabeça, representa a confiança que êle deposita em mim, para receber carinho. Quando sua crista está em posição normal, significa que Kalu está relaxado e calmo; crista erecta, significa atenção; se o penacho estiver abaixado, significa que ele está concentrado ao que está em seu redor.
Kalu range o bico, sinal que está feliz, mas quando grita com freqüência, frenéticamente, significa que está se sentindo sozinho, ou, que quer sair da gaiola, ou está com medo, ou fome, ou estressado. Êle se comunica através de trejeitos, gritos ou assobios, etc.Quando está espreguiçando, está se descontraindo, está dando boas vindas, está alegre.
Algumas vezes noto que suas asas estão bem abertas, com o corpo para baixo, batendo as asas para voar. Quem sabe, tenha vontade de fugir para ser livre.
Seu comportamento precisa ser respeitado, inclusive as horas de sono que são preciosas (ao cair da tarde até a manhã seguinte).
Não irrito meu calopsita para não estressá-lo, o que culminaria em doenças.
Aprendi que são os machos que assobiam, cantam e podem até imitar palavras. Êles são mais vocalizados. Kalu canta o início do Hino Nacional, assobia, imita palavras com facilidade, mas não forcei seu aprendizado.
Êle é uma ave granívora, isto é, tem o ato em si de descascar as sementes com o bico. Sua alimentação consta de verduras, frutas, sementes, farinha de ovo e suplementos vitamínicos.
Não é toda hora que Kalu está disposto para uma brincadeira, um carinho, Sua privacidade precisa ser respeitada, principalmente ao cair da tarde.
Meu calopsita é bem tratado : conservo sua gaiola limpa, seu bebedouro sempre com água fresca, dou-lhe boa alimentação e trato-o com respeito e carinho. Apesar de viver engaiolado, ele é um pássaro saudável.
Kalu é meu amiguinho. Eu cultivo esta amizade!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Exercício: Infância

Da minha infância - Letícia D. Brunelli


Fui buscar lá na memória,
De uma infância feliz
Uma lembrança querida
Que o tempo assim o quis.

Me recordo com carinho
de um velho amigo já ausente
que permeou meu caminho
e me ofertou um presente.

Escreveu para mim um poema
que tenho até hoje guardado.
É um acróstico com meu nome
escrito num caderno, com cuidado.

Ele fala dos meus olhos,
como ele os imaginava.
Sem nunca tê-los visto
ele em sua poesia afirmava.

Que ternura havia em meu olhar
e celestiais eram os olhos meus;
me comparava a visão de sonho
e na minha candura, um anjo de Deus !

E eu nos meus oito anos
não conseguia ainda atinar
que aquele bom amigo italiano
só com a alma podia me olhar.


Seu nome era Luigi Onetta
e com sua esposa Teresa morava
num quarto bem simples hospedado,
na casa vizinha em que eu habitava.

Eu gostava muito de lhe visitar,
Assim ele tinha com quem conversar,
Um coração de ouro a me ensinar
Que olhos sem vida também podem enxergar.

Exercício: Infância

Saudades - Regina Garrido


Saudades ... de um tempo maravilhoso que passa muito rápido.
Lembranças das brincadeiras
roda, pega pega, queimada
cirquinho, cozinha, passa anel
Hã ... que dor danada.
Á noite, mamãe e os vizinhos, colocavam suas cadeiras na calçada para prozear; enquanto nós, os filhos, ficávamos a brincar.
Quando as vezes dizia a mamãe
Que queria ser gente grande
Eu ouvia, não tenha pressa
Você é uma criança feliz.
Hoje tenho saudades ... saudades da minha infância, pois sempre tive alguém para me acariciar.
Agora, muitas vezes, não tenho um ombro para chorar.
Saudades ... de uma época curta e linda que não volta mais

Exercício: Infância

A menina e a galinha - ALICE FERREIRA


A galinha é uma ave pomposa, charmosa, anda como se estivesse numa passarela, mesmo quando está próxima de ir para uma panela !!!
Ela é muito maternal, pois, quando põe seus ovos, senta no ninho que mais parece um trono de rainha, para chocar e dar à luz a seus pequeninos e barulhentos pintinhos !!! Tem colorações muito bonitas, sendo penas vermelhas, pretas, brancas e outras. Além de ser poedeira, tem uma carne saborosa e nutritiva !
Depois desta pequena introdução sobre as qualidades desta importante ave, eis que surge a branquinha, a galinha de estimação de uma menina de aproximadamente 6 à 8 anos !!!
Lendo os contos de Clarice Lispector, havia entre eles, a história de uma galinha, isto serviu para feliz lembrança da branquinha.
Toda criança tem um animal de estimação e o da menina que é relatado neste conto, é uma galinha de penas brancas , pescoço pelado vermelho, tendo um topete de penas na cabeça. Durante grande parte da infância da menina, ela foi sua grande companheira. As duas brincavam diariamente num grande quintal de terra, num bairro bem familiar da cidade , que com o passar do tempo e crescimento geográfico e populacional, tornou-se área central.
Um dia, a galinha branquinha, não amanheceu muito boa, parecia tristonha, quieta. A menina percebeu que sua companheira estava doente.
A menina, usando de seus ensinamentos , que lhe foi passado pela família, resolveu pedir a intersecção de um santo para a cura de sua galinha. No meio do quintal, ela ajoelhou, com as mãos em sentido de prece e com muita fé, olhando para o céu, pediu para São Pedro que intercedesse junto à Jesus, pela cura da branquinha. Após alguns dias, a alegria voltou para as duas companheiras, pois a galinha já estava boa !
A menina cumpriu sua promessa, depositando uma oferta (doação em dinheiro), aos pés da imagem de São Pedro, numa igreja da cidade onde estava á passeio com sua família!!!



ADELAIDE DALVA GARBUIO


A D. Dalva, nossa aluna, é profundamente ligada à música e trouxe como lembrança uma canção que embalou a infância de todos nós.

"Faz 3 noites que eu não durmo, lá, lá
Pois perdi o meu galinho, lá, lá
Pobrezinho, lá, lá
Coitadinho, lá, lá
Eu perdi, lá no quintal.
Ele é branco e amarelo, lá, lá
Tem a crista bem vermelha, lá, lá
Abre o bico, lá, lá
Bate as asas, lá, lá
Ele faz quiri, qui, qui
Percorri o Mato Grosso, lá, lá
Amazonas e Pará, lá, lá
Encontrei, lá, lá
Meu galinho, lá, lá
No sertão do Ceará
No sertão do Ceará."

Exercício: Infância

Um fato da infância - MARIA DE LOURDES DOS SANTOS PINTO


Este fato aconteceu, se não me falha a memória, na capital de São Paulo, à Rua Lopes de Oliveira, bairro Barra Funda, na casa de minha avó materna Amélia, onde eu e minha família residíamos.
Era uma tarde tranquila, ensolarada, de clima ameno, seria primavera. Eu devia ter, mais ou menos, quatro anos, era uma criança esperta e vaidosa.Exigia sempre após o banho, que minha avó me vestisse com lindos vestidos, feitos por ela, enfeitasse meus cabelos com laçarotes de fita colorida.Após este ritual, ficava pronta para sentar no degrau junto ao portão de entrada da casa, vendo o bonde Barra Funda passar, cheio de crianças vindas da escola. Era o meu melhor divertimento.
Nessa tarde, entretanto, eu segurava um lindo balão colorido, com muita alegria, presente de meu irmão mais velho. A alegria durou pouco. Surgiu um moleque, um menino maltrapilho, sujo, correndo como um corisco. Inesperadamente ouvi um “bummmmm” que retumbou no meu ouvido, o balão furou. O menino saiu em disparada gritando alegremente.
Fiquei pasma, parada, engasgada, com o choro na garganta, quase sufocada.Minha avó Amélia assustada com o barulho, veio em meu auxílio.Contei-lhe o acontecido. Eu falava repetidamente : “Foi o me, menino vovó, ele furou o balão, foi o menino.”
Vovó afagou-me, consolando-me disse : - “O menino é pobre, não tem o que você tem. Não chore, minha netinha, eu lhe compro outro.”
Esta cena ficou gravada em minha mente, várias vezes vem “á tona”. Não só o acontecido, mas o seu significado, talvez uma lição de moral, que posso interpretá-la tirando uma mensagem positiva para a minha vida.
“A vida não é feita só de alegrias, mas também de tristezas.”
Devemos enfrentar as vicissitudes com paciência e resignação, pois só dessa forma chegaremos até “ELE”, nosso “Pai Eterno.”


A casa da minha infância - LÍCIA MONACO PERIN


A casa era antiga. Grande. Quase assustadora nas noites escuras sem lua.Localizada numa rua pacata, era rodeada por todos os lados por arbustos, árvores no quintal e um pequeno jardim logo na entrada. Nela vivi minha infância.
Eu adorava cada parede sua, sua configuração externa, seus espaços vazios, suas sombras ...
O perfume das roseiras vinha ao meu encontro logo que entrava pelo grande portão de ferro, onde uma corrente dependurada batia toda vez que se fechava o portão.
Minha mãe contou-me que durante uma epidemia – seria de cólera? – haviam morrido todos os moradores dessa casa. Mais tarde, meu nono Aristides a adquiriu e ela foi também, antes de ser a casa da minha infância, a casa da infância da minha mãe.
O quintal de minha casa foi certamente o lugar onde encontrei as sementes que até hoje procuro disseminar do amor e respeito á natureza: as frutíferas que meu nono havia plantado há muitos anos. As aves que aí eram criadas e que eu passava horas observando e admirando. Nossa cachorra Diana, uma policial mestiça, a grande companheira de nossos folguedos, que brincava de esconde-esconde com nós crianças!
O forno de tijolos no quintal, de onde, duas vezes por semana saiam cheirosos pães italianos, cufas e paezinhos doces na forma de pombinhas que minha mãe aprontava para as crianças. O ferro de brasa alimentado com carvão do fogão de lenha ... A água tão quente na grande banheira branca !
As brincadeiras das crianças da redondeza na frente de casa nas noites de verão.
A cama de minha mãe, cheia de todos nós nas noites de frio, onde ela remendando meios e pregando botões, nos contava histórias infantis, que povoavam nossos sonhos e de onde saíamos carregados dormindo, para nossas camas.
A “descoberta” da biblioteca de meu pai, onde eu podia ler tudo, sem censuras. As festas de aniversário. O chocolate quente, os doces caseiros. Os almoços de domingo na grande sala de jantar bem posta. A enorme travessa de massa caseira fumegante, deliciosa ! O doce de abóbora. O manjar branco.
O primeiro dia de escola. O choro de medo. A sensação de estar só. A delícia do aprendizado !
As conversas da família reunida no terraço, depois do jantar. onde meus pais relembravam fatos passados. A Rio Claro antiga, fazendo nascer em nós o amor por nossa cidade e o respeito por aqueles que buscaram e fizeram de Rio Claro, sua morada.
A casa sempre aberta para os amigos, a compaixão pelos menos favorecidos, a busca pelo “novo” e, acima de tudo, a noção de que só o trabalho honesto constrói.
Hoje passo por esta casa e a vejo tão mudada, desfigurada por “modernizações”, qual pessoa idosa que tenta se recompor e disfarçar os anos que chegaram, com o artifício da plástica.
Para mim, vivendo em minhas recordações, ela continua com a mesma beleza dos meus poucos anos, tão viva, tão forte, plena dos sonhos que sonhei, do mundo que busquei e que são relíquias encrustadas em meu coração.
Casa querida! Quanta saudade!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Exercício Dilema Ético IV

Sonhos de meninos - Alice Ferreira

Na pequena cidade de Martelândia, um grupo de meninos, na faixa etária entre 8 a 12 anos aproximadamente, eram internos do Orfanato “Bem te Quero”. Estes sonhavam um dia retornar às suas famílias de origem. Famílias humildes, sem condições econômicas para educá-los; na maioria tendo somente um ou uma mantenedora. Nenhum com família completa de pai e mãe.

A ansiedade destes pequenos era tão grande que, um dia resolveram por o pé na estrada.

Começa aí a grande aventura dos meninos sonhadores. Fugiram do Orfanato, andando a pé, só com a roupa do corpo, sem alimentação e com objetivo definido: a casa dos familiares, por mais desmantelada que fosse.

Como seu destino de origem estava muito longe, resolveram parar na cidade de “Costa de Tina”, descansar, pois estavam com fome e desidratados. Quem os encontrou foi um Comissário de Menores, que os encaminhou ao Delegado de Polícia, pois já era tarde da noite.

Os meninos ficaram instalados em uma das celas vazias da Delegacia, dormindo no chão, sem alimentação e nada para cobrir seus corpinhos sujos e cansados.

No dia seguinte de manhã, o Comissário de Menores procurou a Assistente Social da cidade que atuava no Projeto de Menores, para que tomasse as devidas providências.

Entrou na ação toda a estrutura da Instituição Regional e a sede que ficava na capital do estado.

A Assistente Social, segundo orientações de sua Coordenação e Diretoria Técnica, teve 24 horas para retirar o grupo de meninos da Delegacia, levá-los para a sede do Projeto local, alimentá-los e encaminhá-los de volta ao Orfanato.

A ordem teve que ser cumprida. A Assistente Social e Coordenadora do Projeto Administrativo acompanhou o grupo dos pequenos sonhadores de volta ao Orfanato “Bem te Quero”

PARA REFLETIR:- Enquanto muitos sonham em ganhar grandes somas em loterias e ficarem ricos, estes pequeninos só sonhavam estarem com suas famílias, queriam “colo de mãe” .

O fato aconteceu realmente, com mais desdobramentos angustiantes. Em virtude de ética, mudou-se nome da cidade, do Orfanato e outras peculiaridades.


Reforma da natureza e o gene terminator - Vera Gracia Lorenzon Ferreira

O homem nômade se alimentava com o que encontrava na natureza.

Com sua experiência de “erros e “acertos”, foi domesticando os animais, diferenciando plantas comestíveis das venenosas, organizando-se em grupos sedentários, foram surgindo os povoados, as vilas e as cidades; a produção de alimentos sempre aumentando. Com o desenvolvimento cultural, o homem começou a diversificar sua alimentação, passando a usar microorganismos na preparação do pão e do vinho.

Experiência do Padre Gregor Mendel, há mais de duzentos anos, com saborosas “ervilhas”, deu início aos estudos de genética na alimentação e nutrição. A partir de então, conseguiu-se enorme avanço na produção de alimentos, para os homens e para os animais. Novas variedades de arroz e trigo, os cereais mais produzidos e consumidos no mundo, foram desenvolvidas.

Através da transferência de caracteres ou genes, que estão no DNA de cada célula de todo ser vivo, eis o surgimento de uma nova espécie de planta ou animal!

Eis o HOMEM se arvorando em CRIADOR!

Atualmente, grande empresas químico-farmacêuticas investem fortunas para criação de variedades de sementes e novos medicamentos, através da transferência de caracteres genéticos de uma espécie para formar outra espécie; dando surgimento aos AGM=Alimentos Genéticamente Modificados e OGM=Organismos Genéticamente Modificados .

Porém, por terem sido “criados” em laboratório estes AGM/OGM são patenteados por suas empresas criadoras e só podem ser reproduzidos por seu “dono”; ou seja, o agricultor que precisar da semente de uma planta ou o pecuarista que necessitar reproduzir cria de animal, terá que comprá-la destas empresas multinacionais, como a Monsanto ou Monsatã, como está sendo denominada. Por exemplo: a soja transgênica (da Monsanto) é resistente ao herbicida Roundup (da Monsanto) e o agricultor terá que adquirir a semente e o herbicida desta empresa, o que configura venda casada, que o governo diz ser proibida, mas o governo terá voz diante das multinacionais ?

E isto é só a ponta do iceberg, pois as pesquisas não param e a cada dia criam-se mais e mais produtos, “viciando-os” com o “seu herbicida”, com o “seu antibiótico”, sem se preocuparem com a inevitável contaminação e envenenamento da natureza...

Como estas empresas são muito “espertas” e não cogitam em perder nenhum centavo de dólar de seus polpudos investimentos, já planejam a criação de um gene denominado “gene terminator”, que incorporado às sementes, deixam-nas estéreis, obrigando o agricultor a adquirir novas sementes sempre que for fazer o plantio, destruindo todo um patrimônio genético de sementes criado até agora pela humanidade. . .

Finalizando, deixo como sugestão a leitura da obra escrita em 1952, por Monteiro Lobato a REFORMA da NATUREZA, em que há um interessante diálogo entre Dona Benta e Emília.


A solução de um dilema – Letícia Brunelli

Minha história precisa ser narrada. Precisa ficar registrada como um alerta para a sociedade. Mas como? Talvez seja tarde demais!

Meu nome é Flora Mendes e tenho uma filha de dezenove anos, que faz faculdade em Belo Horizonte. Fui morar em Penedo, cidadezinha pacata, mas muito hospitaleira,quando procurei emprego, após ficar viúva, ano passado. A cidade é cortada pelo Rio Capim Santo, um dos afluentes do Rio São Francisco. Tinha conseguido uma colocação na “Indústria de Papel Wallpaper” no setor de minha profissão, pois sou Engenheira Química.

Não faz um mês, fui alertada por um funcionário que o tanque de decantação e tratamento do esgoto da fábrica apresentava um sério vazamento, que estava causando infiltração de produtos tóxicos no solo adjacente, que não era muito distante da margem do rio. Logo a contaminação alcançaria a água do rio, tão importante para a cidade, que ficaria irremediavelmente comprometido.

Encaminhei o problema para o setor de manutenção, que tentou, sem sucesso, saná-lo.

Era necessário parar o funcionamento de toda a fábrica para reformar o tanque, que recebia todo o esgoto dela, para ser tratado, pois ele estava comprometido com várias rachaduras.

O problema, em seguida, foi levado ao Diretor da Empresa. Ele respondeu que iria chamar um engenheiro para avaliar o assunto. Os dias se passaram. Ninguém apareceu para fazer a tal avaliação.

Eu só pensava nas consequências daquele incidente. O produto tóxico se espalhava e a contaminação das águas era um fato eminente.

Ninguém ficou sabendo de nada; o diretor tinha nos pedido sigilo para não causar pânico. E ninguém percebia nada, pois a infiltração no solo não era visível, estava abaixo da superfície.

No começo dessa semana, voltei a reclamar uma providência. Em troca, recebi ameaças. A princípio, veladas, mas depois bem mais explícitas, quando falei que iria delatar o fato às autoridades, caso não fosse logo resolvido.

O fim de semana chegou.

O sábado amanheceu um lindo dia! Mas a chegada do carteiro, trazendo uma carta inesperada, transformou meu dia numa agonia! A carta trazia uma terrível ameaça contra minha pessoa. É lógico que era anônima, mas eu sabia de onde vinha...

Como a ganância pode ser tão maléfica! Como ela pode vir antes do bom senso e até da humanidade! Ponderei que a paralisação da fábrica geraria grandes prejuízos. Quem sabe, ela teria que mudar para outro município, até! Ou teria que dispensar vários funcionários!

Mas, e a poluição do rio? Também não afetaria a vida e a saúde de milhares de pessoas? E todo o ecossistema fluvial? Não iriam morrer peixes? A fauna e a flora da região também não ficariam afetadas?

O conflito se instalou em mim. Eu não poderia me calar diante da situação, nem como pessoa, nem como profissional, nem como cidadã, nem como mãe!

A noite foi de angústia e medo! O sono veio após um turbilhão de preces e ideias que povoavam minha mente. Enfim, meu corpo teve um breve e merecido repouso.

Hoje é domingo! O sol lá fora escancara a paisagem, que, assim como eu, vai acordando sonolenta e preguiçosa...

Cerro novamente os olhos e relembro a aflição da véspera. A carta . O conflito que se apossou de mim.

Abro os olhos! Eu já sabia o que iria fazer: vou registrar queixa; não vou contar minhas suspeitas, mas preciso procurar proteção! A lembrança da ameaça renovou meu medo, mas não posso me calar.

Segunda-feira vou procurar uma amiga minha advogada. Me informarei como posso levar às autoridades uma petição para que seja feita uma sindicância, para avaliar uma possível contaminação das águas do rio.

Sei o que vou enfrentar. Irei, sem dúvida, perder meu emprego.

Mais tarde, tentei registrar uma queixa na Polícia Civil. Procurei a delegacia, onde fui orientada a procurar a P.M. Quando fui lá, me mandaram de volta para a delegacia.

Antes de chegar lá, fui morta com três tiros à queima-roupa, disparados de uma moto, com dois rapazes de capacetes!

Minha esperança, é que este fato seja motivo de uma investigação e que sirva para solucionar o meu DILEMA.

Uma futura reportagem certamente noticiará:

JOVEM É MORTA APÓS DENUNCIAR AMEAÇA à POLÍCIA / da Agência Folha

Ela tentou registrar queixa na Polícia Civil e na PM, em Penedo, no domingo à tarde. Não conseguiu. Três horas depois, Flora Mendes foi morta a tiros por indivíduos desconhecidos. A ameaça ocorreu através de uma carta anônima. Flora procurou a delegacia e foi orientada a procurar a P.M. Mas lá foi mandada de volta à delegacia. Antes disso, foi morta. Um plantonista da delegacia disse que não há estrutura para atender casos como o de Flora, que são enviados à PM, que informou que não tinha policiais para atender a ocorrência. Um inquérito vai apurar o caso.

(A narrativa de D. Letícia é inspirada em fatos recentes, noticiados pelos jornais; vale como um alerta e como uma homenagem à mulher que não teve tempo para ser ouvida pela polícia do seu Estado).

Dilema Ético – Geni Bizzo

Frederico e eu percorremos o caminho ladeado por acácias carregadas de cachos dourados, comuns nos meses de novembro, e que nas manhãs de clima ameno exalam um suave perfume.

Converso com Frederico, mas ele não responde. Pudera, Frederico é meu fusca vermelho, companheiro constante em minhas idas para o trabalho, uma indústria de produtos químicos e de equipamentos para tratamento de água para caldeiras. A Engeltec – esse é o nome da empresa – fica próxima à rodovia, às margens do pequeno rio Baguaçu, que abastece a cidade Santo Antonio do Aracanguá.

Nessas minhas pequenas viagens diárias, vou conversando com o Frederico, mesmo com o risco de ser chamada de doida por pessoas que encontro no trajeto e que podem perceber o “diálogo” animado com meu amigo. “Coitada, falando sozinha..”, diriam elas.

Evito a rodovia. Sigo por um caminho de terra que mais parece uma picada tortuosa. Frederico não reclama. Conhece as pedras do caminho e aprendeu a desviar dos buracos que enfeitam a estrada com suas formas arredondadas. Na paisagem, algumas palmeiras com seus cachos amarelinhos de coquinho babão parecem querer competir com as acácias. Mais além as paineiras estalam suas bolotas sob o sol escaldante e forram o campo com suas plumas, verdadeiras neve de verão. Alguns animais pastam calmamente, alheios aos passarinhos que, agarrados aos seus lombos, se refastelam com os parasitas.

Continuo observando a paisagem, como sempre faço. Mas uma sombra de nostalgia anuvia meu semblante. O dia hoje tem cheiro de despedida. Pode ser minha última viagem. Tento, em vão, não pensar no que vai acontecer depois de hoje.

Explico melhor: sou engenheira química. Eu e mais de duzentas pessoas dependemos da Engeltec para viver. Dias atrás, observei uma avaria num dos condutos que dá passagem a um líquido tóxico que, se despejado na natureza, irá contaminar o meio ambiente. Para repará-la, seria necessário interromper todo o processo produtivo por um mês, no mínimo.

Comuniquei o fato ao presidente da empresa. Ele pediu que guardasse segredo, pois parar a fábrica iria significar a demissão de muitos funcionários, o que certamente iria acarretar uma crise local, numa região já tão carente de empregos.

Mas me calar significa permitir que não se corrija a avaria. Significa aceitar o vazamento do líquido tóxico, com a previsível consequência: contaminação das águas do rio, prejudicando a vida aquática e os habitantes que usam suas águas. Se falar, serei despedida. Meu Deus, o que fazer?

Minha cabeça ferve. Há uma confusão de pensamentos e sentimentos conflitantes com o que aprendi e as necessidades do mundo moderno.

Por um lado, o rio que me traz muitas lembranças. Foi a escola de natação de meus irmãos e coleguinhas que, escondidos das mães, mergulhavam em suas águas, ignorando os perigos que corriam. Foi também o rio onde meu pai e vizinhos muitas vezes passavam os dias de domingo na pescaria animada que combinava lazer e necessidade. Pelo menos uma vez por semana, um peixinho fazia a festa na mesa.

Por outro lado, a dura realidade deste mundo que mudou, da população que cresceu muito e desordenadamente. A tecnologia foi aprimorada para atender às necessidades que surgem. E não podemos ficar com saudosismos, afinal, gostamos do conforto que ela oferece.

Como conciliar as duas situações? Os chefes de estados e homens da ciência trabalham no sentido de minimizar os efeitos nocivos do progresso, criando leis com mecanismos que obrigam as indústrias a preservarem o meio ambiente. Mas acidentes como este acontece, bem sabemos.

Fui educada de forma a sempre me posicionar. Meu saudoso pai, embora adepto de uma educação austera que não dava direito à réplica, dizia sempre que mais vale uma consciência tranquila do que deixar que o medo nos domine. Dizia ele que o medo não tem tamanho e pode nos acorrentar numa grande bola de neve.

No trajeto, vejo plantações de algodão e de milho, onde os pequenos agricultores lutam com os parcos recursos financeiros para tocar um roçado que depende totalmente da água do rio para irrigar suas roças.

Sentindo o cheiro doce das espigas que explodem, tomo uma decisão: vou comunicar ao meu presidente que farei chegar esse acontecimento até às autoridades competentes e à imprensa. Daí...

Seja o que Deus quiser.

Exercício Dilema Ético III

A semente de feijão - Rosemari Romão Correa Lecks

Nasci em uma cidade do interior de São Paulo, pouco conhecida. Cidade pequena que aos poucos foi crescendo, tinha rio, muito verde, tranquila, daquelas em que os vizinhos sentam nas calçadas à tarde. Também havia escolas, universidade e diversas empresas, inclusive multinacionais. Uma delas me chamara a atenção por ser alemã.

Minha infância foi das melhores, tive a oportunidade de ter muitos amigos na rua onde morava. Minha casa ficava na rua e a dos meus avós na avenida; elas se cruzavam nos fundos, então eu tinha dois quintais com árvores e uma goiabeira enorme. Brinquei muito na rua, chegava a ter mais de 30 crianças, tanto as meninas quanto os meninos aprendiam a empinar pipas, fazer balão, pega-pega. Isso durante a semana, aos domingos era missa e se meu pai não estivesse cansado, de bom humor, levava-me e às minhas irmãs para pescar, nadar, a gente ia ao rio de bicicleta.

Apesar de tantas atividades, minha atividade predileta era fazer experiências. Lembro-me de um dia chegar a casa com uma semente de feijão no algodão umedecido, já começando a sair o brotinho. Mas queria mesmo saber se no álcool aconteceria o mesmo. Naquela noite, minha mãe teve que ficar soprando meus dedos até de madrugada; é que eu também quis esquentar a semente de feijão, pra ela crescer mais rápido. Hoje, relembrando, talvez meu interesse pela empresa alemã tenha vindo desta experiência.

Terminado o curso primário e o ginásio, como era chamado na época, fui estudar química em uma escola técnica. Nem mesmo tinha acabado o curso e lá estava eu como estagiária e acreditem, na empresa alemã.

Iria começar a realização de alguns sonhos... Enfim, conseguiria fazer um produto que ajudaria as sementes germinarem mais rápido, com mais vitaminas, menos pragas e seria orgânico, pois matéria prima não faltaria com todo aquele verde da região.

Ao mesmo tempo começaram as decepções, pois a empresa alemã era especializada em agrotóxico químico; mesmo assim, após o estágio aceitei ser contratada. Ainda com algumas dúvidas, entre valores morais, necessidade do trabalho e ideais, somados com o incentivo dos meus pais, que diziam: - “Você tem tudo para crescer na empresa ...”, fui cursar a faculdade à noite e continuei trabalhando.

Foram quatro anos bem difíceis, mas compensou e, para orgulho dos meus pais, fui promovida a Engenheira Química da empresa.

Deixei para trás o crescimento do “meu feijão”. Descobri que para torná-lo melhor, teria que modificá-lo geneticamente. Com certeza cresceria mais rápido, teria mais vitaminas; bastaria injetar na semente o agrotóxico, que eu já conhecia bem, ao invés de pulverizar na planta adulta, assim ele não teria pragas.

Puxa! Poderia ter realizado um sonho e ainda ajudado a sanar a fome do mundo. Mas, o feijão deixaria de ser feijão e a fome do mundo não é pela falta de alimentos e sim pela má distribuição dele.

Passei a me dedicar exclusivamente aos agrotóxicos químicos, porém com muita responsabilidade e consciência. A produção é bem controlada, fiscalizo diariamente toda a tubulação; no rótulo das embalagens vão escritas todas as informações necessárias para que os agricultores possam utilizar de maneira correta, com menos riscos.

Certa manhã, fiscalizando uma tubulação próxima ao rio notei um vazamento. Quase entrei em pânico e informei, imediatamente, o diretor responsável. Porém veio a grande decepção; com a maior frieza o diretor disse para deixar como estava, pois segundo ele, a própria oxidação soldaria, pois não poderia parar aquele setor em hipótese alguma. A empresa perderia muito dinheiro e ainda me ameaçou, caso passasse a informação adiante.

Meu Deus! Será que esse “cara” não sabe das consequências?. Ele não foi criança, não nadou em rio? Não pescou? Acho que ele não entende de qualidade de vida, de gente.

Quem iria comer aqueles peixes, como as crianças nadariam em um rio contaminado e aquelas famílias que sobreviveriam com a venda de hortaliças, irrigadas pelo rio? Sem falar nos funcionários, em contato direto.

Começava outro dilema: Pedir a ajuda de meu pai? Ele poderia se sentir culpado ou decepcionado, com eu. Aceitar a teoria do diretor? Mas, o que fazer com os valores morais e a tal, ética, tão falada na faculdade.

Não! Eu não poderia deixar tudo isso para trás, pois em vez de “sementes de feijão”, se tratava de vidas humanas.

Quando consegui me refazer e pensar melhor, até mesmo rezar, para que houvesse uma saída, veio-me uma ideia: era inverno, com ele teria mais tempo, pois a produção cairia, as crianças não frequentariam o rio e o maior inimigo das hortaliças seria a geada.

Voltei aos livros, agora sobre leis, estudei qual seria o valor da multa, caso o órgão responsável viesse fiscalizar (até me deu vontade de avisá-los, mas, minha dignidade, não me permitiu). Poderia fazer um relatório sobre saúde, qualidade de vida, futuras gerações... Eles não entendem essa linguagem, mas as das cifras ($) sim.

Naqueles dias me transformei em advogada, delegada da receita, fiscal, até mesmo contadora . Fiz um relatório completo, cheio de cifras. Nas poucas palavras escritas, eu me propunha, como engenheira química, a produzir um produto orgânico, apenas para o tempo da restauração. Assim, o impacto ao meio ambiente seria menor e apesar do custo ser bem mais elevado, não se comparava com as despesas que incluí no relatório.

Enviei meu relatório direto para a central na Alemanha. Depois de alguns dias, recebi uma resposta favorável. Iriam enviar soldadores especializados para a restauração. No momento estou me desdobrando para conseguir o produto orgânico, que, com certeza irei conseguir, afinal, as goiabas brancas que eu apanhava e comia quando criança no meu quintal, não tinham nenhum bicho e também nunca viram agrotóxicos Pena que a goiabeira não exista mais...

História real - Adelaide Dalva. J. Garbuio

Hoje, dia 10 de março ,vou escrever algo que aconteceu para a Empresa Euclides Renato Garbuio.

Um caminhão carregado de combustível, que seria levado, até a usina em Santa Adélia, caiu numa represa. Foi um transtorno, pois a usina era da família Cancelco, gente que conhecíamos há muito tempo.

Depois de cair o óleo dentro da represa, foi muito trabalho para tentar retirar tudo. Foram meses e mais meses. Foram contratadas várias pessoas para estarem ajudando e até uma equipe da CETESB, esteve no local, avaliando. Enfim, graças a Deus, depois de tanto trabalho, represa foi totalmente recuperada.


Todos os dias, uma maçã com casca e o médico de ti se afasta – Rosemarie B. G. Bóbbo

É um conhecido ditado e deve ser seguido ... Mas, se trata aqui de maçãs boas, que não tenham sido especialmente manipuladas, para que produzam mais e cresçam maiores do que seu natural.

Na Alemanha, tínhamos um pomar imenso, com castanheiras, pereiras, macieiras, ameixeiras, etc. e plantávamos muitas batatas e ruibarbo (uma espécie de aspargos vermelhos, próprios para fazer doce). Tudo sem o mínimo agrotóxico, que, talvez, naquela época nem existisse.

Mais tarde, aqui no Brasil, havia um enorme bananal atrás da nossa casa e mexericas e todo o tipo de verduras na horta, que nosso jardineiro plantava.

Agora, nosso quintal tem o tamanho de uma piscina, mas ali meu marido plantou e estamos colhendo; temos dois limoeiros, dois mamoeiros, um pinheiro, muitas pimentas e agora, formando uma linda horta, tudo ao natural.

Sobre os transgênicos, que uns olham como sendo um progresso da ciência e outros percebem isso como sendo uma modificação das espécies de plantas para melhor eu quero distância... Prefiro tudo ao natural, como Deus tudo criou ... AMO A NATUREZA ... QUE O HOMEM ESTÁ QUERENDO DESTRUIR. “

“Depois que a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for envenenado vocês perceberão que dinheiro não se come.” Frase indígena.

A noite da decisão – Fátima

Noite fria. Como todos os dias, coloquei meus filhos em suas camas e me dirigi ao meu quarto. Mas esta noite era diferente das outras. Estava nervosa, ansiosa, receosa com o que vira na empresa onde eu trabalhava.

Sou engenheira química e havia descoberto um defeito no funcionamento das máquinas, que acarretaria sérios perigos e danos às pessoas e à natureza. Nasci numa cidade do interior como esta, na qual hoje eu estou morando devido ao meu trabalho. Foi uma opção e uma boa proposta de trabalho transferir-me para esta cidade, onde também poderia criar meus filhos com mais liberdade e mais felizes.

Adormeci pensando no problema e me perguntando o que fazer? O que decidir?

Sonhei. Estava na casa de vovó, onde eu passara os melhores momentos de minha vida. Além de todos os valores que eu adquiri convivendo com ela, vovó me ensinou muito mais: a necessidade de uma vida sadia, correta, o amor ao próximo, o amor à natureza e os cuidados com ela.

Não sei porquê sonhei com ela. Talvez algum recado? Que saudades da vovó! Mas, no dia seguinte, as palavras do meu diretor, martelavam em meu cérebro:

- Guarde esta descoberta para você. Não posso parar o funcionamento da minha empresa e se isto vier à tona, esse defeito que você constatou, precisarei sacrificar o emprego de vários funcionários e o seu também. Pense na reviravolta que isto vai causar na sua vida, a mudança que irá causar para si e para sua família.

Essas palavras não saiam da minha cabeça. Estava em jogo a minha família e a de várias pessoas que já faziam parte dela. Eram meus vizinhos, meus amigos...

Isso também iria mudar a vida de outros trabalhadores. Pescadores que viviam da pesca do rio que atravessa a cidade, e onde eu participava fazendo parte integrante dela.

E os ensinamentos passados aos meus filhos: ser honestos, verdadeiros e só viverem com a verdade? Nesse conflito de consciência, lembrei-me de uma frase que ouvi da vovó. Ela, novamente.

- Não aceite trabalhos que você não possa fazer direito para não se sentir imperfeita.

Isto bastou. Na manhã seguinte tomei minha decisão.

Compartilhei com todos os meus receios e todos nós, empregados da empresa, conseguimos, por meio de palavras e atitudes convencer o nosso diretor a fazer a coisa certa. A empresa parou...


A grande decisão - Mariângela Januária Pezzotti Gomes

Nascida em Jarú, pequena cidade do interior, Helena, quinta filha de Jarbas e Luíza, casal que, sempre em seus ensinamentos mostrara aos filhos a importância e o valor de agirem com discernimento, atitudes corretas, determinação e honestidade.

Com essa formação cresceram seus filhos. Helena, muito estudiosa, responsável e grande admiradora da natureza, se encanta quando o assunto nas aulas são as plantas orgânicas.

Seus pais possuem um pequeno sítio. Helena, desde criança, colabora nos trabalhos de preparar o solo para o plantio das hortaliças e cereais. Acredito que esta vivência foi a responsável, após terminar o colegial, da sua escolha ao ingressar na faculdade, no curso de agronomia.

Termina a faculdade. Presta concurso e, aprovada, passa a trabalhar numa grande empresa beneficiadora de produtos, isto é, cereais transgênicos.

Após algum tempo de trabalho na empresa, descobre uma anormalidade gravíssima nas tubulações, onde os cereais são beneficiados. Muito preocupada com o que vê, leva ao conhecimento do empresário, que lhe ordena sigilo.

A engenheira se assusta, fica decepcionada, mas não aceita o que ouve e vê. Resolve convencer o patrão a mudar e afirma que o beneficiamento não pode continuar assim; o mal deve ser solucionado com urgência e providências devem ser tomadas. O beneficiamento deve ser interrompido por um mês e tudo deve ser reformulado, para garantir a qualidade do produto. Se isto não for feito, a empresa terá grande prejuízo, os cereais continuarão sendo contaminados.

Ele insiste em continuar como está e alega ser impossível parar a empresa parar por um mês. Ela chega a dizer que deixará o emprego.

Helena não desiste, com seus fortes argumentos e propósito firme acaba convencendo o patrão a mudar o sistema.

Depois disto tudo, com o problema solucionado, os cereais passaram a ter uma qualidade extra superior, e os funcionários permaneceram com seus empregos garantidos, e felizes.

Engenheira Helena e empresário demonstraram ser pessoas honestas, responsáveis e éticas.

Helena não esquece os ensinamentos familiares que herdou. Com discernimento, atitudes corretas, determinação e coragem, tudo foi resolvido, sem prejuízo de ninguém.