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Uma grande vitória poder divulgar o nosso projeto!
A OFICINA DE LEITURA E CRIAÇÃO LITERÁRIA
3A. IDADE CLARETIANAS FOI UM DOS PROJETOS SELECIONADOS PARA APRESENTAÇÃO NO III FÓRUM DO PLANO NACIONAL DO LIVRO E DA LEITURA E NO III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS, EM AGOSTO DE 2010.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A rosa de Paracelso II

A rosa da palavra - Alice Ferreira


O que não gostaria de perder no tempo é a palavra, em toda sua essência, significado e poder de reflexão.
Se a perdermos, não haverá histórias: de vida, de humanidade e de consciência.
Lembro com saudades das palavras de estímulo e garra na fala de meu pai: "estude, aprenda o que mais puder. Esta vai ser a maior herança que posso te dar, a qual ninguém poderá tirar de você.”


A rosa da partilha - Iandara Palmero

Eu com sete anos de idade, meu irmão com cinco. Hora do almoço e minha jovem mãe com apenas 23 anos, fritando os bifes(apenas quatro) na frigideira de ferro. Fritava também as rodelas de cebola, do modo que apenas ela sabia fazer. Terminada a fritura e servidos os bifes, eu e meu irmão entrávamos numa competição pela gordurinha da frigideira. Mas, sempre chegávamos num acordo pelo direito de passar o pão na gordurinha da frigideira. Um gesto simples, que só as crianças sabem valorizar. No entanto, decorrido tanto tempo ainda me lembro com carinho minha infância modesta (bem modesta), enriquecida pela ternura materna e pela autordade paterna exercida com moderação e equilíbrio.


A rosa da expressão - Marinalda Codo Rossetti

Devo confessar que cheguei em casa bastante frustrada da nossa ultima aula. Como trabalho para Oficina de Literatura eu deveria ter escrito sobre a Rosa de Paracelso, mas não fiz porque nada me ocorreu; nada, não, mas tantas coisas que não consegui me concentrar em nada específico.
Falar da Fé, da música da sinceridade, dos livros, da palavra, das coisas simples, dos elos do voluntariado, dos valores e hábitos cristãos, do que nada é por acaso e da convivência humana, que foram muito bem explorados.

Tive a idéia de escrever sobre como chegamos até aqui. Como foi encontrar uma pessoa tão maravilhosa, com tamanha garra, amor e conhecimento sobre literatura e tão carismática a ponto de faze com que soltemos de o melhor , aos poucos, devagar e em grande estilo, revelando em nós o que jamais imaginamos ser possível.
Como nos transportamos para o Paraíso em 50 minutos dessa aula e o que captamos sobre a literatura e conseguimos nos expressar se deve ao fato da maneira como nos é pedido, ou seja, da forma clara, simples e transparente com que chega até nós e junto com a sincronia que existe na classe fica muito fácil de captar.

Como a união dessa classe com a professora se tornou uma simbiose de prazer e realização e como nos entregamos a este prazer. Devemos brindar, comemorar essa simbiose.
Devemos celebrar estes 50 minutos tão rápidos, mas tão intensos. Devemos celebrar a vida que nos deu essa oportunidade. Devemos escrever, sim, e muito, não só para nós mesmos, mas porque não? Para a eternidade!
Assim, posso dizer que tivemos muito mais sorte do que Paracelso, porque além de termos uma grande incentivadora, nós transmitimos o que queremos, e o que é melhor, muito melhor nós nos realizamos com isso.




Minha lembrança de infância - Maria Inês Dominiquini


Essa é uma história ou lembrança, que gostaria que nunca fosse esquecida.
Lembro-me que, ainda criança, todas as tardes, na cidade do interior onde morava, eu
gostava de ir espiar o realejo que na praça ia tocar.
O homem amigo sentava-se no banquinho e esperava alegre pelo seu amigo
macaquinho.
O macaco treinado para não poder errar.
Quando dentro da caixinha a moeda foi jogada.
Quando a música tocava , o macaquinho ensinava pra criançada , a dança do samba e baião.
Muita gente ficava sentada e conversando.
Enquanto o realejo espalhava suas canções pelo ar.
Por isso, eu gostaria que todas as pessoas, tivessem as tardinhas para apreciar, na
pracinha, perto de casa, o realejo que ali fosse tocar.


Minha descoberta pessoal - Letícia Delbel Brunelli


Na semana passada, voltando para casa, fui pensando como eu iria responder a pergunta da tarefa pedida.
Logo me passou pela cabeça uma descoberta que fiz ultimamente: “ Nada é por acaso”.
Chegando em casa, ao guardar meu material na escrivaninha, deparei com uma velha caderneta de anotações.
Senti vontade de abri-la e achei um pedaço de papel amarelado, escrito por mim, mas que nem me lembrava mais.
Nele havia frases que falavam de Deus, sofrimento e oração.
Na primeira frase estava escrito: “Nada vem por acaso, tudo provém da vontade de Deus. Preste atenção nos pequenos acontecimentos e considere-os como saudações de Deus”.
Então, assim confirmado, por acaso, escrevi minha resposta:
Ao longo do meu caminho, fui observando fatos surpreendentes, mas que por ocorrerem perante nossos olhos tantas vezes, nós nem prestamos atenção : a suavidade da chuva, a beleza das flores, o canto dos pássaros, a melancolia do entardecer, a magia da noite...
Dia após dia, essas sensações vão se tornando corriqueiras e normais.
Mas, também existem coisas que acontecem, às vezes, e nem prestamos atenção, pois
nos parecem meras coincidências : achar uma concha perfeita na areia, ver um beija-flor pairar no ar na frente de uma flor, receber uma flor inesperada, encontrar uma frase num livro que nos emociona, achar uma pessoa amiga por “acaso”...
Então, de um tempo para cá, fui começando a notar que coisas casuais apareceram em minha vida, como que “por acaso”.Quanto mais atenta eu ficava, mais eu percebia essas ocorrências, que provavam que esses “acasos” estavam me levando novos rumo e nova descobertas.

Hoje, eu gostaria de compartilhar com meus filhos e meus amigos esta crença maravilhosa, de que Deus sussurra silenciosamente para nós e que devemos estar atentos, com nossas mentes e nossos corações para ouvir e sentir nessas pequenas coincidências, o Sopro Divino e nos emocionarmos ao saber o quanto somos amados por Ele.

Herança de família - Silvia Galvani


Ainda há poucos dias, conversávamos, duas amigas e eu, quando uma delas confessou ter medo de morrer, pois sentia deixar os seus.; queria ver seus netos crescerem, casarem, enfim, tinha muito a fazer ainda. Lembrei de uma frase que li sobre Ravel, que ao perceber que seu fim estava próximo, lamentou : “Mas, há tantas músicas esperando ser escritas!” Isso não é medo, é saudade da vida, pois a vida é bela.
Passei a refletir sobre o assunto. É uma idéia da qual não se pode fugir, quando se dá conta de que os anos restantes são muito menos que os já vividos. E, o que deixar para os que continuarão a viver depois de nós? Não penso nas coisas que fui ajuntando durante a vida, mas nas coisas de que tanto gosto e que me dão prazer: minhas poucas orquídeas, com a recomendação de que não as deixassem de molhar ou as inúmeras receitas trocadas com colegas, ou através de cursos de culinária e algumas até gravadas, tempos atrás.
Acho que para eles não tem importância alguma, só darão mais trabalho. Estão ai, bem ao alcance das mãos, é só quererem e poderão fazer uso delas.
O que realmente desejo que fique, são os valores e hábitos cristãos que recebi de meus pais, tanto por meio de palavras, como de exemplos.
Antes, porém, preciso fazer algumas perguntas: Será que amei o meu próximo como a mim mesma? Tratei as pessoas como queria ser tratada? Pratiquei a justiça, amei a misericórdia e andei humildemente com Deus?

Que rosa ficará? Cleudnéia Zavarello

Quando fiquei pensando em alguma coisa para escrever, me vierama à mente as qualidades que eu trazia nas minhas lembranças, das avós, mãe, madrinha, tias e amigos; que, talvez, no momento em que estávamos juntos, não me eram tão marcantes. Hoje penso: deveria ter aprendido mais com elas a fazer aquele pão, aquele crochê e outras mil coisas.
Muitas vezes na minha vida, quando estou fazendo algo, mesmo no cotidiano, vejo um jeitinho de Vó Maria, Vó Adelina, mãe Cida, madrinha Júlia, , das tias e amigas .
Então chego à conclusão que carregamos alguma coisa de todas as pessoas que passaram nas nossas vidas.
E, com certeza, a mesma coisa vai acontecer com meus filhos, netos, sobrinhos, afilhados e amigos.
Alguma coisa da Néia vai ficar. Gostaria que fosse o Amor e respeito pelas pessoas.

Transmitir, sempre; esquecer, nunca. Preservar. Rosemarie B.G. Bobbo


Desde 1500, em minha família, a fé em Deus, seu filho Jesus Cristo e no dom inefável do Espírito Santo, sempre foram, serão e espero que nunca deixem de ser o MAIS IMPORTANTE E SEMPRE TRANSMITIDO DE PAI PARA FILHO...
Depois que dissermos: “SENHOR, dispõe de mim, não quero mais ser eu que mando em minha vida, mas sim TU!” Nossa vida torna-se uma maravilhosa aventura... Notando-se que Deus não se esquece de nos dirigir, nem um instante sequer e que não existem mais coincidências.
Não nos transformamos em Santos , mas, como Jesus morreu por nós na cruz, Ele nos perdoa e como aprendi na escola dominical, quando eu era criança, Jesus joga nossos pecados no mar e coloca uma placa muito bem afixada, com os dizeres: “É PROIBIDO PESCAR.”

‘Um conselho de uma mulher de 76 anos”
Não durma a noite sem ter lido um trecho da Bíblia Sagrada...Se não estás acostumada, comece por João, depois Atos e vá até Apocalipse, um capítulo a cada dia, pedindo antes sempre a unção do Espírito Santo. Depois, leia a Bíblia toda, começando por Gênesis... devagar e pensando no assunto. Leia com seu marido ... filhos... netos... a qualquer hora e ore.... converse com Deus, como se Ele estivesse sentado ao seu lado, sempre em nome de Jesus e sobretudo AGRADECENDO E LOUVANDO SUA SUPREMA SANTIDADE, pois Ele não é nosso servidor, para somente atender pedidos
e jamais TE CONCEDERÁ UM PEDIDO QUE TE POSSA AFASTAR DELE , POIS
NOSSA SALVAÇÃO É MAIS IMPORTANTE PARA ELE, DO QUE NOSSOS BENS, SAÚDE, etc... ELE NOS AMA PROFUNDAMENTE E ELE É O ÚNICO DEUS QUE EXISTE...
A BÍBLIA diz: “Porquanto há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus que já foi homem” l. Timóteo 2:5.
“Mas a todos, quantos o receberem, deu-lhes o poder e serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem em seu nome”. João 1:12.
Todos nós nascemos criaturas de Deus e somente nos transformamos em Filhos, quando não somente nos convencemos, mas nos convertemos, entregando nossa vida á Jesus.
Jesus não fundou nenhuma religião, Ele fundou a FÉ NO PAI, NO FILHO E NO ESPÍRITO SANTO ... E é esta, que tanto Católicos como Evangélicos tem: A palavra
DEUS está inserida 289 vezes na Bíblia Sagrada!


ESQUECER NUNCA, QUE TEMOS MUITAS RELÍQUIAS, SIMPLES, MAS QUE NOS LEMBRAM NOSSOS QUERIDOS ANTEPASSADOS ...
Meu marido tem um violino, guardado com carinho, que foi produzido por meu sogro.
Não é um Stradivarius, porém, tem um som maravilhoso. Nosso faqueiro tem uns 200 anos, o qual usamos somente no Natal. Temos também duas panelas que tem cerca de 300 anos, uma é de ágata e está perfeita. Tenho ainda um BIDERMEIERARBAND, uma pulseira que meu Tataravô trouxe do Egito para sua filha e desde então, fica sempre com a mais jovem das Grassmann, como, por meus últimos antepassados terem sido somente homens, sou a última mulher com esse sobrenome, logicamente de nossa ramificação. Assim, essa pulseira, que inclusive está no dicionário, ficou para mim ...

É composta de ouro antiguíssimo e 135 granadas, uma espécie de rubi... Seu valor é mais pela antiguidade, do que comercial ...
E, PRESERVAR PRECISAMOS, ENTÃO: NOSSA FÉ EM CRISTO, DAR VALOR E HONRA AOS QUE NOS ANTECEDERAM E QUE NOS DERAM TANTOS CONSELHOS ÚTEIS E AS PEÇAS OU OBJETOS QUE NOS FAZEM LEMBRAR ÉPOCAS EM QUE AINDA NÃO VIVÍAMOS ...



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Exercício: A rosa de Paracelso


Na retomada das oficinas no segundo semestre de 2009, estudamos o belo conto de Jorge Luís Borges - A rosa de paracelso. Após a análise e discussão, os oficineiros foram convidados a escrever alegoricamente sobre a "sua rosa de paracelso". Que coisas eles gostariam de transmitir para que não se percam. Obtivemos um resultado adorável.
Registramos o nosso agradecimento à querida Vera Gracia, que gentimente digitou os textos, para que possamos atualizar o blogue com mais frequência.

Um discípulo, por favor - THERESA

Ah! Quantos inventos, quantos segredos, mistérios, tradições, cultura, um verdadeiro tesouro foi sendo engolido pelo tempo, porque não encontraram um só discípulo disposto a dar continuidade, passá-los adiante.
Já pensaram, se um discípulo apenas , tivesse passado adiante a técnica utilizada há
quatro mil anos na construção das pirâmides?
E Machu Pichu, lá no alto dos Andes, como foi construída?
Quantos séculos de estudo e pesquisas nos teriam poupado.
Em nosso tempo também não é diferente. Apesar de vivermos na era da comunicação,
ainda há mistérios guardados à espera de discípulos.
Lembro-me de um bom velhinho, seu João, que morava em frente à minha casa. Era benzedor, coisa tão esquisita na era das mais avançadas pesquisas no campo da medicina.
Porém, não havia médico, ciência ou remédio que desse conta da erisipela da perna da minha mãe. E lá íamos nós, pedir socorro ao seu João que, com sua bondade infinita,
benzia a perna doente.
Não sei qual era a alquimia. Se era fé, confiança, carisma; o fato é que no dia seguinte,
o inchaço cedia e o vermelhão desaparecia.
Um dia, sentado na soleira da porta, a cabeça pendente e tristonha, seu João me confessou:
- Eu gostaria tanto de deixar “isto” para alguém, mas meus filhos não querem saber e
os outros, não se interessam.
Fiquei triste e pensativa mas, que fazer?
Nunca tive dom para benzedeira.
Alguns meses depois, seu João faleceu e com ele seu maravilhoso dom de
minorar o sofrimento das pessoas, curando-lhes as dores.
Deixar como legado “Sinceridade” - José Batista Amador

Se este adjetivo fôsse meu, eu não venderia, reservaria um bom tanto para mim e distribuiria para todos que me rodeiam; minha família, meus amigos e a todos aqueles que encontramos.
Como admiro esta palavra! Que sede tenho eu de beber desta fonte, que pode ser inesgotável, não depende dos outros e nem de grandes investimentos, apenas de nós mesmos.
A meu ver, esta é a fonte verdadeira, onde encontramos todas as propriedades que
necessitamos para alimentar nossas necessidades espirituais e emocionais.
Acredito que ainda existem muitos seres humanos com esta qualidade, mas está
bem distante do ideal, principalmente, levando-se em conta, o cenário político dos
nossos dirigentes, que mentem, descaradamente, faltando com a verdade, não a bem da coletividade, mas sim, legislando em causa própria.
A sinceridade incomoda hoje e sempre incomodou aqueles que gostam de ser iludidos.
Já ouvi em discussão uma pessoa dizer:-
- Eu estou sendo sincero.
E a outra responder: - Para o meu gosto, você está sendo sincero demais.
Excesso de sinceridade não mata ninguém, pelo contrário, ajuda a resolver os problemas da nossa família, da nossa Cidade , do nosso Estado, do nosso País e do Mundo.
Vamos dar o primeiro passo?


A rosa do saber - Vera Gracia Lorenzon Ferreira
Livro, manancial para minha sede de saber.
Inquisições mil, revolucionam meus neurônios!
Verto lágrimas de emoção...
Rosa mística do eterno saber!
Ora pro nobis.
Sapiência que aos poucos me dimensiona...
Amém, a toda miragem livresca.

As coisas simples da vida - Maria de Lourdes Santos Pinto

Dar valor as coisas mais simples da vida.
Sentir o perfume duma flor.
Observar a alegria no olhar de uma criança.
Fazer um donativo singelo a uma pessoa necessitada.
Fazer uma oração de agradecimento ao Pai Eterno:
“Obrigada Senhor, pelo dom da vida.”
Receber abraços e beijos de uma pessoa querida, em momentos de tristeza
ou de alegria.
São pequeninas coisas que dão sentido à vida.


A rosa do voluntariado - Aurora Ferreira

Simples, mas atinge um número imenso de pessoas. Nem sempre o dinheiro resolve tudo. Podemos tê-lo em mãos, mas precisamos também do trabalho, para ajudar aos necessitados.
Nada mais nos satisfaz, do que vermos o olhar de uma criança ou mesmo de um
idoso, ao receberem algo que necessitam.
Ao trabalharmos para esse fim, o dia torna-se pequeno e é um motivo para diversas
pessoas se unirem.
Há pessoas que, através de um simples convite, sentem-se entusiasmadas e passam a fazer parte da nossa equipe.
Seja você uma delas.


Aqueles domingos - Adelaide Dalva T. Garbuio

Hoje cinco de setembro, as lembranças ficam dentro da cabeça.
Vou falar dos domingos que ia àmissa, e já deixava pronto o que iria fazer para o almoço. Deixava temperados os bifes que fritaria. Cozinhava o arroz, depois punha na vasilha coberto de fatias de queijo e colocava no forno, para gratinar.
Quando chegava da missa, estava tudo pronto.
Os domingos eram cheios de alegria! Sempre ouvíamos a Rádio Nacional do
Rio de Janeiro, escutando as lindas músicas do maestro Rafael Hinhat.
Uma das músicas que sempre gostei foi My Way, a qual canto até hoje, com
saudades e lembranças da minha vida.
Enquanto comíamos, a música enfeitava nossos corações! Ouvíamos Carlos Galhardo,
cantando Flor de Maio; também a Ave Maria, de Erotides Campos, de Piracicaba.
Essas são as lembranças que vivi, fazendo o almoço para todos.
Música especial era também de Francisco Alves, Rei da Voz, que cantava
Fascinação, que até hoje é minha música predileta.
Tive o amor de meu neto Ulisses, que toca violino e eu canto a Fascinação, isso
enfeita minha vida e meus sonhos.


Bondade - Maria Inês Mascarin Filier

- Sabe Inês:- “Eu tenho inveja de quem é bom ! Como eu queria ser boa!”
Eu ficava olhando para ela e pensava:-
- Se ela não é boa, então quem será?
E, até hoje, estas palavras ficam ecoando em minha cabeça, pois ela foi abandonada no asilo quando nascera e nunca soube quem a abandonou, nunca teve ninguém para chamar de pai e mãe, nem pais biológicos, nem adotivos, pois nunca se interessaram em adotá-la, pois além de negra, tinha defeito físico, corcundas enormes nas costas ,que a deixavam torta, empurrando-a para frente.
E como eu a admirava !
Maria Aparecida Ventura, mas todos a conheciam como Cidinha. Foi criada no Educandário Santa Maria Gorette pelas freiras até seus 18 anos, quando então mandaram-na trabalhar como doméstica em uma casa de família na cidade de Piracicaba.
Ela me disse:- Inês (era assim que me chamava), eu chorei tanto , porque sentia falta das freiras, das minha amigas e de tudo o que tinha no Educandário, a mulher, dona da casa, me deu um quarto na parte superior, eu sentia tanta solidão e após algum tempo fui morar no asilo. Arrumei um emprego e após um tempo fui trabalhar como faxineira na Escola Alem , trabalhava durante o dia e estudava a noite e com muito sacrifício consegui meu diploma de contabilidade.
De posse do diploma, CIDINHA começou a mandar currículos para tudo quanto era lugar que sabia que estavam precisando. Chegavam as respostas pedindo que ela se apresentasse no local para a referida vaga. Toda feliz lá ia CIDINHA para o seu tão merecido emprego e quando se identificava nas firmas, as respostas eram quase sempre as mesmas: - “a vaga já foi preenchida, no momento não estamos mais necessitando” e assim prosseguiu sua vida trabalhando na Escola Alem, até se aposentar e mesmo após a aposentadoria teve que continuar trabalhando, porque o salário, mal dava para pagar o aluguel.
Dormia com pessoas mais velhas, cuidava de doentes e assim prosseguia sua vidinha simples, humilde, mas honesta.
Viveu sempre sozinha, com seus cachorrinhos e gatinhos, que ela tratava como se fossem seus filhinhos. Não reclamava de nada, embora fosse doente, pois devido ao seu defeito físico, tinha problemas respiratórios, mas tudo agradecia a DEUS e tinha um carinho especial para com todos que a conheciam.
Sempre que tinha oportunidade, após o ensaio do coral da igreja que terminava tarde da noite, me oferecia para levá-la para casa e lá íamos nós contando nossas vidas, nossos casos e ríamos a valer. Um dia ela até engasgou de tanto rir e ela perguntava:-
- E como está seu marido? A Erika? A Ellen? O Bruno? Que são minhas filhas e meu neto, que nessa época só tinha um. Ela falava:-
- Inês, eu acho seu neto lindo, aliás, suas filhas também são lindas.
- Ah! Eu ficava toda cheia e assim eu voltava feliz para casa . (Como é fácil fazer as pessoas felizes ).
O tempo foi passando, ela foi morar mais longe, passou a fazer parte de outra comunidade, mas sempre engajada com a música, pois ela amava cantar e por um bom tempo não nos vimos mais. Numa manhã recebi um telefonema que ela havia morrido.
Fui ao velório e lá encontrei outras pessoas que também a conheciam e pedi que se identificassem. A maioria era do Coral das Igrejas por onde ela havia passado, de vários
pontos e bairros da cidade, que irmanados na dor e na saudade, cada um dava seu testemunho de onde a conhecera e o quanto a queriam bem. Oramos, cantamos, porque era o que ela mais gostava e assim prestamos nossas mais simples e humildes homenagens a quem tinha um único objetivo na vida , o desejo de ser BOM !
E hoje eu digo do mais fundo do meu coração:
- COMO EU TENHO INVEJA DE QUEM É BOM! COMO EU QUERIA SER BOA!