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Uma grande vitória poder divulgar o nosso projeto!
A OFICINA DE LEITURA E CRIAÇÃO LITERÁRIA
3A. IDADE CLARETIANAS FOI UM DOS PROJETOS SELECIONADOS PARA APRESENTAÇÃO NO III FÓRUM DO PLANO NACIONAL DO LIVRO E DA LEITURA E NO III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS, EM AGOSTO DE 2010.

domingo, 21 de agosto de 2011

Oficina Junho

Os textos que se seguem obedecem à proposta de resgatar aspectos da cidade de Rio Claro que estejam ligados a algum dos sentidos (ou todos) que formam o sistema sensorial. A cidade nos envia estímulos sensoriais o tempo todo, nós os percepcionamos, mas nem tudo permanece fixado na memória de curto ou longo prazo. Ao trabalharmos com a possibilidade de resgatar tais sensações, abre-se um espaço para amalgamar vivências pessoais ao espaço público. Nos exercícios de escrita, cada aluno trouxe um aspecto, subjetivo ou objetivo, atendendo à proposta.

Trocando New York por Rio Claro

Texto de Rosemarie Brunhild Grassmann Bóbbo

Vivendo em São Paulo, passando os fins de semana num belíssimo Clube de Campo, nossos três filhos em ótima escola e a firma de meu marido a cem  metros do nosso apartamento, estávamos felizes ...

O prédio, no qual morávamos, situava-se na confluência da Av.Pacaembú com a Lavradio, dezenas de carros passavam por lá, noite e dia, muitos buzinaços e brecadas ... barulho cidadino ...mas, nada disso nos incomodava... Nossa AUDIÇÃO nada percebia !!! Meu marido, vez ou outra dizia: “se algum dia mudarmos de cidade, só poderá ser para new york ... “

Mas, a firma que tínhamos em Santa Gertrudes, repentinamente, precisou de nós ... E? ... Em 1974, nos mudamos para Rio Claro ...

Rua 3, silencio total á noite. Em vez de apartamento, bela casa térrea, jardim, pomarzinho ...

Mas ...apesar de os dormitórios se localizarem para trás, se algumas pessoas parassem perto da grade de nosso jardim da frente , conversando ... acordávamos !!!

Certa noite acordei com um barulhinho de  ... tac... tac.. tac..  e alguém dizia números ... o que seria ???  A família do vizinho, jogando tômbola ... e o muro que separa as duas casas era muito alto ... o que faz a audição: o hábito de se ouvir barulhos desagradáveis , que não mais nos aborrecem nem nos acordam ... e, repentinamente, praticamente, sussurros, nos fazem sair do sono mais profundo !!!

Agora já nos sentimos verdadeiramente Rioclarenses... mas, o interessante é que em New York, quase todas as Avenidas e Ruas são numeradas como aqui em rio claro ...

Portanto ... mudamos pelo menos para uma cidade com a mesma organização urbana, de New York ... E, bem mais calma, apesar de não mais ter o silencio de 1974 ...


EM TEMPO: O sentido OUVIR , encontra-se 200 vezes na BÍBLIA SAGRADA.
Em TIAGO, diz DEUS o seguinte: “... TODO O HOMEM, POIS, ESTEJA PRONTO PARA OUVIR, TARDIO PARA FALAR, TARDIO PARA SE IRAR."

E em JOÃO, lê-se: “E, É ESTA A CONFIANÇA QUE TEMOS PARA  COM ELE, QUE, SE PEDIRMOS ALGUMA COISA, SEGUNDO A SUA VONTADE, ELE NOS OUVE !!!”



                           

Interpretação Sensorial de Rio Claro



Sabedoria (poema de Letícia D. Brunelli)


                                I
Uma noite eu caminhava numa rua,
sózinha, eu e a noite.
Como uma pulseira de brilhantes aberta,
as lâmpadas dos postes brilhavam em cadeia.
Aqui o fecho, lá longe o gancho.
Eram todas irmãs de mãos entrelaçadas
numa roda de ciranda
partida.
Aqui a mestra, lá longe a última discípula.
Pareciam unidas numa linha contínua de luz
Ilusão.
Mentira.
Eram solitárias, egoístas.
Partículas isoladas
que para um observador incauto
 tinham o esplendor da unidade.

                                       II

Uma noite, eu caminhava numa rua,
sozinha, eu e a noite.
Como uma pulseira de berloques enferrujada,
os objetos no chão, em frente de uma cooperativa
se dispunham em cadeia.
Guardavam lugar para o dia seguinte.
Eram latas, sacolas, litros, embrulhos.
Era a fome de mãos dadas com a esperança.
Cada objeto, uma pessoa...
Cada pessoa, uma família...
Realidade.
Verdade.
Estavam unidas numa mesma necessidade.
Partilhavam de uma desgraça comum.
Corpos de estranhas formas
que para um observador displicente
Não passavam de bugigangas.

                              III
Uma noite, eu caminhava numa rua,
sozinha, eu e a noite.
O sonho me desenganou,
me atraiçoou
usou fraude para me cativar.
E eu desiludida deparei
com um quadro humanizado,
menos exuberante, mas muito mais belo.
Tinha unidade.
Grandiosa ligação entre seus míseros elementos.

                               EPÍLOGO

Oh! luzes dos postes, como sois vazias
e enganadoras no vosso brilho.
Que diferença entre vossa falsa união
e a solidariedade que emana desses
pequenos objetos sem luz e sem cor.
(pois, nem ao menos são iluminados por vós)
Nunca podereis ter a unidade ,
e encerrar o amor que a miséria possui
no simples gesto de dizer com humildade :
- Eu me coloco ao lado do meu irmão.

Uma noite, eu caminhava numa rua,
sozinha, eu e a noite.
 Vi as luzes.
Continuei só.
Vi a miséria.
integrei-me no amplexo do universo.
A noite continuou solitária,
com suas lâmpadas tentando cobrir as trevas.
Eu continuei, lado a lado,
com a humanidade.

                             Rio Claro, 17 de Abril de 1967. 

NOTA:- Morei de 1964-1967, na Casa de Nossa Senhora, pensionato para moças, situado na Av.14 Rua 2, durante o período em que cursei História Natural, na antiga FAFI – Rio Claro. A cooperativa citada (Cooperativa dos Funcionários da FEPASA), ficava  na Av. 14 com Rua 3.
Essa composição foi dedicada a minha avó Ana, e ela escolheu  “o nome” para o texto.