A semente de feijão - Rosemari Romão Correa Lecks
Nasci em uma cidade do interior de São Paulo, pouco conhecida. Cidade pequena que aos poucos foi crescendo, tinha rio, muito verde, tranquila, daquelas em que os vizinhos sentam nas calçadas à tarde. Também havia escolas, universidade e diversas empresas, inclusive multinacionais. Uma delas me chamara a atenção por ser alemã.
Minha infância foi das melhores, tive a oportunidade de ter muitos amigos na rua onde morava. Minha casa ficava na rua e a dos meus avós na avenida; elas se cruzavam nos fundos, então eu tinha dois quintais com árvores e uma goiabeira enorme. Brinquei muito na rua, chegava a ter mais de 30 crianças, tanto as meninas quanto os meninos aprendiam a empinar pipas, fazer balão, pega-pega. Isso durante a semana, aos domingos era missa e se meu pai não estivesse cansado, de bom humor, levava-me e às minhas irmãs para pescar, nadar, a gente ia ao rio de bicicleta.
Apesar de tantas atividades, minha atividade predileta era fazer experiências. Lembro-me de um dia chegar a casa com uma semente de feijão no algodão umedecido, já começando a sair o brotinho. Mas queria mesmo saber se no álcool aconteceria o mesmo. Naquela noite, minha mãe teve que ficar soprando meus dedos até de madrugada; é que eu também quis esquentar a semente de feijão, pra ela crescer mais rápido. Hoje, relembrando, talvez meu interesse pela empresa alemã tenha vindo desta experiência.
Terminado o curso primário e o ginásio, como era chamado na época, fui estudar química em uma escola técnica. Nem mesmo tinha acabado o curso e lá estava eu como estagiária e acreditem, na empresa alemã.
Iria começar a realização de alguns sonhos... Enfim, conseguiria fazer um produto que ajudaria as sementes germinarem mais rápido, com mais vitaminas, menos pragas e seria orgânico, pois matéria prima não faltaria com todo aquele verde da região.
Ao mesmo tempo começaram as decepções, pois a empresa alemã era especializada em agrotóxico químico; mesmo assim, após o estágio aceitei ser contratada. Ainda com algumas dúvidas, entre valores morais, necessidade do trabalho e ideais, somados com o incentivo dos meus pais, que diziam: - “Você tem tudo para crescer na empresa ...”, fui cursar a faculdade à noite e continuei trabalhando.
Foram quatro anos bem difíceis, mas compensou e, para orgulho dos meus pais, fui promovida a Engenheira Química da empresa.
Deixei para trás o crescimento do “meu feijão”. Descobri que para torná-lo melhor, teria que modificá-lo geneticamente. Com certeza cresceria mais rápido, teria mais vitaminas; bastaria injetar na semente o agrotóxico, que eu já conhecia bem, ao invés de pulverizar na planta adulta, assim ele não teria pragas.
Puxa! Poderia ter realizado um sonho e ainda ajudado a sanar a fome do mundo. Mas, o feijão deixaria de ser feijão e a fome do mundo não é pela falta de alimentos e sim pela má distribuição dele.
Passei a me dedicar exclusivamente aos agrotóxicos químicos, porém com muita responsabilidade e consciência. A produção é bem controlada, fiscalizo diariamente toda a tubulação; no rótulo das embalagens vão escritas todas as informações necessárias para que os agricultores possam utilizar de maneira correta, com menos riscos.
Certa manhã, fiscalizando uma tubulação próxima ao rio notei um vazamento. Quase entrei em pânico e informei, imediatamente, o diretor responsável. Porém veio a grande decepção; com a maior frieza o diretor disse para deixar como estava, pois segundo ele, a própria oxidação soldaria, pois não poderia parar aquele setor em hipótese alguma. A empresa perderia muito dinheiro e ainda me ameaçou, caso passasse a informação adiante.
Meu Deus! Será que esse “cara” não sabe das consequências?. Ele não foi criança, não nadou em rio? Não pescou? Acho que ele não entende de qualidade de vida, de gente.
Quem iria comer aqueles peixes, como as crianças nadariam em um rio contaminado e aquelas famílias que sobreviveriam com a venda de hortaliças, irrigadas pelo rio? Sem falar nos funcionários, em contato direto.
Começava outro dilema: Pedir a ajuda de meu pai? Ele poderia se sentir culpado ou decepcionado, com eu. Aceitar a teoria do diretor? Mas, o que fazer com os valores morais e a tal, ética, tão falada na faculdade.
Não! Eu não poderia deixar tudo isso para trás, pois em vez de “sementes de feijão”, se tratava de vidas humanas.
Quando consegui me refazer e pensar melhor, até mesmo rezar, para que houvesse uma saída, veio-me uma ideia: era inverno, com ele teria mais tempo, pois a produção cairia, as crianças não frequentariam o rio e o maior inimigo das hortaliças seria a geada.
Voltei aos livros, agora sobre leis, estudei qual seria o valor da multa, caso o órgão responsável viesse fiscalizar (até me deu vontade de avisá-los, mas, minha dignidade, não me permitiu). Poderia fazer um relatório sobre saúde, qualidade de vida, futuras gerações... Eles não entendem essa linguagem, mas as das cifras ($) sim.
Naqueles dias me transformei em advogada, delegada da receita, fiscal, até mesmo contadora . Fiz um relatório completo, cheio de cifras. Nas poucas palavras escritas, eu me propunha, como engenheira química, a produzir um produto orgânico, apenas para o tempo da restauração. Assim, o impacto ao meio ambiente seria menor e apesar do custo ser bem mais elevado, não se comparava com as despesas que incluí no relatório.
Enviei meu relatório direto para a central na Alemanha. Depois de alguns dias, recebi uma resposta favorável. Iriam enviar soldadores especializados para a restauração. No momento estou me desdobrando para conseguir o produto orgânico, que, com certeza irei conseguir, afinal, as goiabas brancas que eu apanhava e comia quando criança no meu quintal, não tinham nenhum bicho e também nunca viram agrotóxicos Pena que a goiabeira não exista mais...
História real - Adelaide Dalva. J. Garbuio
Hoje, dia 10 de março ,vou escrever algo que aconteceu para a Empresa Euclides Renato Garbuio.
Um caminhão carregado de combustível, que seria levado, até a usina
Depois de cair o óleo dentro da represa, foi muito trabalho para tentar retirar tudo. Foram meses e mais meses. Foram contratadas várias pessoas para estarem ajudando e até uma equipe da CETESB, esteve no local, avaliando. Enfim, graças a Deus, depois de tanto trabalho, represa foi totalmente recuperada.
Todos os dias, uma maçã com casca e o médico de ti se afasta – Rosemarie B. G. Bóbbo
É um conhecido ditado e deve ser seguido ... Mas, se trata aqui de maçãs boas, que não tenham sido especialmente manipuladas, para que produzam mais e cresçam maiores do que seu natural.
Na Alemanha, tínhamos um pomar imenso, com castanheiras, pereiras, macieiras, ameixeiras, etc. e plantávamos muitas batatas e ruibarbo (uma espécie de aspargos vermelhos, próprios para fazer doce). Tudo sem o mínimo agrotóxico, que, talvez, naquela época nem existisse.
Mais tarde, aqui no Brasil, havia um enorme bananal atrás da nossa casa e mexericas e todo o tipo de verduras na horta, que nosso jardineiro plantava.
Agora, nosso quintal tem o tamanho de uma piscina, mas ali meu marido plantou e estamos colhendo; temos dois limoeiros, dois mamoeiros, um pinheiro, muitas pimentas e agora, formando uma linda horta, tudo ao natural.
Sobre os transgênicos, que uns olham como sendo um progresso da ciência e outros percebem isso como sendo uma modificação das espécies de plantas para melhor eu quero distância... Prefiro tudo ao natural, como Deus tudo criou ... AMO A NATUREZA ... QUE O HOMEM ESTÁ QUERENDO DESTRUIR. “
“Depois que a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for envenenado vocês perceberão que dinheiro não se come.” Frase indígena.
A noite da decisão – Fátima
Noite fria. Como todos os dias, coloquei meus filhos em suas camas e me dirigi ao meu quarto. Mas esta noite era diferente das outras. Estava nervosa, ansiosa, receosa com o que vira na empresa onde eu trabalhava.
Sou engenheira química e havia descoberto um defeito no funcionamento das máquinas, que acarretaria sérios perigos e danos às pessoas e à natureza. Nasci numa cidade do interior como esta, na qual hoje eu estou morando devido ao meu trabalho. Foi uma opção e uma boa proposta de trabalho transferir-me para esta cidade, onde também poderia criar meus filhos com mais liberdade e mais felizes.
Adormeci pensando no problema e me perguntando o que fazer? O que decidir?
Sonhei. Estava na casa de vovó, onde eu passara os melhores momentos de minha vida. Além de todos os valores que eu adquiri convivendo com ela, vovó me ensinou muito mais: a necessidade de uma vida sadia, correta, o amor ao próximo, o amor à natureza e os cuidados com ela.
Não sei porquê sonhei com ela. Talvez algum recado? Que saudades da vovó! Mas, no dia seguinte, as palavras do meu diretor, martelavam em meu cérebro:
- Guarde esta descoberta para você. Não posso parar o funcionamento da minha empresa e se isto vier à tona, esse defeito que você constatou, precisarei sacrificar o emprego de vários funcionários e o seu também. Pense na reviravolta que isto vai causar na sua vida, a mudança que irá causar para si e para sua família.
Essas palavras não saiam da minha cabeça. Estava em jogo a minha família e a de várias pessoas que já faziam parte dela. Eram meus vizinhos, meus amigos...
Isso também iria mudar a vida de outros trabalhadores. Pescadores que viviam da pesca do rio que atravessa a cidade, e onde eu participava fazendo parte integrante dela.
E os ensinamentos passados aos meus filhos: ser honestos, verdadeiros e só viverem com a verdade? Nesse conflito de consciência, lembrei-me de uma frase que ouvi da vovó. Ela, novamente.
- Não aceite trabalhos que você não possa fazer direito para não se sentir imperfeita.
Isto bastou. Na manhã seguinte tomei minha decisão.
Compartilhei com todos os meus receios e todos nós, empregados da empresa, conseguimos, por meio de palavras e atitudes convencer o nosso diretor a fazer a coisa certa. A empresa parou...
A grande decisão - Mariângela Januária Pezzotti Gomes
Nascida em Jarú, pequena cidade do interior, Helena, quinta filha de Jarbas e Luíza, casal que, sempre em seus ensinamentos mostrara aos filhos a importância e o valor de agirem com discernimento, atitudes corretas, determinação e honestidade.
Com essa formação cresceram seus filhos. Helena, muito estudiosa, responsável e grande admiradora da natureza, se encanta quando o assunto nas aulas são as plantas orgânicas.
Seus pais possuem um pequeno sítio. Helena, desde criança, colabora nos trabalhos de preparar o solo para o plantio das hortaliças e cereais. Acredito que esta vivência foi a responsável, após terminar o colegial, da sua escolha ao ingressar na faculdade, no curso de agronomia.
Termina a faculdade. Presta concurso e, aprovada, passa a trabalhar numa grande empresa beneficiadora de produtos, isto é, cereais transgênicos.
Após algum tempo de trabalho na empresa, descobre uma anormalidade gravíssima nas tubulações, onde os cereais são beneficiados. Muito preocupada com o que vê, leva ao conhecimento do empresário, que lhe ordena sigilo.
A engenheira se assusta, fica decepcionada, mas não aceita o que ouve e vê. Resolve convencer o patrão a mudar e afirma que o beneficiamento não pode continuar assim; o mal deve ser solucionado com urgência e providências devem ser tomadas. O beneficiamento deve ser interrompido por um mês e tudo deve ser reformulado, para garantir a qualidade do produto. Se isto não for feito, a empresa terá grande prejuízo, os cereais continuarão sendo contaminados.
Ele insiste em continuar como está e alega ser impossível parar a empresa parar por um mês. Ela chega a dizer que deixará o emprego.
Helena não desiste, com seus fortes argumentos e propósito firme acaba convencendo o patrão a mudar o sistema.
Depois disto tudo, com o problema solucionado, os cereais passaram a ter uma qualidade extra superior, e os funcionários permaneceram com seus empregos garantidos, e felizes.
Engenheira Helena e empresário demonstraram ser pessoas honestas, responsáveis e éticas.
Helena não esquece os ensinamentos familiares que herdou. Com discernimento, atitudes corretas, determinação e coragem, tudo foi resolvido, sem prejuízo de ninguém.
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