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A OFICINA DE LEITURA E CRIAÇÃO LITERÁRIA
3A. IDADE CLARETIANAS FOI UM DOS PROJETOS SELECIONADOS PARA APRESENTAÇÃO NO III FÓRUM DO PLANO NACIONAL DO LIVRO E DA LEITURA E NO III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS, EM AGOSTO DE 2010.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Exercício Dilema Ético IV

Sonhos de meninos - Alice Ferreira

Na pequena cidade de Martelândia, um grupo de meninos, na faixa etária entre 8 a 12 anos aproximadamente, eram internos do Orfanato “Bem te Quero”. Estes sonhavam um dia retornar às suas famílias de origem. Famílias humildes, sem condições econômicas para educá-los; na maioria tendo somente um ou uma mantenedora. Nenhum com família completa de pai e mãe.

A ansiedade destes pequenos era tão grande que, um dia resolveram por o pé na estrada.

Começa aí a grande aventura dos meninos sonhadores. Fugiram do Orfanato, andando a pé, só com a roupa do corpo, sem alimentação e com objetivo definido: a casa dos familiares, por mais desmantelada que fosse.

Como seu destino de origem estava muito longe, resolveram parar na cidade de “Costa de Tina”, descansar, pois estavam com fome e desidratados. Quem os encontrou foi um Comissário de Menores, que os encaminhou ao Delegado de Polícia, pois já era tarde da noite.

Os meninos ficaram instalados em uma das celas vazias da Delegacia, dormindo no chão, sem alimentação e nada para cobrir seus corpinhos sujos e cansados.

No dia seguinte de manhã, o Comissário de Menores procurou a Assistente Social da cidade que atuava no Projeto de Menores, para que tomasse as devidas providências.

Entrou na ação toda a estrutura da Instituição Regional e a sede que ficava na capital do estado.

A Assistente Social, segundo orientações de sua Coordenação e Diretoria Técnica, teve 24 horas para retirar o grupo de meninos da Delegacia, levá-los para a sede do Projeto local, alimentá-los e encaminhá-los de volta ao Orfanato.

A ordem teve que ser cumprida. A Assistente Social e Coordenadora do Projeto Administrativo acompanhou o grupo dos pequenos sonhadores de volta ao Orfanato “Bem te Quero”

PARA REFLETIR:- Enquanto muitos sonham em ganhar grandes somas em loterias e ficarem ricos, estes pequeninos só sonhavam estarem com suas famílias, queriam “colo de mãe” .

O fato aconteceu realmente, com mais desdobramentos angustiantes. Em virtude de ética, mudou-se nome da cidade, do Orfanato e outras peculiaridades.


Reforma da natureza e o gene terminator - Vera Gracia Lorenzon Ferreira

O homem nômade se alimentava com o que encontrava na natureza.

Com sua experiência de “erros e “acertos”, foi domesticando os animais, diferenciando plantas comestíveis das venenosas, organizando-se em grupos sedentários, foram surgindo os povoados, as vilas e as cidades; a produção de alimentos sempre aumentando. Com o desenvolvimento cultural, o homem começou a diversificar sua alimentação, passando a usar microorganismos na preparação do pão e do vinho.

Experiência do Padre Gregor Mendel, há mais de duzentos anos, com saborosas “ervilhas”, deu início aos estudos de genética na alimentação e nutrição. A partir de então, conseguiu-se enorme avanço na produção de alimentos, para os homens e para os animais. Novas variedades de arroz e trigo, os cereais mais produzidos e consumidos no mundo, foram desenvolvidas.

Através da transferência de caracteres ou genes, que estão no DNA de cada célula de todo ser vivo, eis o surgimento de uma nova espécie de planta ou animal!

Eis o HOMEM se arvorando em CRIADOR!

Atualmente, grande empresas químico-farmacêuticas investem fortunas para criação de variedades de sementes e novos medicamentos, através da transferência de caracteres genéticos de uma espécie para formar outra espécie; dando surgimento aos AGM=Alimentos Genéticamente Modificados e OGM=Organismos Genéticamente Modificados .

Porém, por terem sido “criados” em laboratório estes AGM/OGM são patenteados por suas empresas criadoras e só podem ser reproduzidos por seu “dono”; ou seja, o agricultor que precisar da semente de uma planta ou o pecuarista que necessitar reproduzir cria de animal, terá que comprá-la destas empresas multinacionais, como a Monsanto ou Monsatã, como está sendo denominada. Por exemplo: a soja transgênica (da Monsanto) é resistente ao herbicida Roundup (da Monsanto) e o agricultor terá que adquirir a semente e o herbicida desta empresa, o que configura venda casada, que o governo diz ser proibida, mas o governo terá voz diante das multinacionais ?

E isto é só a ponta do iceberg, pois as pesquisas não param e a cada dia criam-se mais e mais produtos, “viciando-os” com o “seu herbicida”, com o “seu antibiótico”, sem se preocuparem com a inevitável contaminação e envenenamento da natureza...

Como estas empresas são muito “espertas” e não cogitam em perder nenhum centavo de dólar de seus polpudos investimentos, já planejam a criação de um gene denominado “gene terminator”, que incorporado às sementes, deixam-nas estéreis, obrigando o agricultor a adquirir novas sementes sempre que for fazer o plantio, destruindo todo um patrimônio genético de sementes criado até agora pela humanidade. . .

Finalizando, deixo como sugestão a leitura da obra escrita em 1952, por Monteiro Lobato a REFORMA da NATUREZA, em que há um interessante diálogo entre Dona Benta e Emília.


A solução de um dilema – Letícia Brunelli

Minha história precisa ser narrada. Precisa ficar registrada como um alerta para a sociedade. Mas como? Talvez seja tarde demais!

Meu nome é Flora Mendes e tenho uma filha de dezenove anos, que faz faculdade em Belo Horizonte. Fui morar em Penedo, cidadezinha pacata, mas muito hospitaleira,quando procurei emprego, após ficar viúva, ano passado. A cidade é cortada pelo Rio Capim Santo, um dos afluentes do Rio São Francisco. Tinha conseguido uma colocação na “Indústria de Papel Wallpaper” no setor de minha profissão, pois sou Engenheira Química.

Não faz um mês, fui alertada por um funcionário que o tanque de decantação e tratamento do esgoto da fábrica apresentava um sério vazamento, que estava causando infiltração de produtos tóxicos no solo adjacente, que não era muito distante da margem do rio. Logo a contaminação alcançaria a água do rio, tão importante para a cidade, que ficaria irremediavelmente comprometido.

Encaminhei o problema para o setor de manutenção, que tentou, sem sucesso, saná-lo.

Era necessário parar o funcionamento de toda a fábrica para reformar o tanque, que recebia todo o esgoto dela, para ser tratado, pois ele estava comprometido com várias rachaduras.

O problema, em seguida, foi levado ao Diretor da Empresa. Ele respondeu que iria chamar um engenheiro para avaliar o assunto. Os dias se passaram. Ninguém apareceu para fazer a tal avaliação.

Eu só pensava nas consequências daquele incidente. O produto tóxico se espalhava e a contaminação das águas era um fato eminente.

Ninguém ficou sabendo de nada; o diretor tinha nos pedido sigilo para não causar pânico. E ninguém percebia nada, pois a infiltração no solo não era visível, estava abaixo da superfície.

No começo dessa semana, voltei a reclamar uma providência. Em troca, recebi ameaças. A princípio, veladas, mas depois bem mais explícitas, quando falei que iria delatar o fato às autoridades, caso não fosse logo resolvido.

O fim de semana chegou.

O sábado amanheceu um lindo dia! Mas a chegada do carteiro, trazendo uma carta inesperada, transformou meu dia numa agonia! A carta trazia uma terrível ameaça contra minha pessoa. É lógico que era anônima, mas eu sabia de onde vinha...

Como a ganância pode ser tão maléfica! Como ela pode vir antes do bom senso e até da humanidade! Ponderei que a paralisação da fábrica geraria grandes prejuízos. Quem sabe, ela teria que mudar para outro município, até! Ou teria que dispensar vários funcionários!

Mas, e a poluição do rio? Também não afetaria a vida e a saúde de milhares de pessoas? E todo o ecossistema fluvial? Não iriam morrer peixes? A fauna e a flora da região também não ficariam afetadas?

O conflito se instalou em mim. Eu não poderia me calar diante da situação, nem como pessoa, nem como profissional, nem como cidadã, nem como mãe!

A noite foi de angústia e medo! O sono veio após um turbilhão de preces e ideias que povoavam minha mente. Enfim, meu corpo teve um breve e merecido repouso.

Hoje é domingo! O sol lá fora escancara a paisagem, que, assim como eu, vai acordando sonolenta e preguiçosa...

Cerro novamente os olhos e relembro a aflição da véspera. A carta . O conflito que se apossou de mim.

Abro os olhos! Eu já sabia o que iria fazer: vou registrar queixa; não vou contar minhas suspeitas, mas preciso procurar proteção! A lembrança da ameaça renovou meu medo, mas não posso me calar.

Segunda-feira vou procurar uma amiga minha advogada. Me informarei como posso levar às autoridades uma petição para que seja feita uma sindicância, para avaliar uma possível contaminação das águas do rio.

Sei o que vou enfrentar. Irei, sem dúvida, perder meu emprego.

Mais tarde, tentei registrar uma queixa na Polícia Civil. Procurei a delegacia, onde fui orientada a procurar a P.M. Quando fui lá, me mandaram de volta para a delegacia.

Antes de chegar lá, fui morta com três tiros à queima-roupa, disparados de uma moto, com dois rapazes de capacetes!

Minha esperança, é que este fato seja motivo de uma investigação e que sirva para solucionar o meu DILEMA.

Uma futura reportagem certamente noticiará:

JOVEM É MORTA APÓS DENUNCIAR AMEAÇA à POLÍCIA / da Agência Folha

Ela tentou registrar queixa na Polícia Civil e na PM, em Penedo, no domingo à tarde. Não conseguiu. Três horas depois, Flora Mendes foi morta a tiros por indivíduos desconhecidos. A ameaça ocorreu através de uma carta anônima. Flora procurou a delegacia e foi orientada a procurar a P.M. Mas lá foi mandada de volta à delegacia. Antes disso, foi morta. Um plantonista da delegacia disse que não há estrutura para atender casos como o de Flora, que são enviados à PM, que informou que não tinha policiais para atender a ocorrência. Um inquérito vai apurar o caso.

(A narrativa de D. Letícia é inspirada em fatos recentes, noticiados pelos jornais; vale como um alerta e como uma homenagem à mulher que não teve tempo para ser ouvida pela polícia do seu Estado).

Dilema Ético – Geni Bizzo

Frederico e eu percorremos o caminho ladeado por acácias carregadas de cachos dourados, comuns nos meses de novembro, e que nas manhãs de clima ameno exalam um suave perfume.

Converso com Frederico, mas ele não responde. Pudera, Frederico é meu fusca vermelho, companheiro constante em minhas idas para o trabalho, uma indústria de produtos químicos e de equipamentos para tratamento de água para caldeiras. A Engeltec – esse é o nome da empresa – fica próxima à rodovia, às margens do pequeno rio Baguaçu, que abastece a cidade Santo Antonio do Aracanguá.

Nessas minhas pequenas viagens diárias, vou conversando com o Frederico, mesmo com o risco de ser chamada de doida por pessoas que encontro no trajeto e que podem perceber o “diálogo” animado com meu amigo. “Coitada, falando sozinha..”, diriam elas.

Evito a rodovia. Sigo por um caminho de terra que mais parece uma picada tortuosa. Frederico não reclama. Conhece as pedras do caminho e aprendeu a desviar dos buracos que enfeitam a estrada com suas formas arredondadas. Na paisagem, algumas palmeiras com seus cachos amarelinhos de coquinho babão parecem querer competir com as acácias. Mais além as paineiras estalam suas bolotas sob o sol escaldante e forram o campo com suas plumas, verdadeiras neve de verão. Alguns animais pastam calmamente, alheios aos passarinhos que, agarrados aos seus lombos, se refastelam com os parasitas.

Continuo observando a paisagem, como sempre faço. Mas uma sombra de nostalgia anuvia meu semblante. O dia hoje tem cheiro de despedida. Pode ser minha última viagem. Tento, em vão, não pensar no que vai acontecer depois de hoje.

Explico melhor: sou engenheira química. Eu e mais de duzentas pessoas dependemos da Engeltec para viver. Dias atrás, observei uma avaria num dos condutos que dá passagem a um líquido tóxico que, se despejado na natureza, irá contaminar o meio ambiente. Para repará-la, seria necessário interromper todo o processo produtivo por um mês, no mínimo.

Comuniquei o fato ao presidente da empresa. Ele pediu que guardasse segredo, pois parar a fábrica iria significar a demissão de muitos funcionários, o que certamente iria acarretar uma crise local, numa região já tão carente de empregos.

Mas me calar significa permitir que não se corrija a avaria. Significa aceitar o vazamento do líquido tóxico, com a previsível consequência: contaminação das águas do rio, prejudicando a vida aquática e os habitantes que usam suas águas. Se falar, serei despedida. Meu Deus, o que fazer?

Minha cabeça ferve. Há uma confusão de pensamentos e sentimentos conflitantes com o que aprendi e as necessidades do mundo moderno.

Por um lado, o rio que me traz muitas lembranças. Foi a escola de natação de meus irmãos e coleguinhas que, escondidos das mães, mergulhavam em suas águas, ignorando os perigos que corriam. Foi também o rio onde meu pai e vizinhos muitas vezes passavam os dias de domingo na pescaria animada que combinava lazer e necessidade. Pelo menos uma vez por semana, um peixinho fazia a festa na mesa.

Por outro lado, a dura realidade deste mundo que mudou, da população que cresceu muito e desordenadamente. A tecnologia foi aprimorada para atender às necessidades que surgem. E não podemos ficar com saudosismos, afinal, gostamos do conforto que ela oferece.

Como conciliar as duas situações? Os chefes de estados e homens da ciência trabalham no sentido de minimizar os efeitos nocivos do progresso, criando leis com mecanismos que obrigam as indústrias a preservarem o meio ambiente. Mas acidentes como este acontece, bem sabemos.

Fui educada de forma a sempre me posicionar. Meu saudoso pai, embora adepto de uma educação austera que não dava direito à réplica, dizia sempre que mais vale uma consciência tranquila do que deixar que o medo nos domine. Dizia ele que o medo não tem tamanho e pode nos acorrentar numa grande bola de neve.

No trajeto, vejo plantações de algodão e de milho, onde os pequenos agricultores lutam com os parcos recursos financeiros para tocar um roçado que depende totalmente da água do rio para irrigar suas roças.

Sentindo o cheiro doce das espigas que explodem, tomo uma decisão: vou comunicar ao meu presidente que farei chegar esse acontecimento até às autoridades competentes e à imprensa. Daí...

Seja o que Deus quiser.

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