sábado, 29 de outubro de 2011
Oficinas Agosto/setembro
No segundo semestre de 2011, estamos trabalhando mais perto da Poesia. Aprendendo suas delicadezas, sua fúria de palavra tensionada ao extremo. Estudamos a poeta mineira Adélia Prado, que encontra seu motivo no cotidiano. Os alunos foram convidados a escrever sobre esse mesmo tema. Como sempre ocorre, em nossa oficina não há certo e errado, tampouco obrigamos à opção pela forma. Assim, algumas alunas optaram pela prosa, mantendo a temática proposta. Em seguida, os textos.
Oficina Literária
Texto da Geni Bizzo
Na penumbra da sala
Faíscas cintilantes explodem nos olhares atentos
Silencio total na expectativa
o raciocínio é lento
Mas o sorriso é farto evidenciando a vaidade encoberta
O lirismo embala os sonhos
A emoção domina a cena
Sandra incentiva...
Soltem as amarras e voem
Nas asas do sonho real de Clarices, Coras e Adélias
O varão sorri de soslaio do alto de sua cátedra
pois poeta é,
Tem brilho próprio que a humildade esconde.
Pobres de nós
Haja neurônios
Os meus estão já não sei onde.
Rezas e Benzimentos
Texto de Geni Bizzo
a medicina caseira curava até bicho de pé.
As simpatias e as rezas, usadas com emoção,
passavam, com certeza, de geração em geração.
Se minha memória não falha, quero deixar registrado,
embora nos dias de hoje
vão achar muito engraçado.
E sem parcimônia ou compromisso,
passo receitas do bem-querer.
Acompanhando os rastros dos pés da criança na areia,
que só andava segura pela mão,
um ramo de cipó são joão por um machado era cortado,
cortava também o medo na marquinha do pé no chão.
Dor de cabeça? tonteira?
três brasas acesas num copo com água era entornado
num pano sobre a moleira;
dizia-se que era sol e num instante ficava curado,
voltando o infante para a brincadeira.
Espinhela caída, vento virado? Media-se com barbante
da cabeça à ponta do dedão
e depois de três Aves-Marias, a dor sumia num instante,
acalmando o chorão.
Folha de beladona ou saião, quando aquecida, curava inflamação;
sua flor, linda e branquinha, deixava a pele lisinha.
Capim santo, erva cidreira ou chá de estrada,
com um chazinho a criança era acalmada.
Três voltas ao redor da casa, quando a criança nascia,
no colo da mãe ou das tias, evitava o mal de sete dias.
Folhinha de mamona novinha, com azeite aquecido,
cobria o enorme furúnculo, que não mais ficava doído.
Para queimadura? cataplasma de vela derretida e fria, demorava um pouco, mas era certa a cura um dia.
Gripe forte? peito cheio? com emplastro de fubá cozido e quentinho,
respirava melhor o menininho.
Três galhinhos de arruda debaixo do travesseiro
levava embora o quebranto da criança linda e olhar matreiro
que, por causa do mal olhado,
havia chorado o dia inteiro.
picadas de insetos e arranhões
tinham sua assepsia.
Hortelã, poejo, marcelinha,
erva doce, quebra-pedra, manjericão,
arranha-gato, carqueja ou melissa
eram usados em banhos, macerados ou infusão.
No seu quintal ou redondeza, nativas ou cultivadas,
achava ervas de montão.
Com fé sem perder a alegria,
via crescer sua cria.
Crescemos fortes e sem trauma,
com algumas cicatrizes.
Mas reverenciamos dona Pina
e bendizemos nossas raízes.
Coisas da pobreza, da crença ou da fé,
falta de grana ou informação,a medicina caseira curava até bicho de pé.
As simpatias e as rezas, usadas com emoção,
passavam, com certeza, de geração em geração.
Se minha memória não falha, quero deixar registrado,
embora nos dias de hoje
vão achar muito engraçado.
Emociona-me falar sobre isso,
acho muito bom reviver.E sem parcimônia ou compromisso,
passo receitas do bem-querer.
Acompanhando os rastros dos pés da criança na areia,
que só andava segura pela mão,
um ramo de cipó são joão por um machado era cortado,
cortava também o medo na marquinha do pé no chão.
Dor de cabeça? tonteira?
três brasas acesas num copo com água era entornado
num pano sobre a moleira;
dizia-se que era sol e num instante ficava curado,
voltando o infante para a brincadeira.
Espinhela caída, vento virado? Media-se com barbante
da cabeça à ponta do dedão
e depois de três Aves-Marias, a dor sumia num instante,
acalmando o chorão.
Erva santa maria ou mentruz, há quem não acredita,
mas dentro de um certo tempo, tinham fim os parasitas.Folha de beladona ou saião, quando aquecida, curava inflamação;
sua flor, linda e branquinha, deixava a pele lisinha.
Capim santo, erva cidreira ou chá de estrada,
com um chazinho a criança era acalmada.
Três voltas ao redor da casa, quando a criança nascia,
no colo da mãe ou das tias, evitava o mal de sete dias.
Folhinha de mamona novinha, com azeite aquecido,
cobria o enorme furúnculo, que não mais ficava doído.
Gripe forte? peito cheio? com emplastro de fubá cozido e quentinho,
respirava melhor o menininho.
Três galhinhos de arruda debaixo do travesseiro
levava embora o quebranto da criança linda e olhar matreiro
que, por causa do mal olhado,
havia chorado o dia inteiro.
Com folhas de fumo curtidas na água canforada
banhava-se o ferimento adquirido todo dia;picadas de insetos e arranhões
tinham sua assepsia.
Hortelã, poejo, marcelinha,
erva doce, quebra-pedra, manjericão,
arranha-gato, carqueja ou melissa
eram usados em banhos, macerados ou infusão.
É crendice, dizem alguns, bruxaria acham outros,
mas a mãe pobre sempre buscava solução.No seu quintal ou redondeza, nativas ou cultivadas,
achava ervas de montão.
Com fé sem perder a alegria,
via crescer sua cria.
Crescemos fortes e sem trauma,
com algumas cicatrizes.
Mas reverenciamos dona Pina
e bendizemos nossas raízes.
Momentos de felicidade
Texto de Marizilda Sartori
Felicidade?
Medi-la como?
Sem condições.
Apenas, descrevê-la.
É sentir logo de manhãzinha
o cheiro do café, do filaõzinho ainda quente,
o dia ensolarado,
a beleza das flores no quintal,
o canto dos pássaros.
É ser surpreendido pelo abraço
afetuoso do neto primogênito
desejando bom dia
e o despertar de mansinho
do caçula, ainda sonolento,
procurando aconchego.
Deparar, por vezes, com desenhos
pendurados na porta da geladeira
deixados pelos meninos
na noite anterior,
lembrando uma cortina colorida.
Momentos de felicidade?
Sim, existem.
As mãos
Texto de Letícia Brunelli
Mas, prefiro entre elas,
Gosto de olhar as mãos ...
Todas elas me fascinam,
porque todas sem distinção
fazem gestos que alucinam.
Há as que falam ...
e as que silenciam ...
Há as que rezam ...
e as que acariciam.
as mais ágeis e precisas;
as que por Deus abençoadas
fazem obras nesta vida.
São sempre silenciosas,
nunca cantam seus talentos,
e a cada tarefa feita
se tornam mais caprichosas.
Veja as mãos do lavrador,
com as sementes delicadas,
faz a cova, afofa a terra,
rega, aduba e faz as podas.
Tiras as pragas, arranca o mato
não sente do espinho a dor ...
nem o sol que lhe castiga,
só para acolher a flor !
Um lugar poético
Texto de Terezinha Cattai
Há um lugar, um pequeno comércio,
uma mini-mercearia,
Um lugar simples, comum
mas único no mundo
porque para mim é especial, é poético.
Cada dia é único
com pessoas diferentes
pessoas que vem todos os dias
pessoas que vem pela primeira vez
pessoas que vem uma única vez
pessoas conhecidas pelo nome ou apelido
pessoas conhecidas pela história
de vida, de muitos anos ...
Um lugar onde se vende: paes,
doces, balas, ovos, velas, canetas,
café, cartões e outras coisas.
Um lugar onde se encontra:
simpatia, alegria, amizades,
sorrisos, simplicidade, risos de
crianças, honestidade, confiança
dignidade, ética, respeito,
generosidade e amor ao próximo.
Um lugar onde se encontra
tudo o que não se compra
nem se vende,
por isso é valioso e único.
Esse lugar é poético,
Transcende o tempo, o espaço
que ocupa, o prédio com
os objetos.
Esse lugar me inspira o Bem,
alegra a minha vida, preenche
o meu coração com sua
Poesia tão simples, natural,
Verdadeira, delicada e bela.
Meu amanhecer
Texto de Maria do Carmo Messetti
Como é bom abrir a janela a sentir a brisa da manhã. Ao abrir contemplo o jardim que rodeia o apartamento.
Admiro as roseiras todas floridas, as orquídeas presas aos arbustos e várias plantas ornamentais.
Essa tranquilidade, essa contemplação me faz bem.
Ouço os pássaros voando de galho em galho, principalmente os beija-flores.
Para completar o dia, tenho um vizinho maravilhoso. É o Pedrinho, garotinho de três anos. Quase todas as manhãs , ele vai me dar bom dia e gosta de brincar com pregador de roupas, fazendo trenzinho. É uma graça.
Enquanto cuido dos afazeres ele se diverte com estes apetrechos e as vezes ele canta as músicas que aprendeu na escola.
Sou a “vó terceirizada” dele e assim ele me deixa as manhãs alegre.
Temos que agradecer a pureza da natureza e a o encanto de uma criança que me alegra.
domingo, 21 de agosto de 2011
Oficina Junho
Os textos que se seguem obedecem à proposta de resgatar aspectos da cidade de Rio Claro que estejam ligados a algum dos sentidos (ou todos) que formam o sistema sensorial. A cidade nos envia estímulos sensoriais o tempo todo, nós os percepcionamos, mas nem tudo permanece fixado na memória de curto ou longo prazo. Ao trabalharmos com a possibilidade de resgatar tais sensações, abre-se um espaço para amalgamar vivências pessoais ao espaço público. Nos exercícios de escrita, cada aluno trouxe um aspecto, subjetivo ou objetivo, atendendo à proposta.
Trocando New York por Rio Claro
Texto de Rosemarie Brunhild Grassmann Bóbbo
Vivendo em São Paulo, passando os fins de semana num belíssimo Clube de Campo, nossos três filhos em ótima escola e a firma de meu marido a cem metros do nosso apartamento, estávamos felizes ...
Vivendo em São Paulo, passando os fins de semana num belíssimo Clube de Campo, nossos três filhos em ótima escola e a firma de meu marido a cem metros do nosso apartamento, estávamos felizes ...
O prédio, no qual morávamos, situava-se na confluência da Av.Pacaembú com a Lavradio, dezenas de carros passavam por lá, noite e dia, muitos buzinaços e brecadas ... barulho cidadino ...mas, nada disso nos incomodava... Nossa AUDIÇÃO nada percebia !!! Meu marido, vez ou outra dizia: “se algum dia mudarmos de cidade, só poderá ser para new york ... “
Mas, a firma que tínhamos em Santa Gertrudes, repentinamente, precisou de nós ... E? ... Em 1974, nos mudamos para Rio Claro ...
Rua 3, silencio total á noite. Em vez de apartamento, bela casa térrea, jardim, pomarzinho ...
Mas ...apesar de os dormitórios se localizarem para trás, se algumas pessoas parassem perto da grade de nosso jardim da frente , conversando ... acordávamos !!!
Certa noite acordei com um barulhinho de ... tac... tac.. tac.. e alguém dizia números ... o que seria ??? A família do vizinho, jogando tômbola ... e o muro que separa as duas casas era muito alto ... o que faz a audição: o hábito de se ouvir barulhos desagradáveis , que não mais nos aborrecem nem nos acordam ... e, repentinamente, praticamente, sussurros, nos fazem sair do sono mais profundo !!!
Agora já nos sentimos verdadeiramente Rioclarenses... mas, o interessante é que em New York, quase todas as Avenidas e Ruas são numeradas como aqui em rio claro ...
Portanto ... mudamos pelo menos para uma cidade com a mesma organização urbana, de New York ... E, bem mais calma, apesar de não mais ter o silencio de 1974 ...
EM TEMPO: O sentido OUVIR , encontra-se 200 vezes na BÍBLIA SAGRADA.
Em TIAGO, diz DEUS o seguinte: “... TODO O HOMEM, POIS, ESTEJA PRONTO PARA OUVIR, TARDIO PARA FALAR, TARDIO PARA SE IRAR." E em JOÃO, lê-se: “E, É ESTA A CONFIANÇA QUE TEMOS PARA COM ELE, QUE, SE PEDIRMOS ALGUMA COISA, SEGUNDO A SUA VONTADE, ELE NOS OUVE !!!”
Interpretação Sensorial de Rio Claro
Sabedoria (poema de Letícia D. Brunelli)
I
Uma noite eu caminhava numa rua,
sózinha, eu e a noite.Como uma pulseira de brilhantes aberta,
as lâmpadas dos postes brilhavam em cadeia.
Aqui o fecho, lá longe o gancho.
Eram todas irmãs de mãos entrelaçadas
numa roda de ciranda
partida.
Aqui a mestra, lá longe a última discípula.
Pareciam unidas numa linha contínua de luz
Ilusão.
Mentira.
Eram solitárias, egoístas.
Partículas isoladas
que para um observador incauto
tinham o esplendor da unidade.
II
Uma noite, eu caminhava numa rua,
sozinha, eu e a noite.Como uma pulseira de berloques enferrujada,
os objetos no chão, em frente de uma cooperativa
se dispunham em cadeia.
Guardavam lugar para o dia seguinte.
Eram latas, sacolas, litros, embrulhos.
Era a fome de mãos dadas com a esperança.
Cada objeto, uma pessoa...
Cada pessoa, uma família...
Realidade.
Verdade.
Estavam unidas numa mesma necessidade.
Partilhavam de uma desgraça comum.
Corpos de estranhas formas
que para um observador displicente
Não passavam de bugigangas.
III
Uma noite, eu caminhava numa rua,sozinha, eu e a noite.
O sonho me desenganou,
me atraiçoou
usou fraude para me cativar.
E eu desiludida deparei
com um quadro humanizado,
menos exuberante, mas muito mais belo.
Tinha unidade.
Grandiosa ligação entre seus míseros elementos.
EPÍLOGO
Oh! luzes dos postes, como sois vazias
e enganadoras no vosso brilho.Que diferença entre vossa falsa união
e a solidariedade que emana desses
pequenos objetos sem luz e sem cor.
(pois, nem ao menos são iluminados por vós)
Nunca podereis ter a unidade ,
e encerrar o amor que a miséria possui
no simples gesto de dizer com humildade :
- Eu me coloco ao lado do meu irmão.
Uma noite, eu caminhava numa rua,
sozinha, eu e a noite.Vi as luzes.
Continuei só.
Vi a miséria.
integrei-me no amplexo do universo.
A noite continuou solitária,
com suas lâmpadas tentando cobrir as trevas.
Eu continuei, lado a lado,
com a humanidade.
NOTA:- Morei de 1964-1967, na Casa de Nossa Senhora, pensionato para moças, situado na Av.14 Rua 2, durante o período em que cursei História Natural, na antiga FAFI – Rio Claro. A cooperativa citada (Cooperativa dos Funcionários da FEPASA), ficava na Av. 14 com Rua 3.
Essa composição foi dedicada a minha avó Ana, e ela escolheu “o nome” para o texto.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Praça XV de Novembro
Texto de D. Mariângela J.P. Gomes
Coreto da Praça XV de Novembro, Rio Claro/SP |
Rio Claro, Terra dos Indaiás, Cidade Azul, que viu nascer minha família.
Suas ruas centrais calçadas com paralelepípedos, ao passar do tempo revestiram-se de asfalto.
Meu jardim público, meu bosque encantado, localizado na Praça 15 de Novembro, entre ruas três e quatro e avenidas dois e três. Árvores frondosas oferecendo sombras aprazíveis, ar puro e perfumes suaves à adultos e crianças que deliciam-se com seu encanto e beleza.
Tenho oito anos, descalça percorro este espaço mágico sentindo o frescor desse ar delicioso subindo nos meus pezinhos. Meus sapatinhos? Deixei-os debaixo do banco defronte ao coreto, onde aos domingos ouvimos à noite a retreta pelos músicos da banda.Como é bonito! Adoro ver e ouvir os músicos tocando.
Continuo caminhando a procura de folhas que caem dos galhos das árvores. Encontro muitas, cada uma com sua cor e formato que lhe é peculiar. Já tenho o suficiente, os palitos também para uni-las. Tudo preparado.
Oba, que bom! Minha amiguinha Wilma chegou, vamos aprontar nossas fantasias de índio! De tanga e cocar, adentramos à floresta, batendo com a mão na boca emitindo ah ...ah ...ah...fazendo o maior ruído, vamos correndo na maior euforia.
Agora somos índios! Tupi - Guarani? Pode ser! A correria continua : ah...ah...ah...
Paramos algumas vezes debaixo de árvores gigantescas, nos sentindo pequeninas. De repente, vemos um enorme pé de Jatobá e no chão, alguns deles. O perfume é irresistível. Catamos todos. Não dá para esperar: com uma pedra meio grande vamos batendo até abri-los. Pronto. Sentadas no chão, nos deliciamos saboreando-os ali mesmo.
A brincadeira continua, só termina quando somos chamadas para voltar para casa.
O tempo passou muito depressa, mas nunca esqueci do meu majestoso jardim público, onde podíamos brincar e passear com nossos familiares com tranqüilidade; dos lindos tanques, da gruta, do índio com sua fonte luminosa, dos bustos de personalidades importantes que contribuíram com nosso progresso, do roseiral suspenso que havia pelos lados da avenida três, do caramanchão “ Caminho da Felicidade” na rua quatro...
E o nosso Anjo da Concórdia? Que lindo! Hoje encarcerado entre grades. Que pena!
Nosso jardim passou por grandes transformações. Continua sendo ponto de referência, nosso cartão postal. Um patrimônio maravilhoso que Deus plantou nesta nossa querida e abençoada Cidade Azul!
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