Texto de Geni Bizzo
Saudade imensa...
Onde anda você? Em vão a procuro nas minhas incansáveis rondas pela cidade grande, caminhando por entre os archotes modorrentos na fria madrugada do outono que se prolonga.
O pisca-pisca do neon embaralha minha visão, cansada das noites insones. Percorro as ruas e becos que não dormem... Observo olhares ainda cheios de malícia e de desejo, na maquiagem exageradamente carregada das mulheres que terminam seus turnos. Vejo homens, paletós nos braços, com o cigarro entre os dedos amarelados pela nicotina que impregna a pele; mais adiante encontro o transformista que, vencido pelo cansaço da noite longa e exaustiva, vai-se desfazendo da montaria antes mesmo de chegar ao carro... Mas nada, nem sombra de sua silhueta, aquela que trago na lembrança e que teima em me torturar.
E eu continuo na maratona incansável à sua procura. Nos caminhos e descaminhos enfileiram-se arranha-céus e mansões com jardins bem cuidados, contrastando com favelas superpovoadas, a exibir a miséria colorida. O vaivém das deselegantes meninas e madames com trajes impecáveis, trânsito desordenado, ambulantes que gritam os seus produtos, pobres miseráveis mendigando pão, nada me é indiferente. Resta a esperança, que insiste em não morrer. Quem sabe em algum olhar a encontro.
Não a vejo nem mesmo nas choupanas distantes, onde pequerruchos seminus e barrigudinhos, donzelas de olhos brilhantes e já cheios de malícia, homens e mulheres nas portas com seus radinhos de pilha influenciados pelos efeitos da globalização vivem suas miseráveis vidas... Inútil. Não poderia encontrá-la logo ali, onde a beleza da paisagem é sufocada pela ambição do ser humano.
Vencida pelo cansaço e pelo sono, sonho com o tempo em que compartilhávamos nossas fantasias. Saudade. — Você se lembra das nossas caminhadas pelo milharal dourado, do perfume doce das espigas maduras? E das trepadeiras de buchas, matérias- primas para nossos exércitos na luta contra o mal, você na garupa do alazão que eu cuidadosamente fizera para nossos longos passeios?
Não... Você não pode ter-se esquecido do clarão da lua cheia – Dama da Noite –, quando observávamos o bailado das estrelas cadentes, nem do grande queijo comido pelo ratão do banhado, no quarto minguante. Impossível esquecer os dias quentes e ensolarados, quando nuvens de algodão, em seus movimentos constantes, formavam lindos castelos onde iríamos morar um dia? Como não lembrar-se das viagens à praia e de nossos folguedos, rolando sem censura na areia beijada pelas rendas de espuma da água fria a sufocar nossos desejos?
Lembra-se?
Ah! Onde foi que nos perdemos? Onde anda você, INOCÊNCIA?
Volta para mim. Volta para esta alma indefesa e frágil, que sofre com sua ausência diante deste conturbado mundo.
Faça-me voltar ao tempo em que andávamos juntas...
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