Em uma fria manhã do mês de junho de 1958, chovia levemente na “Terra da Garoa”. Com muita tristeza eu, meu esposo, minha filha de oito meses e meus pais deixamos São Paulo.
Mas havia um pormenor que compensava essa melancolia; iríamos iniciar uma nova vida, com novos empregos. Fomos contratados, eu e meu esposo para trabalharmos na Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras de Rio Claro,SP, que estava iniciando suas atividades.
Viajamos de trem da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, vagão pulman, muito confortável. Desembarcamos na estação de Rio Claro. Trouxemos apenas algumas malas, os outros pertences deveriam chegar com a mudança que seria descarregada na Avenida 5 com a Rua 4, em nossa futura casa, antiga, mas acolhedora, alugada com bastante antecedência, para ser pintada e limpa. As ruas não tinham nome, eram numeradas, achei muito interessante.
Tarde agradável, temperatura amena; tiramos nossos agasalhos. Clima tão diferente de São Paulo ... Rio Claro nos recepcionou bem. À primeira vista tivemos boa impressão. Notei que as ruas e avenidas eram limpas e sem buracos, belos jardins, lindas praças.
No dia seguinte acordamos cedo, com o apito do trem chegando na Estação; apesar do cansaço da viagem e de algumas arrumações necessárias para nos acomodarmos, tivemos que nos levantar.
Estávamos todos ansiosos para conhecer com maiores detalhes a vida desta cidade interiorana.
Meu pai, idoso, muito metódico, acordou mais cedo do que os demais. Aprontou-se: terno, gravata e chapéu, como de costume e saiu para comprar pão e leite na padaria, próxima de nossa residência.
Um pouco mais tarde deixando a nenê com minha mãe, sai para fazer algumas comprinhas.
Caminhando vagarosamente, reparando nos números das ruas e avenidas, pois não conhecia a cidade, me informando onde ficava a quitanda e açougue, olhei distraídamente para o céu, me chamou a atenção, estava completamente azul, puríssimo, sem nuvens, de um belíssimo azul, como o manto de Maria, me emocionou.
Chegando em casa, comentei com meu pai, ele como sempre tinha uma história para me contar.
- Minha filha, perto do jardim público, aliás, muito bonito, tinha uma banca de jornal e conversando sobre Rio Claro, o jornaleiro me informou que a cidade se chama Rio Claro “Cidade Azul”. Gostei da explicação. Estou aprendendo.
Satisfeita com a explicação de meu pai, volto a narrar o que me chamou a atenção também:
Dois apitos que soam diáriamente muito fortes em horas certas, de doer os tímpanos. Depois fiquei sabendo que eram da Cervejaria Caracu.
Ouve-se também o sino da Igreja Matriz, na Praça da Liberdade, repicando alegremente, chamando os fiéis para as missas dominicais.
Outros sons que ouvimos de minha casa, eram os acordes das orquestras que abrilhantavam os bailes da S ociedade Filarmonica Rioclarense aos sábados e também os sons dos bailes carnavalescos daquele clube.
Hoje, passados os anos, já não se ouvem mais alguns destes sons mencionados nesta narrativa. Eles me fizeram esquecer o borburinho da capital paulistana e eu me tornei uma Rioclarense, “Graças a Deus.”
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