Texto de Hedi Duarte
Foto feita pela autora do texto
Eu não sei desde quando este crucifixo faz parte de nossa família, mas sei que quando eu nasci, ele já estava entre nos..........e quando pedíamos proteção a Ele nas horas difíceis, sempre fomos atendidos !
Quero relembrar momentos importantes da presença simbólica desta cruz entre nos.
Nasci em Berlin, capital da Alemanha, onde passamos toda 2. guerra mundial. Os bombardeios foram intensos, o medo de morrer constante. Eramos católicos, mas nem sempre frequentavamos a missa aos domingos, porem na “Missa do Galo” do Natal e na “Missa de Pascoa “ nunca faltavamos.
Lembro-me quando as sirenes tocavam para anunciar outro ataque aéreo, princi-palmente durante a noite, minha mãe me agasalhava, muitas vezes dormindo, e papai ainda me enrolava junto com o crucifixo, em meu edredom. Só com os documentos pessoais no bolso do paletó e comigo no colo, junto a figura de Jesus Cristo, meus pais corriam para o “Bunker”, um abrigo subterrâneo durante os bombardeios.
Alguns dias antes do fim da guerra papai resolveu escapar do comunismo que se aproximava e fugimos de nossa casa, deixando tudo para traz,saimos apenas com uma pequena valise de mão, trazendo algumas roupas e o crucifixo com Cristo. Não havia mais nenhum meio de transporte e assim andamos durante 3 semanas por estradas e caminhos para bem longe da cortina de ferro. As vezes uma fruta, um pedaço de pão e um copo de leite, ganhos de algum agricultor que encontramos no percurso, era nossa alimentação. Com sorte, as vezes conseguíamos permissão para dormir dentro do estabulo, junto a cavalos e vacas, em cima de um monte de feno.
Nestes tempos tão difíceis, muitas e muitas vezes eu observei meu pai em oração e discretamente com a mão na valise, eu acho que ele pedia orientação e animo para Jesus. Finalmente instalamo-nos em outra cidade e tudo se normalizou aos poucos.
Alguns anos depois viemos para o Brasil.
Novamente deixamos tudo para traz , menos o crucifixo, só que desta vez em clima de paz, Graças a Deus. Como imigração não é turismo, havia também limitações para bagagens. Minha mãe apenas trouxe um prato e um talher para cada e uma manteigueira como lembrança, além das roupas, também a maquina de costura, o meu violino e a harmonica.
O reinício em terra desconhecida também não foi facil. Meus pais já tinham idade avançada, mas nunca ouvi uma palavra de desanimo, ao contrario, gratidão por ter encontrado um canto na terra onde reina paz, brilha sempre o sol e termos frutas e alimentos frescos o ano todo.
O crucifixo de Cristo era sempre destaque na sala e parece que emanava paz, união e alegria.
Casei-me, o crucifixo voltou para meu lar após o falecimento de meu pai, pois minha mãe veio morar comigo.
Nas horas mais pesadas, quando eu já não tinha mamãe, perdi meu neto, meu filho , e após mais 3 anos, meu marido também. Tenho certeza que foi a presença do crucifixo com Cristo que me impulsionou para longe da depressão. Hoje eu considero este “Jesus na Cruz” o meu verdadeiro amuleto.
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