Texto de Lícia Mônaco Perin
Tomo nas mãos a grande caneca de plástico para chopp.Giro-a da direita para a esquerda até poder distinguir plenamente as personagens que fazem parte da foto nela inserida. Vejo tudo meio esmaecido. Afinal, ela já alcançou 41 anos e completa mais um no próximo mês de junho, aniversário de nossa cidade. Observo cada uma das figuras: minha filha Ângela, encabulada nos seus 11 anos; Silvinha, mais á vontade, deliciando-se com toda festividade que presenciara; Fábio, nos seus 4 aninhos, refestelado no colo do pai. Também eu, vivendo um momento de alegria. Para o Prefeito Perin , uma pausa feliz com o marco que conseguira ao cumprir o compromisso assumido consigo mesmo de realizar um velho sonho da população de Rio Claro: o término, no primeiro ano de seu governo, do prédio da nossa Prefeitura, então chamado “Palácio de Granito” , no primeiro ano de seu mandato. Lindo, completo, perfeito em cada detalhe.
A cerimônia da entrega do prédio havia terminado. A população que ocorrera ao evento já se fora: D.Lúzia e Dr.Schmidt, convidados especiais, autoridades, amigos, imprensa. A corporação musical que cessara sua apresentação e que havia enchido o ar com belos eflúvios, já marchava ao longe.
Num momento mais tranqüilo, um amigo retardatário pediu-nos uma pose para uma foto. Dias após, enviou-nos a caneca, onde inserira a foto, produto de sua fabricação.
Estávamos no Gabinete do Prefeito. Tudo aí era novinho e belo. Na mesa de trabalho havia um botão de rosa, colhido no Jardim Público defronte ao prédio inaugurado. Era uma solicitação minha ao inigualável jardineiro chefe Miguel Felipe, que houvesse sempre uma flor no “solitário” que eu dera ao meu marido.
Na sala de reuniões,contígua ao lugar dessa foto, havia uma enorme mesa feita de uma tábua inteiriça, de jacarandá, vinda da Bahia. Nas paredes, quadros de artistas rioclarenses , onde se sobressaia o do renomado pintor Nicola Peti sobre a fundação de Rio Claro. No chão um carpete muito fofo onde o Fabinho aproveitava para virar cambalhotas (quando não havia ninguém por perto, principalmente o pai... )
Revendo a foto incrustada na caneca passam pela minha cabeça os 4 anos de doação de meu marido e de nós, sua família, á nossa cidade.A exclamação da Ângela numa entrevista a um jornal :”eu cresci e meu pai não viu !” retrata bem o desenrolar dessa fase de nossas vidas nesses anos ! Hoje, paro e reflito: valeu a pena? [Leio em jornais, notícias de políticos de hoje que pensam barganhar o primeiro andar do prédio do Paço Municipal, com os 4 milhões de reais que acumularam]. (Será que os 30 dinheiros de prata inflacionaram tanto?). Será que esse sonho da população que custou tanto empenho de dois prefeitos , não merece um momento de reflexão dos que deveriam zelar pelo patrimônio e história da cidade que representam?
Cortam-se árvores símbolos, perdem-se prédios que fazem parte da história do município, não se reverencia o passado da cidade ... E agora, culminam por desejarem transportar o gabinete do Prefeito e todo seu “staffe” para um barracão deixado pela administração da CESP, querendo acabar de vez com a dignidade que deve estar implícita no cargo máximo de quem dirige uma cidade.
Um homem tem o tamanho de seus sonhos que transforma em realidade. Feliz de quem pôde ver por inteiro o sonho dos Prefeitos Perin e Schmidt
Se nada mais restar, ficará a foto despretenciosa mas que marca um momento de grandeza de homens capazes!
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