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Uma grande vitória poder divulgar o nosso projeto!
A OFICINA DE LEITURA E CRIAÇÃO LITERÁRIA
3A. IDADE CLARETIANAS FOI UM DOS PROJETOS SELECIONADOS PARA APRESENTAÇÃO NO III FÓRUM DO PLANO NACIONAL DO LIVRO E DA LEITURA E NO III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS, EM AGOSTO DE 2010.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Campinas, 27 de maio de 1968

Letícia Delben Brunelli

Obs. Ao realizar o exercício, Letícia lembrou-se desse poema, escrito em 1968, e que guarda relação com o tema da oficina. Assim, publicamos os dois textos, pois como afirma a nossa aluna: "Se esta simples observação, não fosse relatada num poema, com certeza, teria se perdido e nunca se transformaria numa lembrança."


(Seis horas da tarde. Centro da cidade. Espero o bonde, que me levará para casa. Gente que passa conversando ou pensando em si mesma.O barulho ensurdecedor dos pássaros numa imensa árvore da praça. Eu, sozinha, observando os homens e os pássaros ...)

Será que estão ouvindo?

Nem ao menos levantam os olhos,

Pregados que estão no solo.

Ouvidos fechados

De seus egos, trancados!

Passos rápidos

Que levam aos mesmos lugares,

Pelos mesmos caminhos.

Sensibilidades narcotizadas pela rotina.

Ninguém parece notar

voltam-se para a poeira do chão

mesquinha e passam indiferentes.

Será que estão ouvindo?

Nem ao menos levantam os olhos!

Não existe nem vento, nem brisa.

O ar não ousa perturbar a sinfonia.

Mas tudo se movimenta

São as folhas que tremulam

Ou são os pássaros que saltitam ?

Não sei dizer.

Pode ser que cada folha se torne um diapasão

que vibra e chora neste entardecer tão lindo.

E ninguém pode me dizer porque essas aves cantam .

Ninguém . Todos estão ausentes.

Será que os pássaros querem despertar os homens,

para o tempo que passa,

ou para obrigá-los a olhar o céu ?

Cada pássaro se tornou um beija flor.

Cada pássaro se tornou um colibri.

Porque isto tudo?

Ninguém vê.

Ninguém pergunta, porque?

Será que estão ouvindo?

Nem ao menos levantam os olhos!




Agora, o texto do exercício atual:

A menina curiosa


Eu me lembro ... de um susto, de uma dor, de uma cena apenas.


Mas agora, pensando melhor, posso imaginá-la por completo!

Eu, menina, lá com meus nove anos, morava ao lado dos meus avós.

Meu avó Artur era alfaiate e em um dos aposentos da casa, trabalhava entre moldes, tecidos e tesouras.

Mas o que mais me deslumbrava, eram as máquinas de costura. A dele, a mais robusta e a mais dotada de recuros, ficava no centro da sala. Num dos cantos, a outra, mais simples, mas não menos atraente, era de minha avó.

Eu passava os dias na casa da minha avó. Minhas tias e meu tio, irmãos de minha mãe , eram ainda solteiros. Lá, eu reinava, paparicada por todos. Porém, a sala de costura me era vedada.

Um dia, consegui ! Me vi sozinha lá dentro, entre tantas tentações. Uma das máquinas, da minha avó, talvez, estava montada, com a linha entrepassada, prontinha para ser usada.. Peguei um retalho, sentei na cadeira, coloquei o pedaço de tecido sob o pé calcador, abaixei a alavanca. Pronto ... agora era só colocar os pés no pedal e realizar meu sonho : costurar !

É lógico que esta tarefa deveria requerer experiência. Era preciso, ao mesmo tempo, movimentar os pés para colocar a máquina em movimento e segurar o tecido, para direcioná-lo.

Meus pés começaram tímidamente se movimentar sobre o pedal. A medida que eu ia aumentando a velocidade, o tecido corria apressado, puxando para trás, pela chapa de dentes sob o pé calcador. Então, o imprevisto !

Minha mão direita foi puxada junto com o tecido e meu dedo central foi transpassado pela agulha, que ficou fincada no meio da unha.

Com o horror da cena, meus pés se paralizaram e lá fiquei presa, como um animal na armadilha.

Todos vieram correndo, atraídos pelos meus gritos . Minha avó, deve ter sido ela, retirou minha mão das garras do monstro.

Além do susto, da dor momentânea e da vergonha de ter sido pega em fragante, pouco sangue foi derramado.

Acho que chorei muito para condoer o coração de minha vovozinha, que só fez colocar meu dedo dentro de uma xícara de café, cheia de álcool, pois nada poderia ter sido feito além disso.

Essa a pequena estória que fui buscar nas lembranças de minha infância!

Como disse, Heluane de Souza, em um de seus artigos:

“As lembranças , por diversas vezes, reivindicam-nos vida, contornos, cores, que transformem em imagens o que na mente é história ...”

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