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A OFICINA DE LEITURA E CRIAÇÃO LITERÁRIA
3A. IDADE CLARETIANAS FOI UM DOS PROJETOS SELECIONADOS PARA APRESENTAÇÃO NO III FÓRUM DO PLANO NACIONAL DO LIVRO E DA LEITURA E NO III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS, EM AGOSTO DE 2010.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quando doer, diga eu te amo...

Maria Inês Dominiquini


Você se lembra da sua infância, quando caia e se machucava ? Lembra do que sua mãe fazia para acalmar a dor?


Eu me lembro muito bem o que minha avó a nona Ernesta fazia. Levava-me no colo até sua cama e beijava o machucado Então, ela se sentava ao meu lado, pegava minha mão e falava : - Quando doer, aperte minha mão e eu vou dizer : “Eu te amo”

Era sempre assim, eu apertava sua mão e sem falhar uma vez ouvia as palavras : “querida, eu te amo”.

Ás vezes eu fingia ter me machucado, só para passar por este ritual com ela. A medida que fui crescendo, o ritual mudou , mas minha avó sempre encontrava um modo de diminuir a dor e aumentar a alegria, em qualquer área de minha vida.

Numa época difícil, durante o segundo grau, ela tinha sempre os meus chocolates preferidos, quando eu chegava em casa.

Lá pelos meus vinte e poucos anos, vovó muitas vezes me telefonava num fim de tarde, convidando-me para vermos o pôr do sol ou o nascer da lua. Deixava bilhetinhos amorosos sobre meu travesseiro, quando chegava tarde em casa e quando fui morar sozinha, mandava-me docinhos caseiros, agradecendo as visitas que eu lhe fazia.

Mas, minha melhor lembrança, continuava sendo ela segurando minha mão quando eu era pequena e dizendo: “ Quando doer, aperte minha mão e eu vou lhe dizer: Eu te amo!”

Eu já tinha trinta e tantos anos, quando meu pai telefonou para o meu trabalho. Era um homem seguro e lúcido, mas a voz soava confusa e amedrontada.

- Filha, há algo errado com sua avó. Já chamei o médico, mas por favor, venha logo que puder.

Quando cheguei , papai andava de um lado para o outro na sala e vovó deitada no quarto , olhos fechados e as mãos sobre o peito. Chamei por ela tentando manter a voz a mais calma possível.

- Vovó, estou aqui.

- Querida, é você, ela balbuciou.

- Sim, vovó, sou eu.

Eu não estava preparada para a próxima pergunta e quando a ouvi, congelei, sem saber o que responder.

- Querida, eu vou morrer?

Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto olhava minha avó querida ali, deitada, tão desamparada.

Ao tentar descobrir o que responder, pensei : - o que vovó diria num momento desses? Hesitei por um instante, esperando que as palavras viessem.

- Vovó, não sei se você vai morrer, mas fique tranqüila, tudo acabará bem.Apertei sua mão. “Eu te amo”.

- Ela gemeu: - Querida, sinto tanta dor.

Mais uma vez fiquei sem saber o que falar. Sentei ao seu lado na cama e me ouvi dizendo: - Vovó, quando doer, aperte minha mão e vou te dizer : “eu te amo”.

Ela apertou minha mão: - Vovó eu te amo.

Esta cena se repetiu muitas vezes, até a sua morte.

Nós nunca sabemos quando virão os momentos em que seremos testados. Mas, sei que , quando chegarem, com quem quer que eu esteja, oferecerei o ritual de amor de minha avó.

- Quando doer, aperte a minha mão e eu vou dizer: “eu te amo” !

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