Lícia Monaco Perin
Nossa vida é estranha. Vai passando mansa e serena. Parece um rio que, distraído, corre manso sem pedras ou enroscos que prejudiquem ou consigam mudar seu curso... Porém, de repente, um fato qualquer ocorre e altera nossa mansa vidinha, ás vezes, pelo resto de nossa existência...
Quando eu tinha uns 15 anos e estava na 4. série ginasial do Ribeiro, jogava basquete e vôlei para meu colégio. Estava em Araraquara disputando um torneio regional e nossos times alcançaram o primeiro lugar, conquistando medalhas alusivas ao evento. Nessa ocasião eu não me interessava por bailes e nem sabia dançar. Por ser a capitã de ambas as modalidades esportivas, precisei ir a uma “brincadeira dançante” para receber as medalhas. Um jovem professor de Araraquara me convidou para dançar, não aceitando minha objeção de que não sabia dançar. Depois disso, tomei gosto pela dança e passei a freqüentar matines dançante.
Meus pais se preocupavam muito com o fato de eu querer “abraçar o mundo”. Vivia cheia de atividades : a escola, o basquete, o volei, piscina e agora a dança. Liberais, permitiam que eu freqüentasse as tardes dançantes de domingo no Gremio Recreativo, onde eu já treinava basquete e vôlei pela manhã ( das 7h ás 12 h.).
Morando próxima á Estação Ferroviária subia a pé duas vezes o Morro da Sta.. Cruz. Meus pais só não queriam que eu fosse á domingueira do Ge Ge, depois da sessão das 19h30 min. do Cine Excelsior, para começar melhor a semana.
Mas, um domingo após a sessão cinematográfica, resolvi acompanhar minhas amigas mais velhas e lá fui eu. Minha consciência me dizia que isso não era correto, que eu estava burlando a liberdade recebida., enganando meus pais. Fui.Porém não conseguia acalmar meu íntimo. Não me lembro das músicas que ouvi, do que falavam comigo, do que vi ao meu redor... Estava me sentindo um trapo ...
Nem uma hora se passara , quando no salão de baile, apareceu minha irmã Célia,acompanhada do René, seu futuro marido.
- “O papai mandou buscar você! ”.
Despedi-me das amigas e saímos rumo de casa. Não conseguia dizer uma palavra.Não percebi a rua deserta, a iluminação fraca, a lua que espargia sua luz jogando nossas sombras pelas paredes ... O senso de culpa tomou conta de mim ... Eu me perguntava: “Como pude fazer isso? Como pude trair a confiança de meus pais? O que me espera?”. A rua 2 até a av. 6 n.39, nunca foi tão longa!
Meu pai me esperava no terraço de casa. Ao me ver, com voz contida e baixa de sempre ele me disse: -“Nunca mais faça isso. Agora vá dormir !”
Chorei, arrependida no escuro de meu quarto. Foi a melhor lição de respeito de um pai para com o erro de seu filho. Agradeci a Deus o pai que me dera e o amei muito mais depois disso..
Esse fato marcou minha vida para sempre. Nesse dia aprendi o valor da palavra empenhada e da lealdade. É porisso que eu me lembro ...
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